quinta-feira, 12 de julho de 2018

Akira Kurosawa

Akira Kurosawa - Poster / Capa / Cartaz - Oficial 1Akira Kurosawa - Poster / Capa / Cartaz - Oficial 2Akira Kurosawa - Poster / Capa / Cartaz - Oficial 3Nascimento: 23 de Março de 1910 (88 years)
Falecimento: 6 de Setembro de 1998
Tóquio - Japão
Copiado e reinterpretado por centenas de diretores americanos e europeus, a obra de Kurosawa introduziu no cinema a temática “chambara” e foi marcada pela transição “wipe” (que posteriormente seria popularizada pelo Star Wars), pelas composições inspiradas na pintura, pelas histórias inspiradas na literatura, e por sequências de ação revolucionárias. É o cineasta japonês mais conhecido no Ocidente, fato que lhe causou alguns problemas, pois muitos japoneses o achavam "ocidentalizado" demais e em contra partida foi quem ajudo a popularizar o cinema em seu país.
Sua influência sobre outros diretores de cinema é enorme. Ele produziu 35 boas obras cinematográficas ao longo de cinco décadas de trabalho - de 1943 a 1993. Vários dos seus filmes são adaptações diretas de obras de William Shakespeare e Fiódor Dostoievsky, mas ele também foi influenciado por Leon Tolstoi, Máximo Gorki e outros grandes escritores. Apesar desse diálogo amplo com a literatura mundial, Kurosawa tem uma voz extremamente própria. Mestre da compaixão e da fraternidade sem fronteiras, sua obra é ao mesmo tempo profundamente japonesa e zen-budista. Dono de uma visão universal e essencialmente teosófica, ele resgata a tradição dos samurais. Marcado pelas tradições do Oriente, ele reflete sobre a dor humana, a primeira nobre verdade de Gautama Buddha, enquanto luta pela ética e pela justiça nas relações sociais. A natureza, e a sua preservação, são outra constante em sua obra.
É desnecessário dizer da beleza visual dos filmes de Kurosawa. Em filmes preto-e-branco ou coloridos, ele foi um mestre e um gênio das artes visuais. Seus retratos dinâmicos da paisagem natural são únicos e têm um forte valor espiritual e meditativo. Por isso os diálogos em seus filmes podem ser calmos, lentos e reflexivos.
Esta percepção profunda sobre a conduta humana possibilitou ao diretor criar obras em que a personalidade de seus personagens é carregada de alta densidade e complexidade psicológica, que se diferenciam de posições moralizantes com relação às condutas humanas, mas também de uma visão romântica e empobrecida do humano. Poucos souberam lidar com a alma humana como Kurosawa, ao seu lado apenas Fiódor Dostoiévski e Anton Tchekhov.
Não é atoa que ele conseguiu conquistar fãs de peso como George Lucas, Francis Ford Coppola, Sergio Leone, Martin Scorsese, Steven Spielberg...
Akira foi o oitavo e último filho de uma família de classe média de Tóquio. Estudante de artes plásticas, teve forte influência do irmão Heigo no gosto pelo cinema – ele era narrador de filmes mudos no começo do século, mas com o advento dos filme sonoros, ficou desempregado e se suicidou.
Em 1935, Akira ingressou profissionalmente no cinema. Três anos depois, se tornou assistente de direção.
Sua estreia como diretor aconteceu em 1943, com o filme “A Saga do Judô/Sugata Sanshirô”. Na época, foi considerado pela censura do governo fascista “muito britânico-americano”. Mas cortando 18 minutos, ele pôde ser lançado. O trecho do filme cortado da edição original jamais foi encontrado novamente. Em 1944, enquanto estava filmando ''A mais bela/Ichiban utsukushiku'', a atriz que interpretava o papel de líder das operárias da fábrica, Yoko Yaguchi, foi escolhida pelas suas colegas para apresentar suas demandas ao diretor. Ela e Kurosawa estavam constantemente em conflito, e apesar disso, os dois, paradoxalmente, tornaram-se íntimos. Eles se casaram em 21 de maio de 1945, com Yaguchi aos dois meses de gravidez (ela nunca mais retomou sua carreira de atriz), e o casal permaneceria junto até sua morte em 1985. Eles teriam dois filhos: um menino, Hisao, nascido em 20 de dezembro de 1945, que trabalharia como produtor de alguns dos últimos projetos de seu pai, e Kazuko, nascida em 29 de abril de 1954, que se tornaria uma estilista. Algumas dos planos de fundos do filme são valiosos por mostrar as condições do Japão no período de guerra. A história de Kurosawa também mostra a aproximação japonesa na gerência das questões de qualidade e produtividade de um ponto de vista científico. Aponta uma visão reveladora do gerenciamento científico e promove a motivação dos trabalhadores por fatores que não são visões negativas dos europeus e americanos, mas o desejo de encarar os desafios como indivíduos, trabalhadores e cidadãos. O filme americano ''Almas em Chamas'', com Gregory Peck, foi diretamente influenciado por este docudrama de Kurosawa.
Em 1945, após fazer a contragosto um filme de propaganda do governo, Kurosawa começou a filmar um trabalho que, durante sua produção, era visto como “muito ocidental” pela censura japonesa. Ironicamente, quando o filme ficou pronto, o Japão já havia se rendido e a ocupação americana. Os censores americanos proibiram seu lançamento por ser japonês de mais.
Sua primeira obra-prima é ''O anjo embriagado/Yoidore tenshi'', em que Kurosawa considera este como sendo o primeiro filme que pode dirigir sem a interferência do governo. O filme exibiu às plateias japoneses o desagradável submundo da sociedade japonesa pela primeira vez. Também foi incomum para a época porque o protagonista era um anti-herói. O filme estreou em Tóquio em abril de 1948 aclamado pela crítica e foi escolhido pelo grupo de críticos da prestigiosa Kinema Junpo como o melhor filme do ano, o primeiro dos três filmes de Kurosawa a receber essa honra.
Com o fim da guerra, Kurosawa lançou,“Cão Danado” (é um filme de detetive ''talvez o primeiro filme japonês importante desse gênero'' que explora o ambiente do Japão durante a recuperação dolorosa do pós-guerra através da história de um jovem detetive, interpretado por Mifune, e sua obsessão por sua pistola, roubada por um jovem pobre que a usa para roubar e matar.), que mostra o Japão durante a dura recuperação no pós-guerra.
Em 1950, Kurosawa lançou “Rashomon”, que acabaria ganhando o Leão de Ouro, prêmio mais alto do Festival de Veneza e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, além de mais duas indicações ao prêmio. O filme tem uma narrativa bastante diferente para os padrões da época, e sugere que não há verdade absoluta sobre um evento quando dois personagens têm pontos de vistas diferentes, ao mesmo tempo introduziu o ator Toshiro Mifune aos espectadores ocidentais (sua primeira colaboração com Mifune ocorrera três anos antes, com Yoidore Tenshi (O Anjo Embrigado) e ambos fariam mais 16 filmes juntos nas próximas décadas,o ator seguiria carreira em Hollywood com sucesso). O filme tem uma estrutura de narrativa não-convencional que sugere a impossibilidade de obter a verdade sobre um evento quando há conflitos de pontos de vista. Tanto no inglês como em outras línguas, "Rashomon" se tornou um provérbio para qualquer situação na qual a veracidade de um evento é difícil de ser verificada devido a julgamentos conflitantes de diferentes testemunhas. Na psicologia, o filme emprestou seu nome ao chamado "Efeito Rashomon".
Aí, então, o filme acabaria sendo distribuído nos EUA e o diretor estaria lançado para o mundo. Com isso, Kurosawa voltou ao estúdio onde começou a trabalhar, e ali faria seus próximos 11 filmes. Neste momento, as produções do diretor seriam cada vez mais populares e teriam mais e mais dinheiro disponíveis.
O próximo filme de Kurosawa, produzido para a Shochiku, foi Hakuchi (O Idiota), de 1951, uma adaptação do romance do escritor favorito do diretor, Fiódor Dostoiévski. O cineasta mudou o local da história da Rússia para Hokkaido, mas apesar disso, é muito fiel à versão original, fato visto por muitos críticos como prejudicial para a obra. Uma edição a mando do estúdio encurtou a versão original de Kurosawa de 265 minutos (quase quatro horas e meia) para apenas 166 minutos, tornando a narrativa extremamente difícil de seguir. De acordo com o renomado acadêmico de Cinema do Japão Donald Richie, não há cópias existentes da versão original de 265 minutos. Kurosawa voltaria para a Shochiku quarenta anos depois, para filmar Hachi-gatsu no kyôshikyoku e, de acordo com Alex Cox, é dito que ele procurou nos arquivos da Shochiku pelos cortes originais de Hakuchi, sem proveito.
Em 1952, e lança mais uma obra-prima ''Viver/Ikiru (生きる)'', o filme é um olhar multifacetado da vida e suas perspectivas, num complexo retrato de um homem incompreendido e cheio de conflitos. O filme recebeu o Lobo de Ouro no Festival de Cinema de Bucareste, em 1953. Recebeu o Prêmio Especial do Senado de Berlim no Festival de Berlim em 1954. O filme foi aclamado pela crítica – ele deu a Kurosawa seu Segundo prêmio de melhor filme da Kinema Junpo – e foi um grande sucesso de bilheteria.
Em dezembro de 1952, Kurosawa levou os seus roteiristas de Ikiru, Shinobu Hashimoto e Hideo Oguni, para morarem quarenta e cinco dias em uma pousada a fim de criar o roteiro de seu novo filme, ''Os Sete Samurais/Shichinin no Samurai七人の侍''. Essa obra foi o primeiro filme de samurai propriamente dito, o gênero pelo qual ele se tornaria mais famoso. À simples história, sobre uma vila de fazendeiros pobres no período Sengoku, que contrata um grupo de samurais para defendê-los contra um ataque iminente de bandoleiros, foi dado um completo tratamento épico, com um grande elenco (consistindo na maioria de veteranos das produções anteriores de Kurosawa) e ação meticulosamente detalhada, estendendo-se por quase três horas e meia de duração. Kurosawa trata magnificamente de vários temas referentes à cultura japonesa, como a morte, o aprendizado, a miséria natural (a velhice), a miséria social (a pobreza), a estratégia militar, a obediência, a castidade, a piedade, as diferenças sociais entre produtores e guerreiros, a sutil diferença entre a violência de defesa dos guerreiros e a violência de ataque dos bandidos, o respeito às diferenças sociais e pessoais. Através da liberdade criativa fornecida pelo estúdio, Kurosawa fez uso de lentes de telefoto, que eram raros em 1954, bem como múltiplas câmeras que permitiu a ação para preencher a tela e colocar o público bem no meio dela. Kurosawa ganhou rapidamente uma reputação com sua equipe como "o maior editor do mundo" por causa de sua prática de edição de tarde da noite durante o tiroteio. Ele descreveu isso como uma necessidade prática que é incompreensível para a maioria dos diretores, que na grande produção passou pelo menos vários meses com seus editores na montagem e no cortar do filme, e depois tirar as fotografias. O filme recebeu duas indicações ao Oscar. O filme ganha o Leão de Prata no Festival de Veneza e eleito pela Academia Britânica o Filme do Ano. Com o passar do tempo – e com os lançamentos nos cinemas e em vídeo da versão sem cortes – sua reputação cresceu continuamente. Ele é hoje considerado por alguns comentaristas como o melhor filme japonês de todos os tempos e, em 1979, uma pesquisa com críticos de filmes também o elegeram como o melhor filme japonês já feito.
No começo dos anos 1960, “Yojimbo – O Guarda Costas”, seu maior sucessos nos EUA. E, posteriormente, sua continuação, “Sanjuro”, que também obteve êxito. A reação dos críticos também foi positiva e o filme se tornou uma grande influência do gênero no Japão, dando início a uma nova era de filmes ultra-violentos de samurai, conhecidos como "filmes cruéis" (zankoku eiga). O filme e seu humor negro, também foram muito copiados no exterior – ''Por Um Punhado de Dólares'' de Sergio Leone foi um remake cena-a-cena (não autorizado) – mas muitos concordam que a versão original de Kurosawa foi superior às imitações.
Em 1966, Kurosawa foi para Hollywood, quando o contrato de exclusividade de Kurosawa com a Toho terminou em 1966, o diretor, que estava com 56 anos, estava pensando seriamente em mudanças. Observando o estado problemático em que se encontrava a indústria cinematográfica doméstica, e já tendo recebido dezenas de ofertas do exterior, a ideia de trabalhar fora do Japão o atraiu como nunca antes.
Para seu primeiro projeto no exterior, Kurosawa escolheu uma história baseada em um artigo da revista Life. O thriller de ação da Embassy Pictures, a ser filmado em inglês e chamado de Runaway Train, seria o seu primeiro filme em cores. No entanto, a barreira lingüística se provou ser um grande problema, e a versão em inglês do roteiro sequer chegou a ser finalizada na época que as filmagens deveriam começar, no outono de 1966. As filmagens, que requeriam neve, foram mudadas para o outono de 1967, e então canceladas em 1968. Quase vinte anos depois, outro estrangeiro trabalhando em Hollywood, Andrei Konchalovsky, iria finalmente fazer ''Runaway Train'', embora a partir de um roteiro totalmente diferente do de Kurosawa. Mas seu projeto mais ambicioso estava por vir: Junto com a Fox, Kurosawa lançaria um filme que retrataria o ataque a Pearl Harbour tanto do ponto de vista japonês quanto do americano. Mas Kurosawa havia escrito um roteiro que teria 4 horas, e a Fox queria um filme de 90 minutos.
Ele desistiu do projeto. O filme acabou saindo, dirigido na prática por Kinji Fukasaku e Toshio Matsuda, com o nome de “Tora! Tora! Tora!”. Kurosawa, então, entrou em uma crise emocional e criativa que incluiria uma tentativa de suicídio no começo dos anos 70.
A essa altura, cineastas americanos e europeus começaram a tomar a obra de Kurosawa como fonte para o seu próprio trabalho: Rashomon foi refeito como The Outrage (um western de 1964, estrelando Paul Newman e William Shatner), enquanto Yojimbo, de 1961, foi refeito pelo diretor italiano Sergio Leone como Por um punhado de Dólares (1964). Os Sete Samurais (1954) serviu de base para o diretor John Sturges compor The Magnificent Seven, em 1960 (que havia sido o título original do filme de Kurosawa (no Brasil, lançado como Sete Homens e um Destino). O remake norte-americano, aliás, fez mais sucesso no Japão do que o original de Kurosawa. No início de 1980, um roteiro inédito de sua autoria serviu como base para Runaway Train (Expresso para o inferno, de 1985), um thriller de ação. Outra famosa influência foi o de A Fortaleza escondida na composição de Star Wars (Guerra nas estrelas), em 1977.
Em 1970, fez Dodes'ka-den (o título é uma onomatopeia, imitação do som de um trem). O filme foi gravado rapidamente (pelos padrões de Kurosawa) em cerca de nove semanas, com Kurosawa determinado a mostrar que ele ainda era capaz de trabalhar rapidamente e eficientemente dentro de um orçamento limitado. Para a sua primeira obra em cores, a edição dinâmica e as composições complexas de seus filmes anteriores foram deixadas de lado, com o artista se focando na criação de paleta de cores primárias fortes, quase surreais, a fim de revelar o ambiente tóxico em que os personagens viviam. Ele foi lançado no Japão em outubro de 1970 e, apesar de um pequeno sucesso de crítica, foi recebido com indiferença pelo público. O filme deu prejuízo e ocasionou a dissolução do Clube dos Quatro Cavaleiros. A recepção inicial no exterior foi mais favorável, mas ''Dodeskaden - O Caminho da Vida'', desde aquela época vem sendo considerada um experimento interessante não comparável com as melhores obras do diretor. Incapaz de assegurar recursos para mais obras e alegando sofrer problemas de saúde, Kurosawa aparentemente atingiu o fundo do poço, foi aí então, que no começo de 1973, o estúdio soviético Mosfilm abordou o cineasta para lhe perguntar se estaria interessado em trabalhar com eles. Kurosawa propôs uma adaptação de ''Dersu Uzala'', uma obra autobiográfica do explorador Vladimir Arsenyev. O livro, sobre caçadores do povo Nani que vivem em harmonia com a natureza até ser destruída pela civilização invasora, era um filme que ele desejava fazer desde a década de 1930. Em dezembro de 1973, Kurosawa, com 63 anos, partiu para a União Soviética com quatro de seus assessores mais próximos para uma estadia de um ano e meio no país. As filmagens começaram em maio de 1974 na Sibéria, sendo que as filmagens em condições naturais extremamente severas se provaram difíceis e desafiadoras. O filme foi concluído em abril de 1975, com um Kurosawa completamente exausto e saudoso, retornando ao Japão e sua família em junho. ''Dersu Uzala'' teve sua estréia mundial no Japão em 2 de agosto de 1975 e foi bem nas bilheterias. Enquanto a recepção dos críticos no Japão foi neutra, o filme foi melhor recebido no exterior, ganhando um Prêmio de Ouro no Festival de Moscou e um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro pela Rússia.
Apesar de ter recebido propostas de projetos para a televisão, ele não tinha nenhum interesse em trabalhar fora do mundo cinematográfico. No entanto, o diretor, que bebia bastante, concordou em aparecer em uma série de propagandas para a televisão para o whiskey Suntory, que foi ao ar em 1976. Apesar de temer que ele poderia nunca mais ser capaz de fazer outro filme, o diretor continuou trabalhando em vários projetos, escrevendo roteiros e criando ilustrações detalhadas, com a intenção de deixar um registro visual de seus planos no caso de ele nunca poder filmar suas histórias.
Em 1977, o diretor George Lucas lançou ''Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança'', um filme de ficção científica de grande sucesso, influenciado por ''A Fortaleza Escondida/Kakushi toride no san akunin'', dentre outras obras de Akira Kurosawa. Lucas, assim como muitos outros diretores da Nova Hollywood reverenciavam Kurosawa e o consideravam um ídolo, e ficaram chocados quando descobriram que o cineasta japonês não estava conseguindo apoio financeiro para suas obras. Os dois se encontraram em San Francisco em julho de 1978 para discutir qual projeto Kurosawa considerava mais viável: Kagemusha, a história épica de um ladrão contratado por um senhor feudal de um grande clã. Lucas, encanto com o roteiro e as ilustrações de Kurosawa, aproveitou-se de sua influência sobre a 20th Century Fox para convencer o estúdio que havia demitido Kurosawa dez anos anotes a produzir ''Kagemusha'', então recrutando um outro fã, Francis Ford Coppola, como co-produtor. O filme obteve sucesso de crítica e de bilheteria no exterior, ganhando a cobiçada Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes, em maio, e recebeu duas nomeações ao Oscar, nas categorias de melhor filme estrangeiro e melhor direção de arte. Apesar de alguns, até hoje, criticarem o filme por sua frieza. Kurosawa gastou a maior parte do resto do ano na Europa e na América promovendo ''Kagemusha, a Sombra do Samurai'', colecionando prêmios e elogios, e exibindo desenhos que ele havia feito para servir como storyboards para o filme.
Foi ai que o mestre lançou sua última grande obra-prima ''Ran'', com o roteiro, parcialmente baseado no Rei Lear de William Shakespeare, mostra um daimyo (senhor feudal) cruel e sanguinário, interpretado por Tatsuya Nakadai, que, após tolamente banir seu filho leal, entrega o reino aos seus outros dois filhos, que o traem, assim levando o reino inteiro para a guerra. Como os estúdios japoneses ainda estavam receosos em produzir outro filme que figuraria entre os mais caros já feitos no país, a ajuda internacional foi necessária mais uma vez. Dessa vez ela veio do produtor francês Serge Silberman, que havia produzido os últimos filmes de Luis Buñuel. As filmagens não começaram antes de dezembro de 1983 e duraram mais de um ano.
Ran ganhou alguns prêmios no Japão, mas não foi tão prestigiado lá como muitos de seus melhores filmes nas décadas de 1950 e 1960. O mundo cinematográfico ficou chocado, no entanto, quando o Japão escolheu outro filme para ser o concorrente oficial do país no Oscar de melhor filme estrangeiro. O produtor e o próprio Kurosawa atribuíram isto a um mal entendido: por causa das regras arcanas da Academia, ninguém estava certo se Ran se qualificava como um filme japonês ou um filme francês (devido ao seu financiamento) ou ambos, então ele não foi submetido de nenhum jeito. Em respostas para o que parecia ser uma afronta flagrante de seus próprios compatriotas, o diretor Sidney Lumet conduziu uma campanha que obteve sucesso para Kurosawa receber uma indicação para o Oscar de Melhor Diretor daquele ano (infelizmente, Sydnei Pollack no final ganhou o prêmio por dirigir ''Out of Africa''). A figurinista de ''Ran'', a veterana Emi Wada, ganhou o único Oscar do filme.
Nos anos 80, George Lucas e Francis Ford Coppola acabariam co-produzindo dois épicos de Kurosawa, “Kagemusha – A Sombra de Um Samurai” e “Ran”. O diretor ainda viveu bons momentos até seu último e póstumo filme, “Depois da Chuva”, de 1993, que foi terminado por seu discípulo Takashi Koizumi.
Ele continuou a trabalhar após os oitenta anos, lançando filmes como Yume (''Sonhos'', de 1990,com ajuda de outro fã Steven Spielberg), Hachigatsu no kyôshikyoku (''Rapsódia em agosto'', de 1991, esse foi o seu único filme a incluir um papel para uma estrela americana: Richard Gere, que interpreta um pequeno papel como o sobrinho da heroína idosa) e ''Madadayo'' (Ainda não), em 1993. No Japão, os críticos encaram suas adaptações de gêneros e autores ocidentais (Shakespeare, Dostoiévski, Gorky e Evan Hunter) com suspeita, ao passo em que é venerado pelos diretores americanos e europeus.
Kurosawa jamais se aposentou. Conviveu até seus últimos dias com o cinema, a arte que ele ajudou a desenvolver e a dar forma.
Com a palavra o mestre dos mestres o Sr. Akira Kurosawa: Daria o melhor de mim para aproveitar minhas habilidades como artista. Eu me sinto responsável, verdadeiro e honesto para com minha profissão e estou consciente disso. Eu estou primeiro lidando com a sociedade japonesa e tentando ser cândido ao lidar com nossos problemas. Eu espero que você entenda isso sobre mim quando olhar os meus filmes. Como um contador de histórias, não tenho segredos.

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