Francisca da Silva - Iyá Nassô ou Iá Nassô
A ialorixá Francisca da Silva - Iyá Nassô ou Iá Nassô[1][2] é uma das três fundadoras do Candomblé da Barroquinha, juntamente com outras duas Yás. São elas Iá Acalá (Iyá Akala) e Iá Adetá (Iyá Adeta).
Muitos tem sido os interessados em desvendar o mistério que paira sobre a origem do Candomblé de Ketu. Além de Pierre Verger, Vivaldo da Costa Lima, Nina Rodrigues, Edison Carneiro, entre outros, temos alguns contemporâneos como Renato da Silveira e Lisa Earl Castilho que trazem a tona muitos documentos que apontam para desmitificação desta história.
História[editar | editar código-fonte]
O nome religioso Iyá Nasso, que como já esclarecido por diversos estudiosos do assunto, é o nome de um título da corte do Alafin de Oyo, que é o responsável pelo culto a Sango (Xangô) e às divindades secundárias ligadas a este no palácio de Oyo, importante cidade-estado da Nigéria.
Através do testamento deixado por Marcelina da Silva (Obatossi) em que ela descreve seu desejo de que seja celebrada in memorian missa a seus antigos senhores Jose Pedro Autran e Francisca Silva casados, moradores da Ladeira do Passo, na Freguesia do Passo, em Salvador e seu filho Domingos, a pesquisadora Lisa Earl Castilho da início a uma série de desenrolares na história acerca dessa figura lendária.
Através de outros documentos, ela identifica que este senhores a que Marcelina (Obatossi) cita em seu testamento eram negros da Costa, forros libertos, e também proprietários de escravos, já que naquela época a posse de escravos era considerado um investimento seguro e lucrativo, mesmo por parte de ex escravos, que apesar do preconceito existente ascenderam economicamente na Bahia daqueles tempos. Esta senhora e seu marido Jose Pedro Autran constam em muitos documentos principalmente em concessão de alforrias, em especial em fevereiro de 1837, quando concederam mais de 15 alforrias a seus escravos, inclusive a Marcelina (Obatossi) e sua filha a crioula, Magdalena, constando mais tarde, em outubro, na alfândega registros de vistos para seus escravos alforriados para viagem a África, mais especificamente a Costa, como era conhecida aquela região da África naqueles tempos. Isso comprova o que diz a tradição oral a respeito da viagem a África por Iya Nasso e Obatossi relatada por Mãe Senhora a Pierre Verger e Costa Lima.
Mas o fato motivador da viagem desta de volta a África pode ter sido por outras razões que não o de aperfeiçoar seu conhecimento a respeito do culto aos Orixás. Considerando a hipótese apontada pela pesquisadora de que Francisca Silva seria a lendária Iya Nassô, "comprovada" por toda documentação pesquisada, esta teria saído do Brasil por conta da perseguição estabelecida pelas autoridades após a Revolta dos Malês na Bahia, tendo seu filho como um dos suspeitos da insurreição. Ela em defesa de seu filho, Domingos, citado por Obatossi em seu testamento, opta por deixar o país em troca de seu filho ser deportado. Segundo a pesquisadora, após Outubro de 1837, nada mais indicava um retorno de Francisca Silva (Iya Nassô) a Bahia, tendo possivelmente falecido por lá. No entanto em meados nos anos de 1840 documentos voltam a apontar Marcelina da Silva (Obatossi) tais como registros de batismo, escrituras de imóveis apontando que esta voltou da viagem a África e se estabeleceu novamente na Bahia, possivelmente assumindo o culto deixado por Iyá Nassô, e mais tarde fundando o Terreiro da Casa Branca o Ilê Axé Iyá Nassô Oká.
Na pesquisa, um outro descrito interessante refere-se a prisão de seus filhos suspeitos de participantes da Revolta dos Malês, ns ocorrências policiais testemunhos de pessoas próximas da casa de Francisca Silva descreve festas com a presença de um grande número de nagôs, vestidos de branco e vermelho com colares no pescoço, cânticos em língua iorubá, possivelmente um culto a Xangô já que seu outro filho Thomé possuía registro de origem, ele vinha de Oyo.
Todos estes fatos documentados apontam para uma hipótese bastante concreta de que Francisca Silva tenha sido Iyá Nassô e que esta tenha de fato trazido consigo o culto a Xangô e talvez outras divindades secundárias daquela região de Oyo, e tenha voltado a África sem retorno a Bahia, porem deixado para sempre seu nome registrado na história do Candomblé de Ketu, sucedida anos depois por Marcelina Silva (Obatossi) que mais tarde o lado de Iya Adeta e Akala fundam a Casa Branca.
Concluindo todos estes fatos constatados a hipótese é de que Iya Nassô tenha sido mesmo a Sra. Francisca Silva e tenha cultuado Xangô em sua própria casa até sua partida para África, permanecendo no Brasil ainda Iyá Adeta e Akala que promoviam também em suas casas cultos a Odé (Oxossi) e Aira. A outra hipótese que conclui-se é que o Candomblé da Barroquinha a que todos se referiam eram os festejos realizados no salão de festa anexo a Igreja da Barroquinha, sede da Irmandade dos Martírios, aonde realizam a sombra do sincretismo festas a seus Orixás, o Candomblé como conhecemos hoje só teria passado a existir a partir da fundação da Casa Branca.
Leituras adicionais[editar | editar código-fonte]
- Silveira, Renato da, Candomblé da Barroquinha, Editora: Maianga ISBN 8588543419
- Liza Earl Castilho / Luis Nicolau Pares - Marcelina da Silva e seu Mundo: Novos dados para um historiografia do Candomblé Ketu. Afro-Asia 36 (2007) 111, 151
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