quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Ernesto Beckmann Geisel GColSE • GColIH (Bento Gonçalves, 3 de agosto de 1907 — Rio de Janeiro, 12 de setembro de 1996)

 Ernesto Beckmann Geisel GColSE • GColIH (Bento Gonçalves3 de agosto de 1907 — Rio de Janeiro12 de setembro de 1996)


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Ernesto Geisel
29.º Presidente do Brasil
Período15 de março de 1974
15 de março de 1979
Vice-presidenteAdalberto Pereira dos Santos
Antecessor(a)Emílio Garrastazu Médici
Sucessor(a)João Figueiredo
13.º Presidente da Petrobras
Período5 de novembro de 1969
6 de julho de 1973
Antecessor(a)Waldemar Levy Cardoso
Sucessor(a)Floriano Peixoto Faria Lima
Ministro do Superior Tribunal Militar
Período20 de março de 1967
27 de outubro de 1969
Antecessor(a)Floriano de Lima Brayner
Sucessor(a)Jurandir Bizarria Mamede
Ministro-chefe do Gabinete Militar
Período15 de abril de 1964
15 de março de 1967
Antecessor(a)André Fernandes de Sousa
Sucessor(a)Jaime Portela de Melo
Período25 de agosto de 1961
8 de setembro de 1961
Antecessor(a)Pedro Geraldo de Almeida
Sucessor(a)Amaury Kruel
Dados pessoais
Nome completoErnesto Beckmann Geisel
Nascimento3 de agosto de 1907
Bento GonçalvesRio Grande do Sul
Morte12 de setembro de 1996 (89 anos)
Rio de JaneiroRio de Janeiro
ProgenitoresMãe: Lydia Beckmann
Pai: Wilhelm August Geisel
Alma materEscola Militar do Realengo
CônjugeLucy Markus (1939–1996)
FilhosAmália (n.1945)
Orlando (1940-1957)
PartidoAliança Renovadora Nacional
ReligiãoLuteranismo/agnosticismo[1]
Profissãomilitar
AssinaturaAssinatura de Ernesto Geisel
Serviço militar
Lealdade Brasil
Serviço/ramoExército Brasileiro
Anos de serviço19271969
GraduaçãoGeneral do Exército.gif General de Exército
ConflitosRevolução de 1930
Revolução Constitucionalista
18:59
Discurso de Ernesto Geisel, em 1975.

Ernesto Beckmann Geisel GColSE • GColIH (Bento Gonçalves3 de agosto de 1907 — Rio de Janeiro12 de setembro de 1996) foi um político e militar brasileiro, que entre 1974 e 1979 foi o 29º Presidente do Brasil, sendo o quarto na ditadura militar brasileira.[2]

Filho de imigrantes luteranos alemães, estudou no Colégio Martinho Lutero de Estrela e no Colégio Militar de Porto Alegre, formando-se aspirante a oficial na Escola Militar de Realengo, atual Academia Militar das Agulhas Negras, na arma de artilharia.[3] Ingressou na carreira política ao ser nomeado chefe da Casa Militar do governo do Presidente Castelo Branco, em 1964. Fez parte do grupo de militares castelistas que combateram a candidatura do Marechal Costa e Silva à presidência da República.[3] Castelo promoveu-o ainda a General-de-exército em 1966 e nomeou-o Ministro do Superior Tribunal Militar em 1967. No governo de Emílio Médici, tornou-se presidente da Petrobras, enquanto seu irmão Orlando Geisel tornara-se Ministro do Exército; o apoio de Orlando foi decisivo para que Médici o escolhesse como candidato à Presidência em 1974. Em 1974, candidatou-se à presidência pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), tendo Adalberto Pereira dos Santos como vice, vencendo com quatrocentos votos (84,04%) a chapa oposicionista de Ulysses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho do MDB, que obteve 76 votos (15,96%).[4]

Assumiu a Presidência do Brasil em 15 de março de 1974.[5] Seu governo foi marcado pelo início de uma abertura política e amenização da repressão imposta pela ditadura militar, mas encontrou fortes oposições de políticos chamados de linha-dura.[5] Durante seu mandato, ficaram marcados os seguintes acontecimentos: a fusão da Guanabara ao Rio de Janeiro, a divisão do Mato Grosso com a criação do Mato Grosso do Sul, reatamento de relações diplomáticas com a República Popular da China, reconhecimento da independência de Angola, realização de acordos nucleares com a Alemanha Ocidental, início do processo de redemocratização do país, extinção do AI-5 e grande adiantamento da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu.[5]

Em sua vida pós-presidência, Geisel manteve influência sobre o Exército ao longo da década de 1980 e, nas eleições presidenciais de 1985, apoiou o candidato oposicionista vitorioso Tancredo Neves, o que levou à diminuição das resistências a Tancredo no meio militar. Foi presidente da Norquisa, empresa ligada ao setor petroquímico.

Início de vida

Geisel nasceu em Bento Gonçalves, em 3 de agosto de 1907. Seu pai era Wilhelm August Geisel, imigrante alemão luterano,[3] que chegou ao Brasil em 1883, oriundo de Herborn, no estado de Hesse. No Brasil, mudou seu nome para Guilherme Augusto Geisel, a fim de facilitar a pronúncia. Sua mãe foi Lydia Beckmann, brasileira de Teutônia (RS), filha de pais alemães oriundos de Osnabruque, no estado da Baixa Saxônia. Em Bento Gonçalves, onde Geisel nasceu, havia apenas duas famílias de origem alemã - os Geisel e os Dreher- enquanto que a maioria da população era composta por imigrantes italianos. Sobre o contato com os imigrantes italianos locais durante sua infância, Geisel descreveu os contrastes culturais entre a educação estrita e rigorosa que seus pais alemães impunham, em comparação com a liberdade e o modo de vida mais livre que seus amigos italianos tinham, os quais ele admirava. Geisel foi criado numa família luterana (o avô era pastor), a qual ele classificava como de classe média baixa, relativamente pobre.[6] Em entrevista, Ernesto Geisel declarou que, em sua infância, entendia e falava o alemão, embora nunca tendo aprendido a ler nesse idioma. Na idade adulta, entendia o idioma, mas falava com dificuldade.[7] Tinha quatro irmãos: Amália, Bernardo, Henrique e Orlando. Passou a infância em Teutônia e Estrela.[8]

Dois de seus irmãos também ingressaram na carreira das armas e tornaram-se generais: Henrique Geisel e Orlando Geisel, que chegou a ser ministro do exército durante o governo de Emílio Garrastazu Médici.

Geisel e Getúlio VargasRecife, 1940.

Início de carreira

Ernesto Geisel ingressou no Colégio Militar de Porto Alegre em 1921 e em 1928 formou-se oficial na Escola Militar de Realengo. Participou de ações militares na Revolução de 1930 como tenente.[9] Fez parte das tropas federais que combateram a Revolução Constitucionalista, de 1932.

No início dos anos 30 também desempenhou as funções de secretário de fazenda da Paraíba, quando os tenentes da Revolução de 1930 passaram a ocupar cargos políticos.

Em 1940 Geisel casou com sua prima de primeiro grau, Lucy, com quem teve dois filhos: Amália e Orlando, este último falecido num acidente de trem em 1957.[10]

Vida política

Na década de 1950, Geisel comandou a guarnição de Quitaúna e gerenciou a refinaria de Cubatão, ambas no estado de São Paulo. Durante este período, ele estreitou suas ligações com o grupo militar que mais tarde seria conhecido como "Sorbonne", ligado à Escola Superior de Guerra.[9]

Geisel sempre teve interesse na área de extração petrolífera, tendo dirigido a refinaria de Cubatão em 1956, a Petrobras (1969 a 1973) e, após 1979, a Norquisa, depois de ter deixado a presidência da República.

Ernesto Geisel durante jantar oferecido ao presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, 29 de março de 1978. Ao lado de Geisel a primeira-dama norte-americanaRosalynn Carter.

Em sua gestão na presidência da Petrobras, empresa estatal que deteve até a década de 90 o monopólio da extração de petróleo no Brasil, concentrou esforços na exploração da plataforma submarina, tendo obtido resultados positivos. Conseguiu acordos no exterior para a pesquisa e firmou convênios com o Iraque, o Egito e o Equador.[9]

Após o Golpe de Estado em 1964, em 15 de abril de 1964 foi nomeado chefe da Casa Militar pelo presidente Castelo Branco,[3] que o encarregou de averiguar denúncias de torturas em unidades militares do Nordeste do Brasil.

Geisel fez parte do grupo de militares castelistas que combateram a candidatura do marechal Costa e Silva à presidência da República.

Castello Branco promoveu-o a general de exército em 1966, e nomeou-o ainda ministro do Superior Tribunal Militar em 1967.

Com a posse de Costa e Silva na presidência, Geisel caiu no ostracismo político. No governo de Emílio Médici tornou-se presidente da Petrobras, enquanto seu irmão Orlando Geisel se tornou o ministro do Exército.[5] O apoio do irmão Orlando foi decisivo para que Médici o escolhesse como candidato à presidência da república para o mandato de 1974-1979.[5]

Presidente da República

Lançado oficialmente candidato da ARENA à presidência em 18 de junho de 1973, foi eleito presidente com 400 votos, contra 76 do "anticandidato" Ulysses Guimarães, do MDB, em 15 de janeiro de 1974.[4][9]

Geisel dedicou-se à abertura política, articulada pelo general Golbery do Couto e Silva, que encontrou resistência nos militares da chamada linha-dura, sendo que o episódio mais dramático foi a demissão do ministro do exércitoSylvio Frota, em 12 de outubro de 1977.

Em 1977, em Sarandi, acontece uma invasão de terras na fazenda Annoni que dá início ao MST existente até hoje.[9]

Outro fato marcante foi a exoneração do General Ednardo D'Ávila Mello, comandante do II Exército, após as mortes do jornalista Wladimir Herzog, em 1975, e do metalúrgico Manuel Fiel Filho, em 1976, em dependências militares paulistas.

Geisel conseguiu fazer seu sucessor João Figueiredo, que continuou a abertura política do país.

Posse de Ernesto Geisel como Presidente da República, 1974. Arquivo Nacional.

Principais realizações do Governo Geisel

Posse do presidente Ernesto Geisel e de seu vice Adalberto Pereira dos Santos, em sessão conjunta do Congresso Nacional.

Estes foram alguns dos principais planos do governo Geisel:[9]

  • Anexação da Guanabara pelo Rio de Janeiro em 1975;
  • Divisão de Mato Grosso e criação de Mato Grosso do Sul entre 1977 e 1979;
  • II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), política desenvolvimentista que ajudou a manter a economia aquecida, o parque industrial em expansão e o nível de empregos após o primeiro choque do petróleo (1973), mas que causou agravamento da dívida externa e dos problemas monetários ocasionadores da hiperinflação das décadas seguintes, legando um estado de recessão já no governo do sucessor João Figueiredo. A concessão de grandes incentivos aos investimentos de capital estrangeiro no país foi outro controverso e capital ponto do II PND. Durante seu governo houve um crescimento de 31,88% do PIB (média de 6,37%) e 19,23% da renda per capita (média de 3,84%),[11] números porém que desaceleraram os conquistados pelo milagre econômico brasileiro (1969–1973). Geisel assumiu com uma inflação em 15,54% e deixou o cargo com 40,81%;[12]
  • Inaugurou as primeiras linhas do metrô em São Paulo e no Rio de Janeiro;
  • Busca de novas fontes de energia, realizando o Acordo nuclear com a Alemanha, criando os contratos de risco com a Petrobras e incentivando a utilização do álcool como combustível;
  • Deu início do processo de redemocratização do país, embora tal processo tenha sofrido alguns retrocessos durante seu governo, como bem exemplifica o Pacote de Abril, em 1977;
  • Abertura política do Brasil, sobre a qual Geisel afirmou que a redemocratização seria um processo "lento, gradual e seguro" em seu discurso de posse. Os assassinatos do jornalista Vladimir Herzog e do operário Manoel Fiel Filho em São Paulo, entre o final de 1975 e o início de 1976, apressaram os planos do governo e ocasionaram um enfraquecimento do poder da chamada linha-dura dentro da administração federal, com a demissão, pouco tempo depois das mortes, do general Ednardo D'Ávila Mello, comandante do II Exército, responsável pelas prisões de Herzog e Fiel Filho. No auge da crise institucional, Geisel neutraliza uma tentativa de golpe do general Sylvio Frota, principal expoente da "linha-dura" e tido como um dos favoritos à sua própria sucessão, e termina por exonerá-lo em outubro de 1977;
  • Extinguiu o AI-5 e preparou o governo seguinte (João Figueiredo) para realizar a anistia política e a volta dos exilados, mas sem que retomassem seus cargos políticos;
  • Em política externa, dentro de uma orientação denominada pelo governo de "pragmatismo responsável", procurou ampliar a presença brasileira na África e com os demais países do Terceiro Mundo (incluindo nisso os vizinhos de América Latina), evitando o alinhamento incondicional aos Estados Unidos. Reconheceu de imediato os regimes socialistas portugueses e angolanos que se sucederam após as guerras de independência colonial e o desmonte do poder ditatorial salazarista, bem como reatou relações diplomáticas com a República Popular da China;
  • Autorizou a demolição do Palácio Monroe - episódio polêmico que movimentou interesses diversos e gerou intensas campanhas contra e a favor nos jornais;
  • Denunciou o tratado militar Brasil-Estados Unidos em 1977;
  • Construiu grande parte da Usina Hidrelétrica de Itaipu;
  • Demitiu o ministro do Exército, general Sílvio Frota, isolando o grupo de militares que era contra o processo de abertura política;[13]
  • Assinou a Lei nº 6.515, de 28 de junho de 1977, que legalizou o divórcio no Brasil;[14]
  • Criação da DataprevCODEVASFBB Tecnologia e ServiçosNuclepINAMPS (atual SUS) e Crédito Educativo (atual FIES).

Condecorações

Em 1 de junho de 1977 foi agraciado pelo estado português, com o Grande-Colar da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e em 13 de fevereiro de 1979 foi agraciado com o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique.[15]

Memorando da CIA

Um memorando da CIA afirma que o general conhecia e autorizou a execução de opositores durante a ditadura militar. Esse documento, de 11 de abril de 1974, foi elaborado pelo então diretor da CIA, William Egan Colby, e endereçado ao secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, tendo sido revelado no Brasil em maio de 2018, pelo pesquisador Matias Spektor, da Fundação Getúlio Vargas, quando foi tornado público pelo governo americano. O texto se refere a um suposto encontro, em 30 de março de 1974, entre Geisel, João Batista Figueiredo, então chefe do Serviço Nacional de Informações, e os generais Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton de Paula Avelino, que trabalhavam no Centro de Inteligência do Exército (CIE). O general Milton, segundo o documento, disse que o Brasil não poderia ignorar a "ameaça terrorista e subversiva", e que "os métodos extralegais deveriam continuar a ser empregados contra subversivos perigosos". Além disso, Geisel teria dito ao general Figueiredo que a política deveria continuar, mas que se deveria tomar "muito cuidado para assegurar que apenas subversivos perigosos fossem executados". Ainda conforme o memorando, todas as execuções deveriam ser aprovadas por Figueiredo, sucessor de Geisel até 1985. Partes do documento permanecem em sigilo.[16]

Segundo os dados da Comissão Nacional da Verdade (CNV), 89 pessoas morreram ou desapareceram no Brasil por motivos políticos, a partir de 1º de abril de 1974, a data posterior àquela em que o encontro dos generais teria ocorrido, isto é, desde que Geisel teria autorizado a execução de opositores. Além disso, houve onze pessoas que podem ter morrido ou desaparecido e possivelmente muitos casos que não foram registrados. Conforme o relato divulgado, Geisel pediu para pensar durante o fim de semana de 1974. Então, no dia 1º de abril, ele e Figueiredo decidiram implantar as ações propostas, mas destacaram que apenas "subversivos perigosos" deveriam ser executados. Figueiredo concordou com a consulta ao presidente quando o CIE apreendesse uma pessoa. As informações sobre as vítimas do regime militar estão nos relatórios da CNV, que foi criada para apurar violações de diretos humanos entre 1946 e 1988. A informação agora disponível muda a imagem de Geisel, antes tido como moderado, visto que se pensava que as execuções ocorriam contra a sua vontade.[17][18]

No entanto, fontes dos Estados Unidos reforçam trecho do memorando da CIA de 1974 no qual o então diretor da agência, William Colby, disse que o Presidente Geisel buscaria ter o controle sobre o principal órgão de repressão do Exército, o CIE (Centro de Informações do Exército). Esse fato efetivamente aconteceu, o que confirma a ação fundamental do Presidente na abertura política.[19]

Vida após a presidênciaComo ex-presidente, manteve influência sobre o exército ao longo dos anos 80, e em 1985, seu apoio à candidatura de Tancredo Neves, nas eleições indiretas daquele ano, derrotando Paulo Maluf. Seu apoio diminuiu as resistências a Tancredo no meio militar. Também foi presidente da Norquisa, empresa ligada ao setor petroquímico.

Em 1997, a Fundação Getúlio Vargas publicou a transcrição de seu depoimento, no qual narrou sua vida particular, militar e política.

Depois de deixar a presidência, Geisel passou a alternar sua residência entre dois locais: um apartamento no Edifício Debret,[20] no bairro Ipanema, residência na qual morou até a sua morte, e uma granja de sua propriedade na cidade de Teresópolis,[21] chamada de "Sítio dos Cinamomos", que depois foi vendido por sua filha Amália.[carece de fontes]

Morte

Ernesto Geisel morreu aos 89 anos, no dia 12 de setembro de 1996, de câncer generalizado.[5] Foi sepultado no Cemitério de São João Batista na cidade do Rio de Janeiro,[22] mas no ano de 2003 os restos mortais de Ernesto e Lucy Geisel foram transladados para o Cemitério Evangélico de Porto Alegre.

Bibliografia

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