O GRANDE LEGADO DO BABALAWÓ MIGUEL FEBLES ODI KA
Em 1910 nasce em CUBA MIGUEL FEBLES PADRÓN (†), AWÓ NI ORUNMILÁ ODI KA, IFATOLA. BABALAWÓ que marcou um “antes” e um “depois” da crença afro-cubana aos ORIXÁS.
Afilhado de BERNABÉ MENOCAL BABA EJIOGBE e seu OJUGBONA TATA GAITÁN OGUNDA FUN.
MIGUEL FEBLES PADRON foi integrante de uma família dedicada a prática religiosa de IFÁ. Seu pai, RAMÓN FEBLES MOLINA, foi um reconhecido BABALAWÓ, consagrado no ano de 1887 por ÑO CARLOS ADÉ BÍ OJUANI BOKÁ. Sua mãe foi a OLORIXÁ AMÉRICA PADRÓN.
No ano de 1919, as YALORIXÁS VICTORIANA ROSARENA e TIMOTEA ALBEAR consagraram MIGUEL FLEBES PADRÓN na REGRA DE OSHA-IFÁ, consagrando-o ONI XANGÔ.
Seu pai, RAMÓN FLEBES MOLINA OGBE TUANILARA, vendo sua grande atração por IFÁ e as crenças dos escravos YORUBÁS, decidiu ajudar seu filho na preparação religiosa e, por isso colocou o nigeriano OLUWOGUERÉ KÓ KÓ OYEKUN MEJI para que fosse um dos seus principais mestres, entre outros BABALAWÓS africanos daquela época com amplos conhecimentos que o SR. RAMÓN FEBLES sabia que eram grandes conhecedores da arte de praticar IFÁ e conhecedores de muitos segredos trazidos da ÁFRICA.
MIGUEL FEBLES PADRÓN OLUWÓ ODI KA é um pilar fundamental – apesar de sua ausência física – na crença de ORIXÁ e IFÁ afro-cubana, seus manuscritos, assim como seu legado deixado a seus descendentes, a seus iniciados, a todas as Ramas, desde então, tem servido até o dia de hoje para demonstrar uma crença YORUBÁ forte, mostrando o reflexo atual da prática de várias linhagens de distintos povos oriundos da NIGÉRIA e DAHOMEY.
Esta crença passou por uma série dramática de eventos para poder sobreviver às cruéis e rígidas práticas da colonização. A escravidão foi um dos maiores flagelos que a humanidade já sofreu e foi a única via para que IFÁ saísse da ÁFRICA até o Ocidente.
MIGUEL FEBLES foi um personagem importantíssimo em sua era e que permitiu a evolução e a expansão do CULTO DE IFÁ na Ilha de CUBA, dado a sua grande inteligência e sabedoria no empenho da disseminação do segredo de IGBA ODUN (OLÓFIN). A crença ao ORIXÁ renasceu e ganhou expansão de um continente emprestado para o mundo inteiro.
A DISSEMINAÇÃO DE IGBA ODUN (OLÓFIN)
De acordo com muitas informações, a chegada de OLÓFIN à CUBA é paralela a chegada “das pedras e IFÁS engolidos”. Dois escritores acreditam que BABALAWÓS africanos da época, incluindo FRANCISCO VILLALONGA IFÁ BÍ, levaram seus secretos de OLÓFIN à CUBA nos barcos negreiros no século XIX (Bolívar Aróstegui e Cañizares).
Entre os anos 1880 e 1900 haviam poucos BABALAWÓS em HAVANA, provavelmente não mais de 80/90 aproximadamente, o restante estava espalhado por outras Províncias. BASCOM em 1948 dizia existir uns 200 BABALAWÓS em HAVANA, (que não é toda CUBA, porém vale lembrar, que havia vários BABALAWÓS espalhados por toda CUBA, inclusive na Província de MATANZAS) quase todos iniciados nas primeiras décadas de 1900, exceto ASUNCIÓN VILLALONGA (OGUNDA MASÁ) iniciado em 1880.
De 1940 até o começo dos anos 50, a posse do Fundamento de IGBA ODUN (OLÓFIN) era rara. Sua posse estava altamente restrita dentro da hierarquia de IFÁ. Acredita-se que a cabeça maior dentro de cada Rama de IFÁ era quem possuía o Fundamento de IGBA ODUN (OLÓFIN), quem administrava o meio espiritual e a autorização de iniciar os sacerdotes de IFÁ.
Nas primeiras décadas do século XX não havia mais do que 16 (dezesseis) Olofistas. Acredita-se que os primeiros OLÓFINS confeccionados em CUBA foram feitos em conjunto nos finais do século XIX, por líderes africanos de IFÁ que incluíam ADESINA, OLUGURE e ASADÉ. Os primeiros herdeiros destes OLÓFINS recém-nascidos, pode-se incluir ASUNCIÓN VILLALONGA, TATA GAITÁN, ESTEBAN FERNÁNDEZ QUIÑONES, MARCOS E QUITÍN GARCIA, RAMÓN FEBLES, PERIQUITO PÉREZ, BERNABÉ MENOCAL e BERNARDO ROJAS.
A iniciação de BABALAWÓS estava limitada e se legitimava através do controle sobre o uso e entrega de outra peça crucial: O KUANADO. De acordo com as REGRAS DE IFÁ, o BABALAWÓ primeiro deveria ter KUANADO e permissão da “cabeça’ de sua Rama para iniciar a outras pessoas, ou seja, para começar uma nova “Casa de IFÁ”.
Para poder habilitar uma iniciação específica, o BABALAWÓ em questão deveria pedir “emprestado” o OLÓFIN de sua Rama, se este não houvesse ainda recebido. De acordo ao protocolo, dentro da Tradição acordada em HAVANA, o OLÓFIN da Rama seria herdado pelo filho mais velho do Olofista falecido, se fosse BABALAWÓ e se caso este não fosse, seria então entregue ao afilhado mais velho desse Olofista.
As primeiras gerações de BABALAWÓS consagrados em CUBA mantiveram fortes restrições na disseminação e uso do Fundamento de IGBA ODUN (OLÓFIN). Com isso se pretendia manter a hierarquia Tradicional de Autoridade, para controlar os procedimentos de iniciação e a disseminação dos segredos de IFÁ. Dentro da Regra de IFÁ sabe-se que BERNARDO ROJAS era um dos mais rigorosos no controle sobre a entrega de OLÓFIN.
Entretanto, por volta de 1945, um dos mais poderosos BABALAWÓS de HAVANA, MIGUEL FEBLES PADRÓN começou a mudar tudo isso, mesmo com a rigidez de BERNARDO ROJAS, quem insistia que a confecção liberal de OLÓFIN era uma “Profanação”. MIGUEL transformaria ele sozinho a REGRA DE IFÁ, pouco depois que a “Era BERNARDO ROJAS” chegasse ao seu fim.
Por muitas razões MIGUEL FEBLES se converteu no PONTO CRUCIAL entre as Gerações de IFÁ mais velhas e conservadoras, que para os anos de 1940, já quase todos haviam morrido, e entre as Novas Gerações de IFÁ, no início dos anos 50 até o início dos anos 80.
Como um ascendente BABALAWÓ em HAVANA, o primeiro movimento estratégico de MIGUEL FEBLES foi pegar o Fundamento de IGBA ODUN (OLÓFIN) de seu Pai, que tinha sido entregue ao seu irmão maior PANCHITO FEBLES, que havia herdado por direito próprio quando seu pai falecera em 1939.
Quando MIGUEL FEBLES pegou o direito do Fundamento de IGBA ODUN (OLÓFIN) de seu autêntico herdeiro, o gentil e diplomático PANCHITO renunciou ao direito e este foi premiado a MIGUEL. Com isso, MIGUEL FEBLES se tornou extremamente poderoso no final dos anos 40, não só por seu conhecimento de LITURGIA de IFÁ, mas também por sua inteligência e sabedoria.
Adicionalmente, MIGUEL FEBLES se converteu na fonte Central de entregas de OLÓFIN na história da Ilha de CUBA. Ele alcançou por si mesmo o poder de eleger quem receberia os segredos e Fundamentos de IGBA ODUN (OLÓFIN).
Devemos todos nós das TRADIÇÕES OSHA-IFÁ AFRO-CUBANA em todo mundo, agradecer e honrar esse grande maestro que para nós, foi um dos maiores pilares que a nossa Tradição já teve, que marcou uma era, que por sua inteligência, por sua sabedoria, por sua religiosidade, fez com que IFÁ tomasse rumos que beneficiaram todo o mundo. IBAEN TI BAEN TONUN. Que OLÓFIN o guarde, que as bênçãos desse grande BABALAWÓ sempre alcance a todos nós.
MIGUEL FEBLES PADRÓN OLUWÓ SIWAJÚ ODI KA falece em CUBA na idade de 76 anos em 1986, porém seu legado continua.
Ifá Ni L’Órun
Nenhum comentário:
Postar um comentário