quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Zog I da Albânia

 

Zog I da Albânia

Zog I, Skanderbeg III
Rei dos Albaneses
Período1 de setembro de 1928 – 7 de abril de 1939
Antecessor(a)Estabelecimento da Monarquia
Sucessor(a)Vítor Emanuel III da Itália
1.º Presidente da Albânia
Período1 de fevereiro de 1925 – 1 de setembro de 1928
PredecessorNovo Posto
11.º Primeiro-Ministro da Albânia
Período6 de janeiro de 1925 – 1 de setembro de 1928
PredecessorXhafer Ypi
SucessorShefqet Verlaci
Príncipe-soberanoGuilherme
Período6 de janeiro de 1925 - 1 de setembro de 1928
PredecessorIlias Vrioni
SucessorKostaq Kotta
Governador Hereditário de Mati
Período1911 – 1939
PredecessorXhemal Paxá Zogu
SucessorLeka I, Príncipe Herdeiro da Albânia
 
Nascimento8 de outubro de 1895
 BurrelImpério Otomano
Morte9 de abril de 1961 (65 anos)
 Hauts-de-SeineFrança
Sepultado emMausoléu da Família real albanesa, Albânia
CônjugeGéraldine Apponyi de Nagyappony
DescendênciaLeka, Príncipe Herdeiro da Albânia
PaiXhemal Paxá Zogu
MãeSadijé Toptani
AssinaturaAssinatura de Zog I, Skanderbeg III

Ahmet Lekë Bej Zog[1], também chamado Sua Majestade Zog I, Skanderbeg III Rei dos Albaneses[2] (em albanêsNaltmadhnia e Tij Zog I Skenderbeu III Mbret i Shqiptareve; Castelo Burgajet, Burrel8 de outubro de 1895 — Hauts-de-Seine9 de abril de 1961) foi primeiro-ministro e rei da Albânia.

Juventude

Ahmet Zogu e suas irmãs

Ahmet Zogolli era filho de Xhemal Paxá Zogolli e de sua segunda esposa, Sadijé Toptani. Sua família, formada por grandes proprietários de terras, governava um beilique[1] e tinha autoridade feudal sobre a região de Mat. A família de sua mãe, os Toptani, dizia-se descendente da irmã do maior herói albanês, um general do século XV chamado Skanderbeg.

Foi educado na academia militar do Liceu de Galatasaray, em Constantinopla [3], então sede do decadente Império Otomano que, tecnicamente, governava a Albânia. Logo após a Primeira Guerra Balcânica, que deu uma precária independência ao país sob influência da Áustria, transfere-se para o Imperial e Régio Exército Austro-Húngaro, onde alcançou a patente de coronel. A dissolução do Império Austro-Húngaro, causada pela derrota na Primeira Guerra Mundial, força Ahmet a voltar para casa em 1919, após passar alguns meses em Roma. Após a morte de seu pai, em 1911, ele foi apontado por seu irmão mais velho, Xhelal Bey Zogu, como Bey de Mat [1] e chefe do clã Gheg, embora o destino da família e da cidadela estivessem a cargo de suas três irmãs mais velhas, que tiveram um importância fundamental na vida do futuro rei Zog [4].

Início da carreira política

Após seu retorno, Zogolli envolveu-se com o novo governo albanês, criado na esteira da Primeira Guerra Mundial. Entre seus apoiadores estavam diversos Beys do sul e famílias nobres do norte, além de comerciantes, industriais e intelectuais. Durante o início dos anos 20, ocupou os cargos de Governador de Escodra (1920-1921), Ministro do Interior (de março a novembro de 1920 e de 1921-1924) e Chefe das Forças Armadas da Albânia (1921-1922). Seus principais rivais foram Luigj Gurakuqi e Fan S. Noli.

Em 1922, o sobrenome Zogolli, cujo sufixo turco -olli (-oglu) significa "Filho de", foi mudado por Ahmet para Zogu que, em idioma albanês, significa "Pássaro".

Era uma época perigosa para fazer política na Albânia. Em 1923, Zogu foi baleado no Parlamento. Uma crise surgiu em 1924, após o assassinato de Avni Rustemi, opositor de Zogu: uma revolta esquerdista, liderada pelo monsenhor Fan S. Noli (fundador da Igreja Ortodoxa da Albânia), obrigou Zogu e 600 de seus aliados a partirem para o exílio. O governo Noli não recebeu qualquer apoio, além de declarações de fachada, da França ou da ItáliaMussolini, na verdade, financiou secretamente o retorno de Zogu à Albânia, também favorecida pelos muçulmanos tradicionalistas. Seu regresso e sua imediata nomeação como primeiro-ministro, contou com apoio de forças iugoslavas e de tropas do Exército Branco baseadas na Iugoslávia [5].

Presidente da Albânia

Zogu foi oficialmente eleito como primeiro Presidente da Albânia pela Assembleia Constituinte, em 21 de janeiro de 1925, tomando posse em 1 de fevereiro para um mandato de sete anos. Seu governo seguiu o modelo europeu, embora grande parte do país mantivesse inalterada a estrutura social dos tempos do Império Otomano e muitos vilarejos feudais geridos pelos Beys.

Em 28 de junho de 1925, cedeu Sveti Naum à Iugoslávia, como um gesto de reconhecimento pelo auxílio recebido [6].

Zogu promoveu importantes reformas, como proibir o uso do véu entre as mulheres e a crueldade contra os animais. Sua principal aliada nesse período foi a Itália, que forneceu fundos ao seu governo em troca de uma participação maior na política fiscal da Albânia. Durante seu governo, a servidão foi gradualmente abolida. Pela primeira vez desde a morte de Skanderbeg, a Albânia começou a emergir como uma nação e não como uma colcha de retalhos feudal, composta por beilhiques. Sua administração foi marcada pela disputa com os líderes cossovitas, principalmente Hasan Prishtina e Bajram Curri.

Rei dos Albaneses

Zog I em foto oficial.

Em 1 de setembro de 1928, o general Zogu foi coroado Rei dos Albaneses (em albanêsMbret i Shqiptarëve) e declarado marechal de campo do Exército Real Albanês no mesmo dia. Ele proclamou uma monarquia constitucional semelhante ao regime contemporâneo na Itália, criou uma polícia forte e instituiu a "saudação Zogista" (mão espalmada sobre o coração com a palma virada para baixo). Ele afirmava ser um sucessor de Skanderbeg, através da descendência de uma irmã do famoso general. Zog acumulou um tesouro de moedas de ouro e pedras preciosas, que foi utilizado para fazer o primeiro papel moeda da Albânia. Suas despesas pessoais giravam em torno de 2% de todos os gastos nacionais. Era praticamente ignorado pelos outros monarcas europeus.

O monograma real.

Zog declarou Sadijé, sua mãe, rainha-mãe da Albânia e concedeu status real de príncipes e princesas Zogu a seus irmãos e irmãs - uma delas, Senijé (1897-1969), casou-se com Sua Alteza Imperial, o príncipe Xezade Maomé Abide Efendi, filho de Abdulamide IISultão do Império Otomano.

O rei tentou reforçar a legitimidade de seu regime governando como um monarca constitucional. A Constituição de seu reino proibia qualquer príncipe da Casa Real de ocupar o cargo de primeiro-ministro ou de integrar o Conselho de Ministros e continha disposições relativas à potencial extinção da Família Real. Ironicamente, à luz dos acontecimentos posteriores, a Constituição também proibia a união do trono da Albânia com o de qualquer outro país. Sob a Constituição Zogista, o Rei dos Albaneses, como o Rei dos Belgas, somente exercia os poderes reais após prestar juramento perante o parlamento - o próprio Zog fez o juramento sobre a Bíblia e o Alcorão (sendo o rei muçulmano), numa tentativa de unificar o país.

Em 1929, Zog aboliu a Lei Islâmica na Albânia, adotando em seu lugar um código civil baseado no modelo suíço - como a Turquia de Atatürk havia feito na mesma década [7].

O regime de Zog I trouxe estabilidade para a Albânia. O rei organizou um sistema educacional e tentou modernizar as forças armadas, embora os custos envolvidos neste projeto fossem altos.

Vida de Rei

Reverso e anverso de uma moeda de 1 franco Zogiano.
Nota de 100 francos Zogianos.

Apesar de ter nascido como um aristocrata e Bey hereditário, Zog I foi ignorado por outros monarcas na Europa porque não tinha ligações com nenhuma família real do continente. Entretanto, ele teve fortes ligações com as famílias reais muçulmanas do mundo árabe, especialmente com o Egito, cuja dinastia reinante tinha origens albanesas. Como rei, Zog foi homenageado pelos governos da ItáliaLuxemburgo, Egito, IugosláviaRomêniaGréciaBélgicaBulgáriaHungriaPolôniaChecoslováquia e Áustria.Na ausência de teatros ou casas noturnas em Tirana, o rei passava grande parte de seu tempo jogando pôquer, normalmente com suas irmãs. Ele também foi um fumante inveterado, fumando cerca de 150 cigarros por dia [8].

Zog havia se comprometido com a filha de Shefqet Verlaci antes de se tornar rei. Logo após sua coroação, porém, ele rompeu o noivado. De acordo com os costumes tradicionais de vingança de sangue, prevalentes na Albânia da época, Verlaci tinha o direito de matar Zog. O rei fez mais do que alguns inimigos - os rumores eram de que ele foi objeto de muitas vinganças de sangue [8], além de Verlaci - o que fez com que se cercasse de uma guarda pessoal e evitasse aparecer em público. Porque ele também temia ser envenenado, encarregou a rainha-mãe de assumir a supervisão da Cozinha Real [8].

Durante seu reinado, estima-se que tenha sobrevivido a 55 tentativas de assassinato [8]. Uma delas aconteceu em 21 de fevereiro de 1931, enquanto visitava a Ópera Estatal de Viena para assistir à ópera Pagliacci [8]. Os agressores atingiram Zog enquanto entrava em seu carro e ele conseguiu sobreviver revidando o ataque com uma pistola que sempre trazia consigo. Foi a única ocasião, na História Moderna, em que um chefe de estado trocou tiros pessoalmente com seus assassinos em potencial.

Em abril de 1938, Zog casou-se com a condessa Géraldine Apponyi de Nagyappony, aristocrata católica romana de origem húngaro-americana. Seu único filho, o príncipe herdeiro Leka, nasceu na Albânia em 5 de abril de 1939.

Relações com a Itália

O crescente poder da Itália na Albânia era óbvio para todos. Os italianos forçaram Zogu a não renovar o Primeiro Tratado de Tirana (1926), embora ele ainda mantivesse oficiais ingleses na Gendarmaria como uma espécie de "contrapeso" aos italianos, que haviam feito pressão para afastá-los. Durante a Grande Depressão mundial da década de 1930 o governo Zog tornou-se quase que totalmente dependente de Mussolini, a ponto de o Banco Nacional Albanês ter a sua sede em Roma. Grãos tinham de ser importados, muitos albaneses emigraram e colonos italianos foram autorizados a se instalar na Albânia. Em 1932 e 1933, a Albânia foi incapaz de pagar os juros de suas dívidas para com a Sociedade de Desenvolvimento Econômico na Albânia e os italianos usaram isso como uma desculpa para mais intromissões. Exigiram que Tirana nomeasse italianos como chefes da Gendarmaria; que formalizasse uma união aduaneira entre os dois países e que conferisse ao Reino de Itália o controle do monopólio albanês sobre o açucar, os telégrafos e a eletricidade. Finalmente, os italianos exigiram o ensinamento da língua italiana em todas as escolas da Albânia, uma exigência que foi prontamente rejeitada por Zogu. Como um desafio às exigências, ordenou um corte de 30% nas despesas públicas, afastou todos os conselheiros militares italianos e nacionalizou as escolas católicas, dirigidas por italianos no norte do país, para diminuir a influência italiana sobre a população albanesa. Em 1934, ele tentou, sem sucesso, estabelecer laços com a França, Alemanha e os países balcânicos, e a Albânia permaneceu sob a influência italiana.

Dois dias após o nascimento de seu filho e herdeiro, em 7 de abril de 1939 (Sexta-Feira Santa), a Itália de Mussolini invadiu a Albânia sem dificuldades. O exército albanês estava mal equipado e quase inteiramente dominado por conselheiros e oficiais italianos, não sendo páreo para o exército fascista. Os invasores encontraram, no entanto, uma pequena resistência por parte de elementos da Gendarmaria e da população em geral. A Família Real, realizando corretamente que suas vidas estavam em perigo, fugiu para o exílio. "Oh Deus, ele foi tão curto" foram as últimas palavras de Zog I (referindo-se ao seu reinado) à rainha Geraldine em solo albanês. O Conde Ciano, ministro do Exterior italiano, chegou no dia seguinte à Tirana; ao vasculhar o Palácio Real, ele encontrou a sala de parto na suíte da rainha. Ao ver pilhas de roupas no chão, manchadas de sangue do nascimento do príncipe Leka, Ciano ficou furioso e passou a chutar todos os objetos que encontrava em seu caminho: "O filhote fugiu!" disse ele [9].

Mussolini declarou a Albânia protetorado italiano sob o rei Vítor Emanuel III. Enquanto alguns albaneses continuavam a resistir, "uma grande parte da população (...) recepcionou os italianos com aplausos", de acordo com um relato contemporâneo [10].

O ex-príncipe herdeiro

Antes do nascimento do príncipe Leka, a posição de herdeiro presuntivo pertencia ao príncipe Tati Esad Murad Kryeziu, nascido em 24 de dezembro de 1923, filho da irmã do rei, a princesa Nafijé. Ele se tornou general honorário do Exército Real da Albânia em 1928, quando tinha cinco anos, sendo nomeado Herdeiro Presuntivo, com o tratamento de Alteza Real e o título de Príncipe de Kosova (Princ i Kosoves) em 1931. Após o exílio da Família Real, ele se mudou para França, onde morreu em agosto de 1993.

Vida no exílio

Túmulo anterior de Zog I no Cemitério de Thiais, próximo a Paris.

A Família Real radicou-se na Inglaterra, inicialmente no Ritz Hotel de Londres, seguido de uma breve estadia em Berkshire, em 1941. Nesse mesmo ano, mudaram-se para a Parmoor House, em Buckinghamshire, onde também se instalaram os funcionários da corte [11].

Em 1946, Zog e a maior parte de sua família deixou a Inglaterra e passou a viver no Egito a mando do rei Farouk, deposto em 1952. A família foi para a França em 1955.

Em 1951, comprou a fazenda Knollwood Estate, em Muttontown, Nova York, EUA. A propriedade de 60 quartos nunca foi ocupada e Zog a vendeu em 1955.

Zog finalmente fixou residência na França. Ele morreu no Hôpital FochSuresnesHauts-de-Seine, em 9 de abril de 1961, aos de 65 anos, após uma longa enfermidade e encontra-se sepultado no Cemitério de Thiais, próximo a Paris. Após sua morte, seu filho Leka foi proclamado Sua Majestade Leka, Rei dos Albaneses pela comunidade albanesa exilada.

Sua viúva, a rainha Géraldine, morreu de causas naturais em 2002, aos 87 anos em um hospital militar de Tirana, Albânia.

Legado político

Durante a Segunda Guerra Mundial, havia três grupos de resistência operando na Albânia: os nacionalistas, os monarquistas e os comunistas. Alguns setores da classe dominante albanesa optaram pelo colaboracionismo. Os partisans, que não cooperaram com outros grupos de resistência, assumiu o controle do país com o apoio da União Soviética, no final da guerra.

Zog tentou recuperar o trono após a guerra. Patrocinadas pelos britânicos, algumas forças leais a Zog tentaram organizar invasões, mas foram emboscadas continuamente devido às informações enviadas para a União Soviética pelo espião Kim Philby [12]. A Albânia agora tinha um governo comunista liderado por Enver Hoxha, que permaneceu no poder durante 45 anos. Um referendo em 1997 propôs a restauração da monarquia na pessoa do príncipe Leka Zogu, filho de Zog que, desde 1961, foi denominado "Leka I, rei dos albaneses". Os resultados oficiais afirmaram que cerca de dois terços dos eleitores eram favoráveis à continuidade do regime republicano. Leka, acreditando que a eleição foi fraudulenta, tentou um levante armado. A tentativa de golpe fracassou e o príncipe foi forçado ao exílio, de onde retornou posteriormente para fixar-se em Tirana.

A rua principal de Tirana, foi mais tarde renomeada para "Boulevard Zog I", por parte do governo albanês.

Referências

  1. ↑ Ir para:a b c Encyclopædia Britannica Beibeg ou bej é um título nobiliárquico de origem turca, adotado por diferentes governantes dentro dos territórios dos antigos Império Seljúcida e Império Otomano. Um beilhique era um território governado por um bei. Foi também o título dos monarcas da Tunísia.
  2.  Pearson, Owen (2006). Albania in the Twentieth Century: a history. I.B. Tauris. p. 568. ISBN 1845110137.
  3.  Pearson, Owen (2004). Albania and King Zog: independence, republic and monarchy 1908-1939. IB Tauris.
  4.  Indro Montanelli, Mario Cervi, L'Italia del novecento, Rizzoli, 2000, p. 168-169
  5.  Indro Montanelli, Mario Cervi, L'Italia del novecento, Rizzoli, 2000, p. 170-171
  6.  Pearson, Owen (2004). Albania and King Zog: independence, republic and monarchy 1908-1939. IB Tauris, p. 248.
  7.  Swiss Laws, Greek PatriarchTime magazine, 15 April 1929
  8. ↑ Ir para:a b c d e Shaw, Karl (2005). Power Mad!. Praha: Metafora. pp. 31–32. ISBN 80-7359-002-6.
  9.  Gwen, Robins. Geraldine of the AlbaniansISBN 0 584 11133 9
  10.  "Fascist Soldiers Take over Tirana". The New York Times. 9 April 1939.
  11.  «Naçi collection». www.aim25.ac.ukSchool of Slavonic and East European Studies, acessado em 26 de fevereiro de 2011
  12.  Integrante do chamado Cambridge Five, grupo formado por membros do topo da hierarquia dos serviços secretos do Reino Unido, que espionava para a União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial e início dos anos 50.

Nota

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