Artur Bernardes
Artur da Silva Bernardes[nb 1] (Viçosa, 8 de agosto de 1875 – Rio de Janeiro, 23 de março de 1955) foi um advogado e político brasileiro, presidente Minas Gerais de 1918 a 1922 e presidente do Brasil entre 15 de novembro de 1922 e 15 de novembro de 1926. Seus seguidores eram chamados de "bernardistas".
Origem e carreira política
Estudou no Colégio do Caraça. Após formar-se, em 1900, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, iniciou sua carreira política como vereador e presidente da Câmara Municipal de Viçosa em 1906. Foi deputado federal (de 1909 a 1910) e Secretário de Finanças de Minas Gerais em 1910. Foi eleito para um novo mandato de deputado federal (1915 a 1917). Tornou-se o líder principal do Partido Republicano Mineiro, tirando o controle do PRM dos políticos do Sul de Minas Gerais, deslocando o centro da política mineira para a Zona da Mata. Foi presidente do estado de Minas Gerais entre 1918 e 1922.
Artur, para sua carreira política como Presidente da República, contou com a ajuda de seu sogro, Carlos Vaz de Mello, irmão de José Alves Ferreira de Melo, um poderoso fazendeiro de Viçosa. As terras onde foram erguidas as primeiras faculdades integrantes da UFV pertenciam ao sogro de Bernardes.
Artur da Silva Bernardes foi casado por mais de 50 anos com Clélia Vaz de Mello, filha Carlos Vaz de Mello, político importante da Zona da Mata mineira, deputado e senador da república.
Eleição para presidente da república e a Revolta dos 18 do forte
Bernardes venceu as eleições presidenciais de 1922, obtendo 466 877 votos contra 317 714 votos dados a Nilo Peçanha, em uma eleição que dividiu o país: Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro apoiaram Nilo Peçanha e os demais estados deram apoio à candidatura Bernardes.[1]
Antes da eleição, Bernardes teve que enfrentar o rumoroso caso das "cartas falsas" atribuídas a ele e que denegriam o ex-presidente Hermes da Fonseca.
Seu vice-presidente foi Estácio Coimbra que substituiu Urbano Santos, vice-presidente eleito, também em 1 de março de 1922, e que faleceu no dia 7 de Maio de 1922, antes de tomar posse.
O descontentamento com a vitória de Bernardes e com o governo de seu antecessor, Epitácio Pessoa, foram algumas das causas do chamado Levante do Forte de Copacabana, primeira ação do movimento tenentista. Bernardes teve que fazer frente à coluna Prestes, movimento tenentista que percorreu o país pregando mudanças políticas e sociais e que jamais foi derrotado pelo governo.
Na Presidência da República
Além da oposição por parte da baixa oficialidade militar, ele ainda confrontou uma guerra civil no Rio Grande do Sul, onde Borges de Medeiros se elegeu presidente do estado pela quinta vez consecutiva, e também o movimento operário que se fortalecia novamente. Em 1923 e 1924 ocorreram novas ações tenentistas no Rio Grande do Sul e em São Paulo, onde ocorreu a Revolta Paulista de 1924, que levou Bernardes a bombardear a cidade de São Paulo. Tudo isso levou Bernardes a decretar o estado de sítio, que perdurou durante quase todo seu governo.
Artur Bernardes foi o pioneiro da siderurgia em Minas Gerais e sempre se bateu pela ideologia nacionalista e de defesa dos recursos naturais do Brasil.
Fundou a Escola Superior de Agricultura e Veterinária em sua cidade natal, Viçosa, que viria depois a se tornar a Universidade Federal de Viçosa.
Sob seu governo, o Brasil se retirou da Liga das Nações em 1926.
Bernardes promoveu a única reforma da Constituição de 1891, reforma que foi promulgada em setembro de 1926 e que alterava principalmente as condições para se estabelecer o estado de sítio no Brasil. Após deixar o governo, foi eleito senador em 1929.
Foi contrário à ascensão de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada ao governo de Minas Gerais mas não pôde evitá-la.
Vida após a presidência
Após a Presidência, foi eleito Senador da República, mandato que exerceu até 1930.
Artur Bernardes, no seu discurso de posse no Senado Federal, em 25 de maio de 1927, estando a cidade do Rio de Janeiro sob grande tensão e expectativa, relembrou a dificuldade que foi sua eleição presidencial de 1922 e sua presidência:
“ | Não estará ainda na memória de todos o que fora a penúltima campanha presidencial? Nela se afirmava que o candidato não seria eleito; eleito não seria reconhecido, não tomaria posse, não transporia os umbrais do Palácio do Catete! | ” |
Carlos Lacerda repetiria, contra Getúlio Vargas, essa frase de Bernardes, na campanha presidencial de 1950.
Participou da Revolução de 1930, que desalojou o Partido Republicano Paulista do governo federal. Foi um Revolucionário constitucionalista de 1932. Fracassado este movimento, exilou-se em Portugal. De volta ao Brasil, em 1934, foi eleito deputado federal para o mandato 1935-1939. Em 1937, porém, perdeu o mandato, devido ao golpe do Estado Novo.
Com o restabelecimento da democracia em 1945, ingressou na UDN, elegendo-se deputado federal constituinte em 1945. Criou e dirigiu a seguir o Partido Republicano. Eleito suplente de deputado federal em 1950, exerceu o mandato, em virtude de convocação, sendo eleito para um novo mandato em 1954. Bernardes defendeu, após 1945, o Petróleo e a Siderurgia nacionais. Ocupou o cargo de deputado federal até a sua morte, em 1955. Foi sepultado no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.
Composição do governo
Vice-presidente
Ministros
- Agricultura, Indústria e Comércio: Miguel Calmon du Pin e Almeida;
- Fazenda: Rafael de Abreu Sampaio Vidal, Aníbal Freire da Fonseca;
- Guerra: General Fernando Setembrino de Carvalho, Almirante Alexandrino Faria de Alencar - interino;
- Justiça e Negócios Interiores: João Luís Alves, José Félix Alves Pacheco - interino, Aníbal Freire da Fonseca - interino; Afonso Augusto Moreira Pena Júnior;
- Marinha: Almirante Alexandrino Faria de Alencar, Contra-almirante Arnaldo de Siqueira Pinto da Luz;
- Relações Exteriores: José Félix Alves Pacheco;
- Viação e Obras Públicas: Francisco Sá
Seu Mé
Bernardes era apelidado pela oposição como "Seu Mé", o que inspiraria os artistas Freire Júnior e Luiz Nunes Sampaio a comporem a música conhecida como "Ai, Seu Mé", de 1922. A composição ironizara Bernardes em diversos versos como em "O queijo de Minas está bichado, seu Zé Não seu porquê é, não sei porquê é" "Aí, seu Mé! Aí Mé,Mé Lá no Palácio das Águias, Olé Não hás de pôr o pé". Com a eventual eleição e subsequente mandato de Bernardes, os compositores foram presos.[2]
Notas
- ↑ A grafia original do nome do biografado, Arthur da Silva Bernardes, deve ser atualizada conforme a onomástica estabelecida a partir do Formulário Ortográfico de 1943, por seguir as mesmas regras dos substantivos comuns (Academia Brasileira de Letras – Formulário Ortográfico de 1943 Arquivado em 4 de junho de 2009, no Wayback Machine.). Tal norma foi reafirmada pelos subsequentes Acordos Ortográficos da língua portuguesa (Acordo Ortográfico de 1945 Arquivado em 24 de fevereiro de 2009, no Wayback Machine. e Acordo Ortográfico de 1990 Arquivado em 20 de maio de 2009, no Wayback Machine.). A norma é optativa para nomes de pessoas em vida, a fim de evitar constrangimentos, mas após seu falecimento torna-se obrigatória para publicações, ainda que se possa utilizar a grafia arcaica no foro privado (Formulário Ortográfico de 1943, IX).
Referências
- ↑ PORTO, Walter Costa, O voto no Brasil, Editora Topbooks, 2002
- ↑ «'Ai, Seu Mé', uma sátira ao candidato Artur Bernardes». GGN. 30 de setembro de 2014. Consultado em 10 de setembro de 2020
Bibliografia
- Quatriennio Arthur Bernardes 1922-1926, Jornal do Commercio, Editora Typ. Jornal do Comércio, 1926.
- AMORA, Paulo, Bernardes: O Estadista de Minas na República, Companhia Editora Nacional, 1964.
- BARATA, Júlio, A Palavra de Arthur Bernardes, 1934.
- BERNARDES, Arthur da Silva, Discursos e Pronunciamentos Políticos, Editora Belo Horizonte, 1977.
- BRANDT, Antônio, Arthur Bernardes e a Revolução Constitucionalista, Editora Academia Letras Viçosa, 1999.
- CHATEAUBRIAND, Assis, A vocação Revolucionária do Presidente Arthur Bernardes, Editora O Jorna, Rio de Janeiro, 1926.
- GÓES MONTEIRO, Norma de, Organizadora, Idéias Políticas de Artur Bernardes, Editora do Senado Federal, 1984.
- JÚNIOR, Amaurílio, Arthur Bernardes e a Revolução, Editora São Benedicto, 1931.
- KOIFMAN, Fábio, Organizador - Presidentes do Brasil, Editora Rio, 2001.
- LIMA, Alberto de Souza, Arthur Bernardes Perante a História, Editora: I. H. G, Belo Horizonte, 1983.
- MAGALHÃES, Bruno de, Arthur Bernardes Estadista da República, Editora Loje, 1973.
- PAVÃO, Ary, Arthur Bernardes e o Brasil, Editora Moderna, Rio de Janeiro, 1931.
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