Berta Gleizer Ribeiro CONMC (Bălţi, 2 de outubro de 1924 — Rio de Janeiro, 17 de novembro de 1997)
Berta Gleizer Ribeiro Berta G. Ribeiro | |
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Outros nomes | Bertha Gleizer |
Conhecido(a) por |
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Nascimento | 2 de outubro de 1924 Bălţi, Bessarábia, Principado da Moldávia |
Morte | 17 de novembro de 1997 (73 anos) Rio de Janeiro, Brasil |
Residência | Brasil |
Nacionalidade | moldava brasileira |
Progenitores | Mãe: Rosa Gleizer Pai: Motel Gleizer |
Parentesco | Genny Gleizer (irmã) |
Cônjuge | Darcy Ribeiro (c.1948 – s.1974) |
Alma mater |
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Prêmios | Ordem Nacional do Mérito Científico |
Causa da morte | tumor cerebral |
Orientador(es)(as) | Amadeu José Duarte Lanna |
Instituições | |
Campo(s) | etnologia, antropologia, museologia |
Tese | A Civilização da Palha. A Arte do Trançado dos Índios do Brasil (1980) |
Berta Gleizer Ribeiro CONMC (Bălţi, 2 de outubro de 1924 — Rio de Janeiro, 17 de novembro de 1997) foi uma antropóloga, etnóloga e museóloga moldava-brasileira, autoridade em cultura material dos povos indígenas do Brasil. Foi casada com o também antropólogo e senador Darcy Ribeiro.[1]
Berta teve uma infância triste e de grande sofrimento familiar pelo qual passa após o suicídio da mãe, juntamente com sua irmã Genny — ficaram abandonadas numa pequena província do Leste Europeu, pois seu pai já se encontrava no Brasil em busca de oportunidades após perseguição antissemita que os judeus estavam sofrendo na região.[2] Somente após a ajuda de uma organização internacional é que as duas conseguiram se reencontrar com o pai em 1932.[2] Alguns anos depois, sua irmã e seu pai são deportados do Brasil pela repressão aos comunistas vigente na Era Vargas. Ficando sozinha em um país estranho, passa a ser cuidada por famílias de imigrantes judeus, sob a tutela do Partido Comunista Brasileiro, se casando posteriormente com Darcy Ribeiro em 1948.[1][2]
A carreira de Berta Ribeiro passa a ser então construída de acordo com os movimentos profissionais e políticos do marido ao longo dos anos, mas sua grande ascensão ocorre quando dele se separa nos anos 70, já com 50 anos de idade.[3] Adquire então uma nova paixão, os saberes e fazeres dos povos indígenas, e esse reposicionamento pessoal propicia a sua manifestação e produção em vários setores: acadêmico, político, cultural, editorial e artístico, se tornando posteriormente a maior especialista em cultura material indígena no Brasil do seu tempo.[3]
Desbravadora, ia a campo desenvolver suas pesquisas, a partir do contato direto com diferentes povos indígenas em vários estados do país. Construiu também importantes bases metodológicas e de classificação para pesquisas de cultura material e na documentação etnomuseológica dos acervos etnográficos.[3] Sua intensa produção acadêmica, artística e cultural é decorrente da sua dedicação ao trabalho, pois atuou em diversas frentes — como pesquisadora e formadora de coleções em museus, publicou nove livros e mais de quarenta artigos, escreveu capítulos em várias obras, além de professora universitária em cursos de graduação e pós-graduação.[3] Até o fim da vida, exerceu múltiplas funções, o que indica que seus campos de interesse eram vastos e contundentes: Antropologia, Museologia, Arte e até mesmo a Ecologia.[3]
Biografia
Primeiros anos e casamento
Berta nasceu em 1924, na cidade de Bălţi (em alemão: Belz) (atualmente na Moldávia), na região romena da Bessarábia. Filha de Rosa e Motel Gleizer. Seu pai deixou a Bessarábia em julho de 1929 imigrando para o Brasil na busca por melhores condições de sobrevivência e desenvolvimento, pois a situação era precária devido as graves restrições que os judeus na Romênia vinham sofrendo com o aumento do antissemitismo, a ascensão de movimentos fascistas cristãos e também dos ataques pogroms no território.[1][2] Não podendo mandar buscar sua família de imediato, nem mandar-lhe o necessário para viver, Motel Gleizer foi surpreendido com a notícia do suicídio de Rosa, pois ela não suportara a vida miserável.[2] Suas duas filhas ficaram abandonadas sem família, sem teto e sem comida. Foi por intermédio da Jewish Colonization Association (JCA), uma organização internacional que fornecia aos judeus meios para emigrarem e também pela intercessão do rabino Raffalovich, que trouxeram as meninas para o Brasil.[2] Berta chega ao Rio de Janeiro como imigrante, aos oito anos de idade na companhia da irmã, Genny Gleizer de quatorze anos (às vezes, escrito Jenny) em 1932, indo morarem nos arredores da Praça XI, reduto da comunidade judaica na época, onde seu pai tinha um pequeno comércio.[2][1][4][5]
Em 1934, sua irmã Genny vai para São Paulo em busca de trabalho, sendo presa pela polícia política paulista indevidamente, quando ainda era menor de idade, acusada de ser comunista.[5][6] Apesar da grande comoção no país e mesmo com protestos populares contra sua prisão, Genny Gleizer seria deportada para a Romênia em outubro de 1935, por decreto do então presidente Getúlio Vargas por "atividades subversivas", possuir "propaganda marxista" e "propagar ideais comunistas".[6][5][4] Chegando à Europa entretanto, foi resgatada por membros do Socorro Vermelho Internacional, e passou a viver na França, Peru, Rússia até se estabelecer nos Estados Unidos, onde formou-se em psicologia e falecendo de causas naturais.[2][6][5] Já no então início de 1936 – auge da repressão aos comunistas no Brasil –, a polícia política invade um centro cultural de trabalhadores judeus onde funcionava a redação do semanário Der Unhoib (O Começo), buscando e prendendo os estrangeiros que lá se encontravam, sendo a maioria deportada juntamente com seu pai.[6][2] Assim como Genny, Motel Gleizer teria sido resgatado na França junto a outros militantes expulsos do país[2] ou morto em um campo de concentração[6] — essa informação é incerta.
Berta ficou sozinha no Brasil, e entre 1936 e 1940 foi morar com famílias judias no Rio de Janeiro e em São Paulo, e também sob a guarda do Partido Comunista Brasileiro (PCB), onde seu pai, líder sindical, e sua irmã eram militantes e filiados. Em São Paulo, estudou na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, frequentando também um curso técnico de contabilidade, e para levantar dinheiro e concluir seus estudos, foi datilógrafa e também secretária — com esse emprego, mudou-se para uma pensão em 1940, tornando-se independente do PCB.[1][6][4]
Em 1946, conhece seu futuro marido, Darcy Ribeiro, em uma manifestação do Partido Comunista em São Paulo, casando-se em maio de 1948, quando o mesmo ingressou no Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Com ele, partiu para um trabalho de campo entre os índios Kadiwéu, Kaiowás, Terenas e Ofaié-Xavantes do sul do Mato Grosso.[1][7] Assim, passou a assinar Berta G. Ribeiro, omitindo o sobrenome Gleizer, o qual poucos conheciam,[8] pois sempre temeu ter o mesmo destino de seus familiares.[6]
O lado romeno de Berta Ribeiro era desbravador e foi exercido em inúmeras pesquisas de campo que se iniciaram entre 1949 e 1951 quando começou a acompanhar o marido.[9] A esse respeito, descreveu Maria Stella Amorim: "de seu amor por Darcy adveio a paixão pela antropologia", e as viagens se seguiram até quase o fim da sua vida.[9] O trecho, retirado da obra autobiográfica Confissões de Darcy Ribeiro, retrata, ainda que de maneira breve, a importância da esposa em sua vida:
“ | Colaborou de forma assinalável comigo como auxiliar de pesquisa e teve sua primeira formação como etnóloga capacitada para observação direta. Nos anos seguintes, Berta aprofundou seus estudos me ajudando a elaborar os materiais colhidos na redação de meus livros sobre a arte, a religião e a mitologia dos Kadiwéu. | ” |
— Darcy Ribeiro. Confissões. p. 109[10]. |
Berta nunca foi apenas uma "mera auxiliar" ou "secretária" de Darcy, como alguns se referiam a ela até em tom de chacota,[8] mas sim, uma antropóloga dedicada e uma ativa militante da causa indígena. Sua obra é referência para pesquisadores e estudiosos das áreas de museologia e antropologia em todo o mundo, sendo considerada uma das maiores autoridades em cultura material dos povos indígenas do Brasil.[8]
Carreira
Em 1950, Berta Ribeiro ingressou no bacharelado em Geografia e História da Universidade do Distrito Federal, hoje a Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Concluiu o curso em 1953, indo lecionar Geografia do Brasil no Instituto Lafayette.[1] Em 1953, começou a estagiar na Divisão de Antropologia do Museu Nacional, iniciando seus estudos para criar uma classificação dos adornos plumários dos índios Urubu-Kaapor,[1] concluindo sua licenciatura em Geografia e História em 1954.[1][4]
Bases para uma Classificação dos Adornos Plumários dos Índios do Brasil, publicado por ela em 1957, os volumes da Suma Etnológica Brasileira e o Dicionário do Artesanato Indígena, constituem bases metodológicas e classificatórias indispensáveis nas pesquisas da cultura material e na documentação etnomuseológica de acervos etnográficos, que fundamenta-se na elaboração de instrumentos para os estudos de cultura material, sendo um campo inovador desbravado por Berta.[11] Apresentou diversos trabalhos e organizou mostras culturais nos anos seguintes, sempre com temáticas sobre cultura indígena. Recebeu o Prêmio João Ribeiro de Ensaios, da Academia Brasileira de Letras (ABL), pelo livro Arte Plumária dos Índios Kaapor, em colaboração com o marido.[1] Entre 1959 e 1960, empreende pesquisa bibliográfica para a elaboração do artigo Línguas e Culturas Indígenas no Brasil e do livro Os Índios e a Civilização, de Darcy Ribeiro.[1]
Exílio
Com o Golpe de Estado no Brasil em 1964, Berta Ribeiro e o marido exilaram-se no Uruguai. Trabalha então na pesquisa bibliográfica e na revisão de traduções para a série Estudos de Antropologia da Civilização e no levantamento bibliográfico e estatístico de A Universidade Necessária, ambas publicações de Darcy Ribeiro.[1] Ambos retornaram ao Brasil em 1968, mas Darcy foi preso e ficou durante oito meses na Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói. Do lado de fora, Berta mobilizou intelectuais e pessoas influentes para agilizar sua libertação.[1] Após nova determinação de prisão pelo regime militar, o casal segue então para um segundo exílio em 1969 na Venezuela, e de 1970 a 1974 no Chile e no Peru. Em Lima, Berta Ribeiro realiza pesquisa sobre estrutura familiar e socialização em uma oficina coordenada pela professora Violeta Sara Lafosse, recolhendo dados para sua dissertação Crianças Trabalhadoras – Trabalho e Escolaridade de Menores em Lima.[1]
Retorno ao Brasil
Em 1974, já no Brasil, separa-se de Darcy e no ano seguinte presta consultoria para a elaboração do projeto do Centro de Documentação Etnológica e Indigenista do Museu do Índio, dirigido por Carlos de Araújo Moreira Neto e em 1975 assume a assistência de direção da Editora Paz e Terra.[1] No ano de 1976, estagia no setor de Etnologia e Etnografia do Departamento de Antropologia do Museu Nacional e atua como pesquisadora no projeto Etnografia e Emprego Social da Tecnologia Indígena e Popular coordenado por Maria Heloísa Fenelón Costa.[1] Em 1977, torna-se Pesquisadora B do CNPq. Visitou diversas aldeias indígenas no Alto e Médio Xingu e no Ceará. Entre 1978 e 1979, participou do Movimento Feminino pela Anistia e da Campanha pela demarcação das Terras Indígenas, coordenada pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI).[1]
“ | Dada a gravidade da ameaça que pesa sobre a população indígena e a ecologia da Amazônia, nenhuma instituição comprometida com o futuro do país pode eximir-se de tomar partido. A omissão significa complacência e cumplicidade. | ” |
— Berta Ribeiro, [1] |
Em 1978, quando a antropóloga se encontrava na região do Alto Rio Negro para estudar o trançado indígena, teve conhecimento que dois indígenas haviam escrito a mitologia dos Desana, motivados anteriormente por um padre da Missão Salesiana de São Gabriel da Cachoeira a passar para o papel essas narrativas.[7] No mesmo período em que estava na localidade, os originais foram devolvidos pela editora, se interessou pelo projeto e ajudou pai e filho — Umúsin Panlõn Kumu (Firmiano Lana) e Tolamãn Kenhirí (Luis Lana), a reformularem o texto de forma a conseguir sua publicação em 1980, que se tornou o livro Antes o Mundo Não Existia: A Mitologia Heróica dos Índios Desana, e criando assim, uma parceria com a família Lana que se estendeu até o fim da sua vida.[7][11] Sempre ficou patente em suas publicações e em seu discurso, o quanto ela prezava de modo especial os Desana, dentre todos os grupos indígenas que conheceu.[9]
Em princípios dos anos 80, no Rio de Janeiro, Berta Ribeiro convidava a visitar a exposição Os Índios das Águas Pretas, provavelmente a primeira das que organizou, e que envolvia, como as que se seguiram posteriormente, a comunicação clara e objetiva de aspectos da vida indígena, assim como a discussão de temas amazônicos relacionados com a preocupação ecológica.[9] Nessa mesma ótica, foram montadas com grande repercussão, Brasilidades na Casa França-Brasil em 1998 e Amazônia Urgente em 1990, que acompanhada de seu livro homônimo, itinerou pela Estação Carioca no Rio de Janeiro, pelo Centro Cultural São Paulo, em Brasília e pelo Centro Cultural Tancredo Neves em Belém.[9] Ainda em 1980, defendeu seu doutorado na Universidade de São Paulo, sob a orientação do professor Amadeu José Duarte Lanna, com a tese intitulada A Civilização da Palha: A Arte do Trançado dos Índios do Brasil,[1][12] que representa um dos mais completos estudos de cestaria indígena do Alto Xingu e do Alto Rio Negro, abordando os aspectos tecnológicos, produtivos e estéticos dessa arte.[11] A análise comparativa dessa produção artística especifica, lança luzes sobre o sistema de trocas existente nos dois territórios.[9]
Entre 1982 e 1983, inicia a elaboração e coordenação do periódico Suma Etnológica Brasileira e em 1884, assume a coordenação geral do comitê editorial e tem seu ex-marido Darcy Ribeiro como editor.[1] Ainda em 1983, publica O Índio na História do Brasil, coleção dirigida por Jayme Pinsky, e destinada à estudantes do ensino médio e universitários,[1] que se divide em duas partes: na primeira, a autora apresenta os indígenas na história do Brasil a partir da colonização até o final do século XX e, posteriormente, suas contribuições à nossa própria cultura.[13]
Visitou vários museus pelo mundo, organização exposições sobre a arte e cultura indígenas do Brasil, além de publicar constantemente sobre povos e costumes. Foi assessora da FUNAI e chefe de museologia da mesma instituição em 1985 e também professora visitante no programa de mestrado da Escola de Belas-Artes (UFRJ).[1] Em 1988, assume por concurso o cargo de professora assistente nível 1 do Departamento de Antropologia do Museu Nacional, desligando-se assim do Museu do Índio.[1] Berta Ribeiro foi membro da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), do Conselho Regional de Museologia do Rio de Janeiro; do Conselho Editorial das Revistas Ciências em Museus, Ciência Hoje das Crianças e dos Anais do Museu Paulista; da Comissão Julgadora da seleção para a Pós Graduação em Artes Visuais, mestrado em História e Crítica da Arte, na Escola de Belas-Artes (UFRJ).[1]
O livro Arte Indígena, Linguagem Visual, publicado em 1989, constituiu-se na sua mais complexa abordagem dos “conteúdos e significados das manifestações estéticas do índio brasileiro, através da análise de casos concretos” como informa no prefácio, um caminho pouco trilhado da Antropologia da Arte, mas abraçado por Berta Ribeiro, pela sua familiaridade na leitura e na classificação de objetos.[11][9] Já O Índio na Cultura Brasileira publicado por ela em 1991, apresenta algumas das contribuições indígenas à cultura brasileira nas áreas da Botânica, da Zoologia, Cultura Material, da Arte e da Linguagem.[13] Em 1994, participou de um projeto para edição de desenhos animados que seriam integrantes de uma série chamada Mito e Morte no Amazonas, baseada em mitos Desana descritos no livro Antes o Mundo Não Existia, e que seria composta pelos curtas-metragens: Gaín Pañan e a Origem da Pupunheira, Bali Bó e O Começo Antes do Começo — dos três, apenas o primeiro foi concretizado.[7] Em seu livro Os Índios das Águas Pretas, publicado em 1995, aborda conteúdos relacionados à ecologia e à cultura material, temas centrais em seu trabalho,[11] com o intuito de, em suas palavras, "suscitar a reflexão sobre a criatividade das culturas indígenas, sobre o saber ecológico do índio e sobre o legado indígena brasileiro, transmitido para milhões de interioranos".[9]
Quando não estava em campo, Berta Ribeiro refugiava-se no seu escritório, em seu apartamento em Copacabana. Esse ambiente constituía o seu "oásis", onde a máquina de escrever, manejada com perícia e herança dos tempos de datilógrafa em São Paulo, ocupava um lugar de destaque. Dessa máquina tudo brotava: artigos, livros e cartas — a correspondência era um capítulo à parte, pois sua dedicação para que nada ficasse sem resposta, fez dela uma aficcionada pelo correio eletrônico posteriormente.[9] Ainda em seu apartamento, as estantes refletiam as aquisições, o intercâmbio e uma produção que alcançou nove livros e mais de quarenta artigos publicados, numa vida devotada ao estudo das culturas indígenas,[9] além de armazenar cuidadosamente um acervo de aproximadamente quinhentas peças, reunidas ao longo dos anos, com contribuições de Darcy Ribeiro e Eduardo Galvão — especificamente, que destinava-se a viabilizar o projeto do Museu do Índio a ser implantado em Brasília.[9]
A formação de acervos de bens materiais dos grupos indígenas que estudava, constituía um de seus principais interesses, pois como estudiosa da cultura material, "Berta lia objetos e os colecionava".[9] Seu interesse colecionista foi estendido para outros museus, através de doações, como foi o caso do Museu Paraense Emílio Goeldi, que recebeu da antropóloga uma importante coleção Asurini.[9] Institucionalmente, esteve associada ao Museu do Índio e ao Museu Nacional, atuando como pesquisadora e formadora de coleções etnográficas.[9] Como professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ministrou aulas no curso de Pós-Graduação em História da Arte nas disciplinas: "Arte Indígena no Brasil" e "Cultura Material e Arte Étnica", orientando os alunos nos temas de sua especialidade.[11] Paralelamente, empenhou-se na promoção e publicação de estudos museológicos, apesar de seu baixo prestígio no meio acadêmico, pois acreditava que esses estudos permitiam apoiar a causa indígena e porque considerava os museus como um meio de educação pública.[9]
Berta Ribeiro reuniu uma extensa coleção de artefatos, desenhos, fotografias e amostras de espécimes vegetais, barro e tinta. Estudou a fundo técnicas de fiação, tecelagem entretecida, tecelagem enlaçada (filé), uso de corantes e fibras têxteis, destinando-os para o acervo do Museu Nacional,[1] mas infelizmente, em setembro de 2018, houve um incêndio de grandes proporções que destruiu quase a totalidade do acervo histórico e científico que havia na instituição.
Aposentadoria e morte
Devido a um tumor cancerígeno, entrou em coma em 1995. Mas um pouco antes, em sua própria casa por motivo da doença, recebeu do governo brasileiro a medalha de Comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico,[1] em virtude do seu compromisso e rigor com a produção do conhecimento científico, pois os caminhos percorridos por Berta Ribeiro sempre foram amplos, porque vastos eram os seus interesses: Antropologia, Ecologia, Museologia, Arte e sua principal especialidade, a Cultura Material Indígena.[11] No ano seguinte, aposentou-se em decorrência do estado avançado da doença, falecendo em 17 de novembro de 1997, aos 73 anos, exatamente 9 meses após o falecimento de seu ex-marido Darcy Ribeiro.[1]
Berta parece ter feito de seu trabalho a razão de sua vida, como constantemente dizia à amiga Maria Stella Amorim:[7]
“ | Eu não posso ser judia, porque não tenho religião... Não tenho família, nem marido, nem filhos. Sou sozinha. Só tenho mesmo meu trabalho com os índios. Devo a eles o que sou... Eu me sinto Desâna. | ” |
— Berta Ribeiro |
Premiações
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Acervo pessoal
No período de 27 anos em que esteve casada com Darcy, Berta Ribeiro teve papel primordial na elaboração de suas obras, e também foi responsável pela revisão, tradução e catalogação de diversas cartas, obras e documentos reunidos ao longo da trajetória profissional de seu então marido, que culminaram na criação da Fundação Darcy Ribeiro (Fundar).[10] A construção desse arquivo, que abriga o acervo documental e as bibliotecas dos dois antropólogos, surgiu do desejo de Darcy de ser lembrado por sua contribuição intelectual, e não apenas por seus projetos políticos.[10]
O acervo pessoal de Berta Ribeiro foi reunido, juntamente com o do seu ex-marido, em uma biblioteca que está localizada no Memorial Darcy Ribeiro (Beijódromo) na Universidade de Brasília.[14] São cerca de 30 mil volumes de documentos acumulados por ambos ao longo de mais de 50 anos de intensa atividade em diferentes âmbitos do conhecimento.[14] Constituem-se de dois extensos arquivos que se complementam, contendo registros textuais, iconográficos, filmográficos e sonoros, revelano não apenas a produção cultural e científica de seus autores, mas também das expressões culturais, memória e história de grupos formadores da sociedade brasileira e latino-americana.[14] Os acervos de Darcy e de Berta Ribeiro, reunidos em diferentes suportes, dialogam, uma vez que os dois antropólogos apresentam, em seus percursos biográficos, pesquisas e publicações realizadas individualmente ou em parceria, nas áreas da Etnologia, Antropologia, Cultura e Política.[14] A biblioteca estabelece desse modo, uma estreita relação com o conjunto de documentos arquivísticos, agregando todos os campos pertencentes à biografia e a atividade profissional resultante da ação intelectual de ambos os autores.[14]
Obras
Levantamento de publicações da autora, extraído do artigo escrito por Lucia Hussak van Velthen:[9]
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Capítulos de livros
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Livros
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Textos inéditos
1980 - A Civilização da Palha: A Arte do Trançado dos Índios do Brasil. Universidade de São Paulo, Tese de Doutorado. 590 pp.
1988 - Classificação dos Solos e Horticultura Desana. 18 pp.
1994(?) - Índios do Brasil: 500 Anos de Resistência. Ms.
Referências
- ↑ ab c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab «Biobibliografia Berta Ribeiro». Fundação Darcy Ribeiro. N.d. Consultado em 10 de dezembro de 2016. Cópia arquivada em 20 de dezembro de 2016
- ↑ ab c d e f g h i j Antão, Ana Carolina da Cunha Borges (2017). Gênero, imigração e política: o caso da judia comunista Genny Gleizer no Governo Vargas (1932-1935) (PDF) (Dissertação de Mestrado Acadêmico). Rio de Janeiro: COC/FIOCRUZ. 141 páginas. Consultado em 10 de janeiro de 2023
- ↑ ab c d e Simões, Jussinara Lopes de Jesus (junho 2022). «Identidade histórica, memória e os direitos das mulheres na produção biográfica de Ana Arruda Callado» (PDF). Revista Espaço Acadêmico - Edição Especial: 27-38. ISSN 1519-6186. Consultado em 13 de janeiro de 2023
- ↑ ab c d Pondé, Consuelo (19 de março de 2014). «A Antropóloga Berta G. Ribeiro». Tribuna da Bahia. Consultado em 10 de dezembro de 2016. Cópia arquivada em 20 de dezembro de 2016
- ↑ ab c d Arruda, Cláudia Maria Calmon (janeiro–junho de 2010). «Memórias num bordado: traços de Genny Gleizer no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro» (PDF). Uberlândia. Cadernos de Pesquisa do CDHIS. 23 (1): 15-22. ISSN 1518-7640. doi:10.14393/cdhis.v23i1.7700. Consultado em 24 de novembro de 2022
- ↑ ab c d e f g C. Buonicore, Augusto (9 de agosto de 2015). «O caso Genny Gleizer: a garota judia e comunista deportada por Vargas § Geral/Nacional». Portal Vermelho. Consultado em 10 de dezembro de 2016
- ↑ ab c d e Vogas, Ellen Cristine Monteiro (janeiro–junho de 2014). «Berta Gleizer Ribeiro: da militância ao afeto, o percurso de uma antropóloga» (PDF). Campos dos Goytacazes: UENF. Terceiro Milênio: Revista Crítica de Sociologia e Política. 2 (1): 122-137. ISSN 2318-373X. Consultado em 24 de novembro de 2022
- ↑ ab c Goldenberg, Mirian (23 de março de 2022). «Berta G. Ribeiro: muito mais do que a mulher de Darcy Ribeiro § Opinião». Folha de S. Paulo. Consultado em 5 de dezembro de 2022
- ↑ ab c d e f g h i j k l m n o p van Velthen, L. H. (1998). «Berta Ribeiro (1924-1997)» (PDF). Brasília: UNB. Anuário Antropológico. 22 (1): 365-372. ISSN 2357-738X. Consultado em 16 de abril de 2022
- ↑ ab c Rodrigues, Luiz Otávio Pereira (janeiro–julho de 2022). «Cosmopolitismo Latino-Americano: Darcy Ribeiro no exílio e a descoberta do singular» (PDF). s.l.: UFF. Revista Discente Planície Científica. 4 (1): 27. Consultado em 29 de novembro de 2022
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- ↑ ab Índios do Brasil 1 (PDF). Col: Cadernos da TV Escola reimpressão ed. Brasília: MEC/SEED/SEF. 2001. p. 32. ISSN 1517-2333. Consultado em 14 de dezembro de 2022
- ↑ ab c d e «Inventário § Acervo». Fundação Darcy Ribeiro. N.d. Consultado em 27 de novembro de 2022
Bibliografia
- CALLADO, Ana Arruda (2016). Berta Ribeiro: Aos Índios, com Amor – Uma Biografia. Rio de Janeiro: Batel. 176 páginas. ISBN 9788599508763
Ligações externas
- «Entrevista de Berta Ribeiro ao Programa "Tome Ciência" (Rádio USP/SBPC)». A entrevista foi realizada em 1988, quando Berta recebeu o Prêmio Érico Vanucci Mendes para "Trabalhos de Preservação da Memória Nacional, Tradições Populares e Traços Culturais" durante a 40ª RASBPC (SoundCloud). Consultado em 22 de abril de 2022
- «Programa de Índio: Escrevendo a Cultura (As línguas indígenas e as iniciativas de conhecimento e preservação, a partir da publicação de livros didáticos em tupi). Com Ruth Monserrat, lingüista da UFRJ; Berta Ribeiro, antropóloga do Museu Nacional; Bruna Francheto, lingüista da UFRJ e Nietta Lindenberg, da Comissão Pró-índio do Acre». Acervo: Debates do Antigo "Tome Ciência" (Vimeo) - programa nº 125, exibido em 14 de abril de 1990. Consultado em 22 de abril de 2022
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