quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Márcia Imperator

Dona de um corpo cheio de curvas bem definidas, tipo corpão violão, ela tem um rosto expressivo, quadrado, forte. Não tem pudores ou papas na língua ao contar detalhes da carreira, mas conta tudo com doçura. “Eu dei a cara para bater. Muitas mulheres se fazem de santa e estão traindo seus maridos.”
Débora Klempous / ND
Márcia Imperator vive tranquilamente em Florianópolis. Gosta de cuidar da casa e das filhas

Literalmente deu a cara à tapa. Ela conta que em suas primeiras experiências como atriz pornô procurou levar para o set aquilo que como telespectadora gostaria de ver. “Pensei: eu não vou fazer o que já fazem. E eu adoro me masturbar”, conta. Assim, suas cenas mostram a verdade com que encara o trabalho e, portanto, gravar nunca foi nada como sexo em tom de martírio, muito pelo contrário. “Estava ali, com um gostosão, ganhando uma grana, por que não aproveitar?”, diz.
Márcia já contracenou com ícones da cinematografia pornô, como Alexandre Frota, Rita Cadillac e até Kid Bengala, famoso ator pornô brasileiro, conhecido por fazer jus ao apelido. Com ele, aliás, ela garantiu não ter tido nenhuma dificuldade. “Foi normal.”
Embora assista a filmes pornográficos, ela diz que prefere não assistir aos seus. E emenda histórias de bastidores das filmagens do gênero. “Os homens aplicam uma injeção próximo ao pênis para prolongar a ereção por até cinco horas.” Ela conta que durante as gravações de “Sexo na Fazenda” (2007), dirigido por J. Gaspar – diretor de filmes pornô premiado –, um dos atores precisou empurrar um carro da produção que atolou depois que caiu uma tempestade enquanto gravavam perto de uma árvore. “O cara teve que empurrar sem roupa mesmo e com o pênis ereto.”
Ela explica como durante as gravações é tudo muito profissional. “Chegamos ao local, cada um vai para o seu quarto, fica limpinho e cheiroso para a cena. A gente só se vê e se fala mesmo na hora.”
História de vida de cinema
Atuar como atriz pornô talvez tenha sido a profissão mais animada e financeiramente viável de Márcia Imperator. Sua história de vida remete a de uma Cinderela moderna e sem pudor. Ela já trabalhou na roça, como garçonete de bingo, foi babá, empregada doméstica, ajudante de cozinha, faxineira.
Ela nasceu na cidade paranaense de Boa Vista da Aparecida. Passou a primeira infância no interior de São Paulo e ainda antes de completar dez anos partiu com a família num fusca para o interior do Rio Grande do Sul. “Lá trabalhamos na roça.” De novo a família se mudou, dessa vez para Chapecó, Oeste catarinense. “A gente trabalhava plantando melancia, milho.”
“Então fugi de casa”, conta. Ela tinha 13 para 14 anos, e literalmente pulou a janela porque achava que apanhava muito da mãe. Mas no final das contas, segundo ela mesma, foi pior. Casou como alternativa à casa dos pais e quando tinha 15 anos nasceu a primeira das três filhas. Aos 21 veio para Florianópolis, onde trabalhou de tudo. Na época, para libertar-se de um namoro sufocante, viu como única alternativa mudar de cidade. Em São Paulo sua vida aconteceu.
Na Ilha já tinha alguma experiência com televisão, como participante de programas de auditório. Na capital paulista uma amiga a chamou para trabalhar com Sérgio Malandro. Depois de participar de inúmeros outros quadros na TV e figurante em programas humorísticos, finalmente a chamaram para fazer o “Teste de Fidelidade”, quadro num programa de João Kléber que se propunha a testar a fidelidade das pessoas. Ficou famosa. “Me disseram que tinha que ficar de calcinha e sutiã e beijar na boca. Eu disse que não tinha problemas. Não tinha namorado mesmo.”
Quando saiu da TV, passou a fazer shows de striptease, seu trabalho até hoje. Foi nessa época que seu empresário sugeriu o cinema. “Em 40 minutos eu ganharia uma grana preta”, comenta. Ligou então para os pais, consultou as filhas. “Meu pai disse: ‘dar você vai dar mesmo. Pior é dar de graça e ainda passar fome.’”. Ela não revela o quanto chegou a faturar, mas diz que conseguiu criar as filhas, comprar casa, carro.
Ela parou de fazer filmes porque a produtora faliu. “Outras me procuraram, mas ofereceram cachê inferior.” Namorando há três meses, o saxofonista de Florianópolis Jeovanny de Luch, 43, respeita o trabalho dela. “Não julgo”, diz ele. E Márcia diz que se surgir nova oportunidade para atuar, e se o cachê valer a pena, não pensa em negar. “Quem me critica é porque queria estar no meu lugar e não tem coragem”, dispara.

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