O Profeta Khalil Gibran
Sexto sentido nº 13
Com uma vida dedicada a escrever e pintar, vivendo estritamente de acordo com os preceitos contidos em sua obra, Gibran Khalil Gibran é considerado um dos principais escritores do planeta e sua mensagem, eterna.
A pequena aldeia de Besharre, no Líbano, é tida como guardiã dos cedros sagrados do Líbano e, segundo nos conta a história, foi de lá que o rei Salomão obteve a madeira para construir o Templo de Jerusalém. A aldeia também se situa nas proximidades das ruínas de Baalbeck, considerada uma das cidades mais antigas do mundo. Próxima a Besharre estende-se a cidade de Caná, onde Jesus realizou o milagre da transformação da água em vinho.
Foi nesse ambiente histórico repleto de referências religiosas importantes que nasceu Gibran Khalil Gibran, no ano de 1883. Além de ser considerado um dos artistas mais importantes do Líbano, seu nome é respeitado em todo o mundo pela profundidade mística de sua obra, composta de vários livros e pinturas. Sua principal criação, o livro O Profeta, traduzido para mais de 30 idiomas e ainda hoje um dos maiores best-sellers todo o planeta, teve grande influência na vida de milhões de pessoas, independente de seus credos religiosos e tendências espirituais.
Gibran viveu na aldeia até os 11 anos, quando imigrou para os Estados Unidos, retornando ao Líbano quatro anos depois para completar seus estudos do árabe. Cursou os Colégio da Sabedoria, dos padres maronitas, e retornou à América aos 19 anos. A carreira como um dos mais inspirados escritores e pintores do século começou em 1905, com a publicação de A Música, sua primeira obra — um panfleto em que ele ressalta a importância da melodia, em particular a árabe. O poeta chamou o trabalho de a linguagem da alma e do coração. No ano seguinte, publicou As Ninfas do Vale (Nymphs of the Valley) em Nova York, uma coleção de três contos onde se destacam suas convicções antifeudais e anticlericais.
Em 1908, além da publicação de As Almas Rebeldes (Spirits Rebellious), outra coleção com quatro contos, Gibran foi para Paris estudar na Academie Julien e na Academia de Belas Artes, onde pode desenvolver outra de suas qualidades marcantes: a pintura. Inspirado por William Blake e Rodin, ele é considerado um pintor visionário — qualidade muitas vezes atribuída também à obra de Blake —, com telas repletas de símbolos e metáforas referentes à busca humana e sua fé na vida, no homem e em Deus. Todos os seus livros em língua inglesa foram ilustrados com suas pinturas, e muitas delas encontram-se expostas no Gibran Museum, em sua aldeia natal.
Missão de Vida
Mais do que escrever um dos livros de maior importância para a espiritualidade do século XX, Gibran sempre sentiu que possuía uma capacidade que ia muito além do homem comum. Em uma das inúmeras cartas que escreveu a amigos, ele dizia: “Sinto que há nas profundezas de meu coração uma grande força que quer se manifestar, mas ainda é incapaz de fazê-lo”.
A composição de sua obra maior começou a ser esboçada ainda aos 15 anos, quando o poeta delineou uma primeira versão de O Profeta, toda escrita em árabe. Em 1910, já conhecido por outros livros escritos em árabe, começou a redigir O Profeta em inglês, polindo a obra constantemente. Em inglês, Gibran chegou a reescrever o texto cinco vezes, e apenas em 1923 entendeu que tinha chegado à versão ideal, enviando-a a seu editor. Khalil Gibran sentia que toda sua existência tinha como único sentido a produção daquele trabalho. Numa carta a seu editor Emile Zeidan, antes de finalizar O Profeta, o autor disse: “Os vinte anos que vivi como escritor e pintor foram simplesmente uma época de preparação e desejo. Ainda não produzi nada que mereça ficar à face do sol”.
Embora os críticos entendam que outras obras de Gibran mereçam lugar de grande destaque, é com O Profeta que ele pode, enfim, dizer o que sempre desejou, as verdades que estavam guardadas em sua alma. “Enfim, pronunciei-a”, ele desabafou, “a palavra que carrego desde que nasci e que vim a este mundo para pronunciar”. Seu entusiasmo com o livro é tamanho que ele chegou a declarar que lamentava ter escrito tantos outros, já que tinha vindo ao mundo para viver e escrever um único e pequeno volume.
Desde que foi publicado, O Profeta é considerada por muitos como uma das obras mais profundas na história da literatura e da espiritualidade. Gibran nunca se casou, jamais se interessou por negócios, sempre morou em residências extremamente simples e, mesmo quando a venda de seus livros e quadros atingiram cifras astronômicas, tornando-o milionário, ele em nada alterou suas atitudes. O grande pensador sempre acreditou que tinha uma missão a cumprir e viveu de acordo com essa fé.
Revolucionário
Um fato pouco conhecido da obra de Gibran no Ocidente, porém bastante comentado no Oriente, é seu lado revolucionário, explícito no livro As Almas Rebeldes, de 1908. O texto despertou a ira da Igreja e do império turco, que o excomungou e exilou. Em quatro histórias de fundo filosófico, Gibran defendia as classes menos privilegiadas contra seus exploradores.
O autor voltou a manifestar esse aspecto, que ele próprio considerava extremista, em Temporais (The Tempests, 1920). Defendendo as posições radicais e intolerantes que assumia, Gibran disse que “quem é moderado na proclamação da verdade proclama somente a metade da verdade”. Nessas obras e em outras, como As Ninfas do Vale e Asas Partidas, ficou bem clara sua revolta contra a submissão da mulher, as violências do homem contra o homem e todo tipo de injustiças.
A obra de Gibran também ficou marcada como uma das poucas que, nas primeiras décadas do século XX, falava sobre a Criação como uma benção original de Deus, sobre a dimensão feminina do Divino, sobre a unidade transcendental da experiência religiosa, além de defender uma desobediência civil orientada ou motivada pela religiosidade, algo que mais tarde foi copiado pela Teologia da Libertação e por uma série de movimentos civis. Ainda assim, Gibran rejeitava a religião organizada, interessando-se pelo crescimento espiritual independente das convenções e da moralidade segundo determinadas regras.
A pequena aldeia de Besharre, no Líbano, é tida como guardiã dos cedros sagrados do Líbano e, segundo nos conta a história, foi de lá que o rei Salomão obteve a madeira para construir o Templo de Jerusalém. A aldeia também se situa nas proximidades das ruínas de Baalbeck, considerada uma das cidades mais antigas do mundo. Próxima a Besharre estende-se a cidade de Caná, onde Jesus realizou o milagre da transformação da água em vinho.
Foi nesse ambiente histórico repleto de referências religiosas importantes que nasceu Gibran Khalil Gibran, no ano de 1883. Além de ser considerado um dos artistas mais importantes do Líbano, seu nome é respeitado em todo o mundo pela profundidade mística de sua obra, composta de vários livros e pinturas. Sua principal criação, o livro O Profeta, traduzido para mais de 30 idiomas e ainda hoje um dos maiores best-sellers todo o planeta, teve grande influência na vida de milhões de pessoas, independente de seus credos religiosos e tendências espirituais.
Gibran viveu na aldeia até os 11 anos, quando imigrou para os Estados Unidos, retornando ao Líbano quatro anos depois para completar seus estudos do árabe. Cursou os Colégio da Sabedoria, dos padres maronitas, e retornou à América aos 19 anos. A carreira como um dos mais inspirados escritores e pintores do século começou em 1905, com a publicação de A Música, sua primeira obra — um panfleto em que ele ressalta a importância da melodia, em particular a árabe. O poeta chamou o trabalho de a linguagem da alma e do coração. No ano seguinte, publicou As Ninfas do Vale (Nymphs of the Valley) em Nova York, uma coleção de três contos onde se destacam suas convicções antifeudais e anticlericais.
Em 1908, além da publicação de As Almas Rebeldes (Spirits Rebellious), outra coleção com quatro contos, Gibran foi para Paris estudar na Academie Julien e na Academia de Belas Artes, onde pode desenvolver outra de suas qualidades marcantes: a pintura. Inspirado por William Blake e Rodin, ele é considerado um pintor visionário — qualidade muitas vezes atribuída também à obra de Blake —, com telas repletas de símbolos e metáforas referentes à busca humana e sua fé na vida, no homem e em Deus. Todos os seus livros em língua inglesa foram ilustrados com suas pinturas, e muitas delas encontram-se expostas no Gibran Museum, em sua aldeia natal.
Missão de Vida
Mais do que escrever um dos livros de maior importância para a espiritualidade do século XX, Gibran sempre sentiu que possuía uma capacidade que ia muito além do homem comum. Em uma das inúmeras cartas que escreveu a amigos, ele dizia: “Sinto que há nas profundezas de meu coração uma grande força que quer se manifestar, mas ainda é incapaz de fazê-lo”.
A composição de sua obra maior começou a ser esboçada ainda aos 15 anos, quando o poeta delineou uma primeira versão de O Profeta, toda escrita em árabe. Em 1910, já conhecido por outros livros escritos em árabe, começou a redigir O Profeta em inglês, polindo a obra constantemente. Em inglês, Gibran chegou a reescrever o texto cinco vezes, e apenas em 1923 entendeu que tinha chegado à versão ideal, enviando-a a seu editor. Khalil Gibran sentia que toda sua existência tinha como único sentido a produção daquele trabalho. Numa carta a seu editor Emile Zeidan, antes de finalizar O Profeta, o autor disse: “Os vinte anos que vivi como escritor e pintor foram simplesmente uma época de preparação e desejo. Ainda não produzi nada que mereça ficar à face do sol”.
Embora os críticos entendam que outras obras de Gibran mereçam lugar de grande destaque, é com O Profeta que ele pode, enfim, dizer o que sempre desejou, as verdades que estavam guardadas em sua alma. “Enfim, pronunciei-a”, ele desabafou, “a palavra que carrego desde que nasci e que vim a este mundo para pronunciar”. Seu entusiasmo com o livro é tamanho que ele chegou a declarar que lamentava ter escrito tantos outros, já que tinha vindo ao mundo para viver e escrever um único e pequeno volume.
Desde que foi publicado, O Profeta é considerada por muitos como uma das obras mais profundas na história da literatura e da espiritualidade. Gibran nunca se casou, jamais se interessou por negócios, sempre morou em residências extremamente simples e, mesmo quando a venda de seus livros e quadros atingiram cifras astronômicas, tornando-o milionário, ele em nada alterou suas atitudes. O grande pensador sempre acreditou que tinha uma missão a cumprir e viveu de acordo com essa fé.
Revolucionário
Um fato pouco conhecido da obra de Gibran no Ocidente, porém bastante comentado no Oriente, é seu lado revolucionário, explícito no livro As Almas Rebeldes, de 1908. O texto despertou a ira da Igreja e do império turco, que o excomungou e exilou. Em quatro histórias de fundo filosófico, Gibran defendia as classes menos privilegiadas contra seus exploradores.
O autor voltou a manifestar esse aspecto, que ele próprio considerava extremista, em Temporais (The Tempests, 1920). Defendendo as posições radicais e intolerantes que assumia, Gibran disse que “quem é moderado na proclamação da verdade proclama somente a metade da verdade”. Nessas obras e em outras, como As Ninfas do Vale e Asas Partidas, ficou bem clara sua revolta contra a submissão da mulher, as violências do homem contra o homem e todo tipo de injustiças.
A obra de Gibran também ficou marcada como uma das poucas que, nas primeiras décadas do século XX, falava sobre a Criação como uma benção original de Deus, sobre a dimensão feminina do Divino, sobre a unidade transcendental da experiência religiosa, além de defender uma desobediência civil orientada ou motivada pela religiosidade, algo que mais tarde foi copiado pela Teologia da Libertação e por uma série de movimentos civis. Ainda assim, Gibran rejeitava a religião organizada, interessando-se pelo crescimento espiritual independente das convenções e da moralidade segundo determinadas regras.
O grande escritor deixou o mundo em 1931, na cidade de Nova York, e seu corpo foi levado de volta ao Líbano, para a capela de Mar Sarkis, um antigo monastério encravado nas rochas, próximo à aldeia onde nasceu. Dois trabalhos póstumos foram publicados: O Errante (The Wanderer, 1932) e O Jardim do Profeta (The Garden of the Prophet, 1933), livro considerado o ‘adeus do Profeta’, com um texto repleto de confiança no ser humano e na vida. Esta última obra foi deixada incompleta e terminada por outro escritor. Sobre ela, Gibran escreveu: “Eu me vou. Contudo, se partir sem dar voz a uma única verdade, esta verdade irá à minha procura e me juntará, embora meus elementos estejam espalhados pelo silêncio da eternidade, e novamente virei a vossa frente para falar com voz renascida do âmago desse mesmo insondável silêncio. E, se algo houver de beleza que a vós não declarei, então uma vez mais serei chamado, sim, pelo meu próprio nome, Al-Mustafa, e um sinal vos darei, e sabereis que retornei para dizer tudo que falta ser dito, pois Deus não irá tolerar ser escondido do homem; nem que Seu trabalho fique encoberto no abismo do coração do homem”.
Segundo o clauriaudiente americano Jason Leen, essa declaração revelava a origem Divina da escrita de Gibran. O mesmo Jason Leen psicografou A Morte do Profeta, em 1979, o livro que completa a trilogia iniciada com O Profeta e o Jardim do Profeta. Esse texto lhe foi entregue por Almitra, uma sacerdotisa árabe que se materializou na casa do paranormal.
Al-Mustafá, O Profeta, falando sobre o amor:
Então, Almitra disse: “Fala-nos do amor”.
E ele ergueu a fronte e olhou para a multidão, e um silêncio caiu sobre todos, e com uma voz forte, disse:
“Quando o amor vos chamar, segui-o, embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados, E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe, embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos. E quando ele vos falar, acreditai nele, embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim.
Ele vos debulha para expor vossa nudez. Ele vos peneira para libertar-vos das palhas. Ele vos mói até a extrema brancura. Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis/ Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete divino.
O amor não dá nada senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio. O amor não possui, nem se deixa possuir. Pois o amor basta-se a si mesmo.
Se contudo amardes e precisardes ter desejos, sejam estes os vossos desejos:
De acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor; de descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor; de voltardes para casa à noite com gratidão; e de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, e nos lábios uma canção de bem-aventurança.”
Al-Mustafá, O Profeta, falando sobre a dádiva:
“Há os que dão pouco do muito que possuem, e fazem-no para serem elogiados, e seu desenho secreto desvaloriza duas dádivas.
E há os que pouco têm e dão-no inteiramente. Esse confiam na vida e na generosidade da vida, e seus cofres nunca se esvaziam.
E há os que dão com alegria, e essa alegria é sua recompensa.
E há os que dão com pena, e essa pena é seu batismo.
E há os que dão sem sentir pena nem buscar alegria e sem pensar na virtude: dão como, o vale, o mirto espalha sua fragrância no espaço. Pelas mãos de tais pessoas Deus fala; e através de seus olhos, Ele sorri para o mundo.
É belo dar quando solicitado; é mais belo, porém, dar sem ser solicitado, por haver apenas compreendido.
E existe alguma coisa que possais guardar? Tudo que possuís será um dia dado.
Daí agora, portanto, para que a época da dádiva seja vossa e não de vossos herdeiros.
Fonte: Revista Sexto Sentido - numero 13
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