terça-feira, 12 de junho de 2018

Edgar Roquette-Pinto


ROQUETTE PINTONatural da cidade do Rio de Janeiro, onde nasceu no bairro de Botafogo, em 25 de setembro de 1884, Edgar Roquette-Pinto formou-se em Medicina no ano de 1905, com especialização em medicina geral, chegando a trabalhar com tribos indígenas da América. A proximidade com os índios o levou ao estudo da antropologia, área em que atuou realizando pesquisas de campo pelo interior do Brasil e ministrando aulas no Museu Histórico Nacional.
No Rio Grande do Sul estudou os sambaquis (elementos pré-históricos encontrados em quase toda a costa brasileira), mas sua trajetória na antropologia foi marcada principalmente pela expedição que fez à Serra do Norte, no Mato Grosso, ao lado do sertanista marechal Cândido Rondon.
Nessa expedição – e ao longo de toda a sua vida -, Roquette-Pinto conjugou conhecimentos diversos: foi etnógrafo, sociólogo, geógrafo, arqueólogo, botânico, zoólogo, lingüista, farmacêutico, legista, fotógrafo, cineasta e folclorista, analisando e anotando todas as características da região. Em seus escritos, descrevia árvores, folhas, composição de solos, rios, fauna e relevo, além de observar as principais peculiaridades e costumes do povo natural dos lugares por onde passava. Chegou a levantar as medidas dos índios, como circunferência de crânio, peso e altura, além de fotografar e gravar os cantos regionais em um fonógrafo portátil. Alguns desses materiais e outros objetos recolhidos pelo cientista, tais como pedras e instrumentos indígenas, sobrevivem ao tempo como parte do acervo do Museu Nacional.
As experiências durante a jornada pelo interior mato-grossense renderam a Roquette-Pinto quatro anos de trabalho na redação de um dos marcos da etnografia brasileira, o livro Rondônia, que lhe deu o título de imortal na Academia Brasileira de Letras. Em 1922. a então rádio telefonia é mostrada ao país na exposição comemorativa do centenário da Independência do Brasil. Roquette-Pinto entusiasmou-se com os novos equipamentos que não despertavam a atenção dos freqüentadores da referida feira. Vislumbrou-lhe o futuro. Foi então que com o apoio de outra academia, ele realizou o mais conhecido de seus feitos. A Academia Brasileira de Ciência (ABC), da qual era secretário, adquiriu toda a aparelhagem necessária às transmissões de rádio no país, uma vez que até então nem mesmo o Governo Federal havia compreendido o poder da ferramenta.
Assim, em 20 de abril de 1923, durante uma reunião da ABC, foi fundada a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, com o objetivo principal de educar a população disseminando a cultura e a ciência. A rádio transmitia músicas, poemas e notícias, mas também servia para que os acadêmicos apresentassem cursos em diversas áreas, como português, geografia, biologia e história. Assim, os estudos da rádio no Rio de Janeiro viraram rota para renomados visitantes das áreas científica e cultural. Albert Einstein, em visita ao Brasil, em 1925, foi um deles.
Para Roquette-Pinto o rádio deveria ser mantido longe de interesses políticos e comerciais, mas em 1932, um decreto assinado pelo Presidente Getúlio Vargas autorizou a veiculação de propaganda comercial nas emissoras, atendendo a uma expectativa já evidente. Mesmo diante da grande procura por patrocinadores, cachês artísticos e anúncios, Roquette-Pinto recusou a render-se ao formato comercial do rádio. Para evitar que a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro se tornasse uma emissora comercial, o radialista doou ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) o que considerava ser o seu maior patrimônio, com a única condição de que o perfil educativo fosse mantido. Assim a emissora continua funcionando até hoje na cidade do Rio de Janeiro, com o nome de Rádio MEC.
Apesar da paixão pelo rádio, Roquette-Pinto nunca deixou os estudos e o trabalho científico. Durante a carreira, sempre ministrou palestras, fez traduções da obra de Goethe e publicou textos sobre antropologia, medicina, história e lingüística. Era um homem muito curioso. Gostava de pesquisar e construir objetos eletrônicos, como em 1933, quando montou uma televisão primitiva, à base de processos mecânicos. Conseguiu transmitir a imagem de um cartaz da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) para um receptor instalado na casa de um amigo.
Não foi esse o início da TV no Brasil, mas o fato revela que Roquette-Pinto também era um amante das imagens. Em 1936, fundou o Instituto Nacional do Cinema Educativo (INCE). Com a ajuda do cineasta Humberto Mauro, lançou diversos documentários sobre ciência, história e literatura, muitos dos quais narrados por ele próprio.
Roquette-Pinto foi uma figura disciplinada, tendo contribuido para o progresso em áreas estratégicas do país. Nunca deixou de trabalhar, mesmo acometido, desde 1935, por uma doença degenerativa da coluna cervical, a espandilose, que aos poucos o impedia até mesmo de virar o pescoço. Em 1954. sofreu um derrame fatal enquanto escrevia um artigo para o Jornal do Brasil, do qual era colunista, deixando para o país um importante patrimônio científico-cultural.

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