Poeta trágico ateniense, Sófocles (497-406 a.C.), filho de um comerciante de espadas que enriquecera durante a guerra contra os persas, nasceu em Coluna, perto de Atenas. Iniciado pelos melhores mestres daquele tempo no aprendizado de música, ginástica e dança, quando chegou a Atenas encontrou a cidade vivendo seu apogeu.
Após a vitória de Salamina, em setembro de 480 a.C. (combate entre a frota persa, liderada por Xerxes, e a grega, comandada por Temístocles, que aconteceu no estreito que separa Salamina da Ática, e que terminou com a derrota dos persas), Atenas teve cinqüenta anos de paz, durante os quais conseguiu um notável desenvolvimento econômico, político e, principalmente, cultural. Nesse período nela floresceram a filosofia, a poesia e a pintura, e nas primaveras, entre outros festejos, a cidade recebia grande quantidade de visitantes gregos e estrangeiros para as Dionisíacas, festas realizadas em homenagem ao deus Dionísio, que começavam com danças em círculos, continuavam com músicas e apresentavam no final um grande concurso dramático.
O de 468 a.C. foi vencido por Sófocles, que apresentou uma teatrologia (três tragédias e um drama satírico) sendo Triptolemus uma das peças. O impacto provocado por essa representação foi tão grande que naquele ano o arconte (magistrado e legislador) retirou do júri – formado por sorteio – a atribuição de julgar os poetas e a conferiu ao conselho dos estrategos (generais magistrados). Nos concursos dramáticos realizados em Atenas, Sófocles alcançou 26 vezes o primeiro lugar, e quarenta vezes o segundo.
Ele representou papéis em várias de suas peças, como era usual naquela época, mas preferiu renunciar à interpretação cênica para participar com assiduidade dos concursos ligados à atividade teatral, ganhando muitos deles e adquirindo a fama de nunca ter ficado abaixo do segundo lugar. Mas, além disso, Sófocles também desempenhou algumas funções políticas e econômicas. Casado com Nicotrasta, teve com ela muitos filhos, entre os quais Jofon, que era um poeta trágico, unindo-se depois a Teóris, cortesã da Siciônia, de quem teve um filho chamado Ariston, que foi, por sua vez, poeta clássico e pai do também poeta Sófocles, o Moço. Mas as questões surgidas entre os seus filhos, e tratadas judicialmente, entristeceram sua velhice.
Sófocles foi autor de grande número de peças (provavelmente 113 ou 123), entre as quais estão vinte dramas satíricos. De muitas delas nos restaram apenas fragmentos, mas sete tragédias completas chegaram aos dias de hoje: Ájax e Antígona (444/441 a.C.), Édipo Rei (de aproximadamente 430 a.C.), considerada sua obra-prima, Electra e as Traquínias (420/414 a.C.), Filotectetes (409 a.C.) e Édipo em Colona (406 a,C), divulgada após a sua morte, além de um fragmento do drama satírico Ichneutai (Os Cães de Fila). Essas tragédias têm como inspiração o ciúme dos deuses em relação aos mortais, que são ou se julgam felizes. Quando a sorte cumula um desses mortais com excesso de bens materiais e mundanos e ele se encontra no auge da glória, um frêmito sacode o Olimpo e da morada dos deuses desce uma divindade, Nêmeses (a vingança) para abatê-lo. Ela rege os conflitos, mas em Sófocles não assume, como em Ésquilo, um aspecto rígido e feroz. Nêmesis é também a moderação e o equilíbrio, embora decrete catástrofes e expiações, castigando os que transgridem as leis divinas. Sófocles jamais contesta diretamente sua justiça, e suas personagens, ao invés de sofrerem o destino maldizendo-o, lutam intrepidamente contra ele.
Embora Sófocles tenha sido contemporâneo de Ésquilo, considerado o “pai da tragédia”, parece haver muitos anos a separá-los, face ás alterações introduzidas pelo primeiro. Ainda que se tenha beneficiado dos esforços preparatórios de Ésquilo, Sófocles trouxe contribuições fundamentais à tragédia: aos dois únicos atores anteriores, o protagonista (principal) e o deuteragonista (desempenhando um papel secundário), ele acrescentou um terceiro, o tritagonista, fechando com ele o círculo da ação e da emoção. (as situações dramáticas encadeiam-se com a chegada do tritagonista).
Além disso, também aumentou o número dos integrantes do coro (coreutas), de doze para quinze, e rompeu com o esquema de composição da trilogia. Era praxe o poeta fazer representar na mesma peça três tragédias ligadas entre si pelo mesmo mito. Sófocles rompeu essa cadeia lógica, e cada uma das três passou a gozar de autonomia, tornando-se completa e fechada em si mesma, com uma ação distinta e sem parentesco com as outras.
Sófocles consolou sua velhice vivendo com uma cortesã, e teve dela um filho. Mas Iofonte, que era seu filho legítimo, temendo que o pai legasse seus bens ao meio-irmão, levantou uma ação judicial contra o mesmo, na qual o acusava de senilidade e incapacidade de administrar sua fortuna. Diante dos juízes Sófocles fez sua defesa lendo trechos de Édipo em Colona, que então escrevia, e que seria encenado pela primeira vez em 402 a.C. Foi absolvido e acompanhado pelos juízes até sua casa.
Morreu em 406 a.C., e sobre ele correram muitas lendas. Dizia-se que um dos seus hinos entoado num navio em perigo, operara milagres, e que ele era o mortal mais amado dos deuses. Em seu túmulo foi gravada uma sereia, como símbolo da poesia, sendo-lhe oferecido sacrifícios anuais, da mesma forma como a um herói.
Dele se disse certa feita que “Fundou o drama psicológico estudando caracteres e extraindo da alma as peripécias da intriga”.
Fonte: Enciclopédia Abril.
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