quarta-feira, 20 de junho de 2018

ZENÓBIA


A1A antiga cidade de Palmira (Tadmor, em árabe), hoje em ruínas, está situada num oásis da borda setentrional do deserto da Síria, na parte central do país, a cerca de 210 km a nordeste de Damasco e a meio caminho, aproximadamente, entre o mar Mediterrâneo e o rio Eufrates, o que a transformou, na época do seu esplendor, em um ponto de parada obrigatória para as caravanas que percorriam aquela rota comercial.
Construída provavelmente durante o século 10 a.C., Palmira integrava a província romana da Síria durante o reinado (de 18/09/14 a 16/03/37 d.C.) de Tibério Cláudio Nero César. Mas como o oásis enriqueceu durante o decorrer dos anos, e continuou crescendo e ganhando cada vez mais prosperidade e importância devido ao intenso comércio das caravanas que demandavam o mar Mediterrâneo vindas da Ásia central, trazendo especiarias, pedras preciosas e perfumes, acabou se tornando cidade livre em 129, sob o império de Adriano, um dos mais poderosos da antiga Roma.
Seu governante em meados do século 3  era o xeque beduíno Odaenath, chefe das tribos do deserto e maior aliado dos romanos, razão pela qual se tornou representante do imperador romano Galieno (218-268) no Oriente. Em 262 ele combateu e derrotou os persas liderados pelo rei Sapor I, também chamado Xapur I (que em 260, havia aprisionado Valeriano, pai de Galieno, mantendo-o cativo até a morte), reconquistando a Mesopotâmia e a Armênia para os romanos, o que lhe proporcionou, em 264, o título de Corrector Totius Orientis (governador de todo o Oriente), além do encargo principal de defender as fronteiras do Eufrates. Odaenath era extremamente vaidoso, e por isso, ainda insatisfeito com a homenagem romana, autodenominou-se “rei dos reis”.
No entender de Edward Gibbon (1737-1794), historiador inglês, esses êxitos de Odaenath podem ser atribuídos em grande parte à coragem e cautela de sua mulher Setímia Zenobia, de quem ele dizia que “Ela tinha pele morena. Seus dentes eram brancos como pérolas, e seus grandes olhos negros brilhavam como fogo, suavizados pelo mais atraente encanto. Sua voz era forte e harmoniosa. O entendimento brioso dela era fortalecido e adornado pelo estudo. Não desconhecia o latim, mas era igualmente perfeita nas línguas grega, siríaca e egípcia.”
Em 267, quando Odaenath combatia os visigodos, pertencentes ao povo godo, foi assassinado, juntamente com o filho, por um sobrinho em cumplicidade com sua esposa Zenobia (?-274), que havia se casado com ele em segundas núpcias. Com a morte do marido, Zenóbia assumiu o poder em Palmira, e recusando-se a aceitar o domínio romano estendeu as fronteiras do seu reino até o Eufrates e Mediterrâneo. Dotada da simplicidade característica dos árabes, ela juntou a essas qualidades a cultura grega e a ciência militar dos romanos, ao mesmo tempo em que tornava sua corte o ponto de reunião dos poetas e filósofos da época, sendo especialmente considerado pela soberana o retórico Longino (213-273), crítico e filósofo grego que se tornou tutor dos filhos da soberana, de quem se tornou principal conselheiro, influenciando-a no sentido de romper com Roma.
Durante os cinco anos de seu reinado, de 267 a 272, Palmira foi a capital do Oriente, subsistindo até os dias atuais alguns fragmentos e detalhes dos monumentos com que Zenóbia adornou a cidade. Mas quando ela se viu ameaçada por tropas do imperador romano Aureliano, dono dos destinos de Roma de 270 a 275, partiu com seu exército ao encontro do inimigo, sendo obrigada, entretanto, depois de uma defesa heróica, a se retirar apressadamente para Palmira, que sucumbiu ao cerco após breve resistência.
Mais fraca no infortúnio do que no sucesso, ela entregou nas mãos do adversário todos os que lhe haviam aconselhado a resistência, inclusive Longino, que foi imediatamente executado. Levada cativa para Roma, e exposta publicamente na procissão triunfal de Aureliano, em 272, acorrentada a cadeias de ouro, Zenóbia foi perdoada algum tempo depois. Libertada, casou-se com um senador romano e passou a morar em uma propriedade perto de Tibur, hoje Tivoli, na Itália, onde morreu em idade avançada.
Da passagem da pretensiosa rainha pelo poder de Palmira, resta também a lembrança da pilhagem sofrida em 267 pela biblioteca de Alexandria, no Egito, ordenada quando a soberana se encontrava em pleno afã de transformar sua cidade na capital cultural de sua época. Conhecida na tradição árabe como al-Zaba, a sanguinária, foi comparada a Cleópatra pelos biógrafos.
As ruínas de Palmira revelam o antigo traçado da cidade, com ágora, senado e teatro. O principal santuário era dedicado a Bel (ou Bol, provavelmente Baal, o “Senhor”) e aos deuses do Sol, Yarhibol, e da Lua, Aglibol. A arquitetura apresenta influências orientais, mas é de inspiração grega. A moderna Tadmor, no mesmo local da antiga Palmira, situa-se junto ao oleoduto Kirkuk-Trípoli, no cruzamento das rodovias que cortam o deserto da Síria.
O desenho “Zenobia, rainha de Palmira” (na ilustração), foi feito a carvão sobre papel, em 1533, pelo pintor Michelangelo. Nesse trabalho o artista mostra os seios expostos de uma mulher que parece uma rainha guerreira, o que é sugerido pelos adereços em sua cabeça.

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