William Shakespeare nasceu em Stratfor-on-Avon, Inglaterra, em 1564, e morreu em 23/04/ 1616, no mesmo lugar. Poeta, autor dramático e ator, ele viveu numa época em que a biografia era quase desconhecida como gênero literário, e por isso documentos sobre sua pessoa foram perdidos. Mas sua vida está registrada em várias fontes, ao contrário de outros contemporâneos dos quais se conhecem apenas as desventuras sofridas pelos conflitos com as autoridades e a lei.
Terceiro filho de John Shakespeare, pequeno proprietário de terras, abandonou a escola primária onde fora matriculado, para ajudar o pai em suas atividades comerciais, mas apesar de não ter feito novos estudos sistemáticos, sempre se dedicou à leitura: seu conhecimento da Bíblia, de Homero, de Plutarco, de Sêneca e dos grandes renascentistas, transparece em suas peças. Aos 18 anos casou-se com Anne Hathaway, que lhe deu três filhos: Susana, nascida seis meses após o casamento, e os gêmeos Judithe e Hammet, este falecido em 1596, aos onze anos, tendo sua morte inspirado um conto de dor e saudade: O Rei João. Não se sabe com certeza se nos anos seguintes ele se tornou professor de uma escola na província, ou se permaneceu a serviço de um senhor de Lancashire. Em 1592 o escritor inglês Robert Greene falou da notoriedade que Shakespeare vinha conquistando com seus dramas, sendo provável que, nessa época, estivesse envolvido com alguma companhia teatral..
Em 1593, com o fechamento dos teatros em virtude da peste negra (peste bubônica), o poeta entrou em contato com alguns aristocratas amantes da poesia. Vênus e Adonis (1593) e The Rape of Lucrecia (1594), são obras dedicadas ao conde de Southanpton, protetor que lhe dispensou considerável ajuda em dinheiro. Com a reabertura dos teatros, Shakespeare já aparece como sócio da Companhia Lord Chamberlain, a mais importante da época: o lucro que obteve permitiu-lhe adquirir uma casa em Stratford, assim como dar a seu pai, que havia falido, um brasão de nobreza.
Nada se pode afirmar sobre sua atividade diretamente teatral antes da formação da Companhia Lord Chamberlain, mas com certeza ele não foi um dos seus sócios desde o princípio, pois em março de 1594 cobrou pelas comédias que a companhia representou na corte. Mais tarde, além de ser acionista da companhia, Shakespeare tornou-se um dos proprietários do Globe Theater, onde sua função principal era a de comediógrafo, não existindo evidências de que tenha escrito para outras companhias. Até o começo do século 17, pelo menos, ele unia a sua atividade de escritor à de ator, mas sobre seu talento cênico só existem alguns comentários vagos.
O aspecto pouco colorido da vida do autor favoreceu o surgimento da teoria baseada em idéias preconceituosas e sem muita lógica, segundo a qual as obras de Shakespeare teriam sido escritas por Francis Bacon, ou então por outros autores ou mesmo uma sociedade deles. Contudo, entre seus contemporâneos não se levantou a menor dúvida quanto à paternidade dos dramas, nem se conseguiu demonstrar o pressuposto desinteresse por sua produção: o catálogo de seus trabalhos prova que ele já era bastante conhecido em 1598. Exames estatísticos revelaram que entre 1598 e 1601, foram publicadas mais edições originais e mais reimpressões de Shakespeare, que de qualquer outro autor desse tempo. São numerosas as alusões de seus contemporâneos a ele e suas obras.
Até meados da década de 1680, o teatro popular inglês era invariavelmente rimado, e a maior contribuição dos eruditos para os dramaturgos populares foi a libertação da rima, Os versos brancos, que possuem métrica, mas não utilizam rimas, foram introduzidos no teatro sério e a prosa na comédia, sendo os dois combinados na peça popular com alguns versos rimados, para dar ênfase ou produzir um efeito lírico. Shakespeare combina os três tipos em quase todas as suas peças, mas numa proporção bastante variada. Enquanto 94% de Júlio César são versos brancos, As Alegres Comadres de Windsor tem 87% em prosa e somente 10% em versos brancos; Os Trabalhos de Amor Perdido é rimado em quase 50%, ao passo que muitas outras peças quase não contêm rimas. Na maioria delas a rima é um enfeite ocasional, enquanto a prosa se alterna com o verso branco predominante nas cenas realistas e cômicas. A prosa é coloquial e colorida, e o verso é cada vez mais bem feito, mais ágil, mais variado metricamente e mais harmonioso. Ambos são muito expressivos, como deve ser a fala dramática, mas conseguem preservar os ritmos da “fala natural”. Assim, a linguagem varia desde a mais poética até mais trivial, aparecendo inclusive o palavrão.
O texto shakesperiano não tem unidade de tempo e lugar no sentido clássico. A peça é construída de pequenas cenas que determinam um corte no tempo e no espaço, de maneira que em poucas horas de representação ela pode resumir vários anos da vida do personagem. Nas peças de Shakespeare existe sempre um enredo principal e um secundário, formando duas histórias destacadas que se desenvolvem paralelamente. A distinção dos gêneros também não é rígida, podendo-se encontrar cenas cômicas em tragédias, ou vice-versa.
Embora haja divergências entre os peritos, a cronologia das obras é mais ou menos esta: 1590, a segunda e terceira partes de Henrique VI; 1591, primeira parte de Henrique VI; 1592, Ricardo III e A Megera Domada; 1594, Os Dois Cavalheiros de Verona, Os Trabalhos de Amor Perdido e Romeu e Julieta; 1595, Ricardo II e Sonho de Uma Noite de Verão; 1596, O Mercador de Veneza; 1597, primeira e segunda partes de Henrique IV; 1598, Muito Barulho Por Nada e Henrique V; 1599, Júlio César, As Alegres Comadres de Windsor e Como Queiram; 1600, Noite de Reis e Hamlet; 1601, Tróilo e Cressida; 1602, Tudo Vai Bem Quando Acaba Bem; 1604, Medida por Medida e Otelo; 1605, Macbeth e O Rei Lear; 1606, Antônio e Cleópatra; 1607, Coriolano e Timão de Atenas; 1608, Péricles, 1609, Cimbelino, 1610, Conto do Inverno; 1611, A Tempestade; 1612, Henrique VIII.
William Shakespeare dividiu seus esforços quase igualmente entre os quatro maiores gêneros de teatro existentes noos grandes palcos de Londres: tragédias, comédias, dramas históricos e pastorais. As pastorais não eram necessariamente peças sobre pastores, pastoras e deuses da floresta, mas qualquer peça na qual os amantes tivessem de vencer obstáculos exteriores para finalmente se unirem.
Fonte: Enciclopédia Abril
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