Antoine Laurent de Lavoisier nasceu em Paris, em 26 de agosto de 1743. Educado pelo pai e por uma tia, optou aos vinte anos pela química, ciência até então bastante próxima da alquimia. Dois anos depois (1765) um projeto seu para iluminação das ruas de Paris recebeu medalha de ouro da Academia de Ciências. Em 1768, com 25 anos de idade, elegeram-no membro da referida entidade. Para financiar suas experiências comprou ações da Ferme Géneral, companhia que arrecadava impostos incidentes sobre diversos produtos comerciais, entregava ao rei parte dessa receita e dividia o restante entre os acionistas. Em 1771 Lavoisier assumiu um cargo de direção na Ferme, casando-se no mesmo ano com Marie-Anne Pauzle, filha de Jacques Paul Chastelnelles, gerente geral da empresa.
Até então a química utilizava a nomenclatura e os métodos de pesquisa da alquimia. Substâncias simples recebiam denominações complicadas (a potassa era chamada de “terras folheadas tártaras de Müller”), dando-se o nome de “flogístico” à teoria que “explicava” as reações químicas de mecanismos desconhecidos, sobretudo a combustão.
Na época acreditava-se que a água se transformava em terra por ação do flogístico, e. para provar o contrário Lavoisier aqueceu água destilada em um recipiente até que ela se evaporasse, deixando um resíduo sólido. Ao pesar o recipiente e verificar que este se tornara mais leve em relação à pesagem feita antes da experiência, concluiu que o resíduo sólido encontrado não resultara da transformação da água em terra, mas sim da ação da água sobre o recipiente. Esse experimento já havia sido feito por Jean van Helmont, químico flamengo, e Robert Boyle, químico irlandês, cujas conclusões tinham sido opostas às de Lavoisier porque não lhes ocorrera a idéia de pesar o recipiente antes e depois da experiência.
Outro ponto contraditado por Lavoisier ligava-se à transformação dos metais em óxidos, por combustão. Segundo as antigas concepções, o fenômeno ocorreria por perda do flogístico dos metais, enquanto o inverso – a transformação do óxido em metal – aconteceria por absorção do flogístico, mas como este era considerado imponderável, em nenhuma das duas operações haveria perda ou ganho de massas. Lavoisier pesou as quantidades do metal, antes e depois das operações, e percebeu que na transformação do metal em óxido havia aumento de peso, e na regeneração a partir do óxido, o peso diminuía.
Acreditando que o calor era a manifestação de um espírito, Lavoisier atribuiu-lhe qualidades de elemento ao verificar que, muitas vezes uma reação só acontecia com o aquecimento dos reagentes e, em outros casos, desprendia calor. Essa teoria, que ele chamou de calórico, durou pouco na história da química, pois após Lavoisier descobriu-se que o calor é uma forma de energia. A partir de 1777 passou a comunicar à Academia de Ciências os resultados de suas experiências, a publicar os seus trabalhos e a fazer conferências contra a teoria do flogístico.
Em 1785, seus ataques à antiga teoria culminaram com a leitura, na Academia, de seu trabalho Reflexões sobre o Flogístico, quandoobteve o apoio de grande parte dos cientistas presentes e provocou uma grande polêmica no meio científico. Em 1783 já se tinha observado que a combustão do hidrogênio provocava a formação de gotas de água. Através de uma reação provocada por faísca elétrica, o químico Henry Cavendish verificou que se combinados em proporções bem determinadas, o oxigênio e o hidrogênio produziam água (H2O). Lavoisier usou essa constatação para minar mais um pouco a teoria do flogístico, lembrando que nada nessa interação dos dois gases indicava a intervenção de qualquer outra substância.
Um dos primeiros cientistas a aderir a Lavoisier foi Guyton de Mourveau. Juntos publicaram o Método de Nomenclatura Química (1781), onde pela primeira vez apareceram termos como “óxido”, “sulfeto” e “fosfato”, para designar os compostos de oxigênio, enxofre e fósforo com um metal. Quando publicou o Tratado Elementar de Química, em 1789, traduzido imediatamente para várias idiomas, a teoria do flogístico já contava com poucos adeptos. É nessa obra que aparece a famosa “lei da conservação das massas”, onde Lavoisier conclui que a soma das massas dos reagentes é igual à soma das massas dos produtos da reação.
Além da investigação científica, Lavoisier exerceu outras atividades. Em 1775 foi nomeado controlador de munições pelo governo real, época em que descobriu uma forma de sintetizar o salitre (com o qual era fabricada a pólvora), que até então era raspado das adegas francesas, e desenvolveu um processo industrial para assegurar o abastecimento do produto independentemente de sua ocorrência natural. Em 1791 publicou A Riqueza Agrícola do Solo da França, livro que dizia respeito às suas atividades na Comissão de Agricultura e a um novo esquema de taxação de impostos para as propriedades rurais.
Durante a Revolução Francesa, no período do Terror, Lavoisier (e os demais membros da Ferme General) foi acusado de peculato e traição. Condenado à guilhotina, de nada adiantaram as petições dos cientistas do resto da Europa para que fosse poupado. Foi morto a 8 de maio de 1794.
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