terça-feira, 12 de junho de 2018

Ana Justina Ferreira Néri


NERY AnaAna Justina Ferreira Néri (13 de dezembro de 1814 – 20 de maio de 1880), primeira enfermeira voluntária do Brasil, nasceu na vila de Cachoeira do Paraguaçu, Bahia, e morreu no Rio de Janeiro. Casou-se aos 23 anos com o capitão-de-fragata Isidoro Antônio Néri, mas como marido estava sempre ausente, trabalhando em alto-mar, Ana acostumou-se a ter sob sua responsabilidade todos os encargos da família. Poucos anos depois do casamento Isidoro morreria no Maranhão, a bordo do brigue Três de Maio, deixando-a viúva aos 29 anos de idade e com três filhos pequenos para educar. E foi o que ela fez, formando Justiniano e Antônio Pedro, em medicina, enquanto Isidoro Antônio Néri Filho tornou-se militar.
A partir de então Ana passou a se dedicar às ações sociais, e ao eclodir a Guerra do Paraguai, em 1864, seus dois herdeiros mais velhos se incorporaram como voluntários às fileiras do exército, o mesmo acontecendo pouco depois com o mais moço. Diante da partida dos seus três filhos, Ana Néri escreveu em 8 de agosto de 1865 ao governador da Bahia, Manuel Pinto de Souza Dantas, oferecendo-se para ajudar em qualquer hospital do Rio Grande do Sul. Sua carta dizia que:
“Eu me chamo Ana Justina Ferreira Néri. Sou mãe de três rapazes que acabaram de partir para a guerra. Eles eram tudo o que tinha, pois o pai morreu quando eu estava com 29 anos. Não podendo resistir à saudade deles, suplico-lhe que me deixe acompanhá-los. Prometo que trabalharei como enfermeira em qualquer hospital e em defesa de todos aqueles que sacrificarem sua vida pela honra nacional e a integridade do Império”.
Dois dias depois Souza Dantas deu ordens ao comandante do Conselho das Armas para que Ana Néri fosse contratada para trabalhar na Guerra do Paraguai, o que a tornou a primeira enfermeira voluntária do Brasil e precursora da Cruz Vermelha Brasileira. Foi assim que ela seguiu imediatamente para o estado sulino, onde aprendeu noções de enfermagem e entregou-se com dedicação à tarefa de cuidar dos feridos de guerra, apesar das grandes dificuldades que enfrentava para desempenhar suas atividades, tais como a falta de condições de trabalho, de higiene e de materiais, além do grande número de soldados necessitados de atendimento médico.
Mas apesar de tudo ela se destacou como enfermeira carinhosa, prestativa e cuidadosa em todos os lugares por onde passou, como Corrientes, Humaitá, Assunção (então sitiada pelo Exército brasileiro, onde Ana montou uma enfermaria-modelo utilizando para isso recursos financeiros pessoais herdados da família) e outras regiões de batalha, tendo sua abnegação aumentada ao receber a notícia da morte em combate do filho Justiniano. Ao invés de ficar revoltada com infortúnio, abençoou seu primogênito pelo idealismo e pelo dever cumprido, e por tudo isso, quando o exército brasileiro finalmente conquistou a capital paraguaia, ela foi ali recebida triunfalmente pelos militares que a chamavam de Mãe dos Brasileiros.
No final da guerra, a dedicada baiana voltou ao Brasil trazendo três pequenos órfãos – filhos de soldados desaparecidos nos combates – os quais passou a educar como se fossem seus filhos legítimos. Sensibilizado com este fato, D. Pedro II lhe concedeu a Medalha Humanitária e a Medalha da Campanha do Paraguai, além da pensão vitalícia de um conto e duzentos mil réis anuais, para ajudá-la na criação das crianças que adotara. Pelos relevantes serviços prestados aos soldados brasileiros, Ana Néri recebeu da população do Rio de Janeiro uma calorosa manifestação de afeição, uma chuva de pétalas de rosas e uma coroa de ouro cravejada de diamantes, onde se lia gravado: À heroína da caridade, as baianas agradecidas.
Essa coroa encontra-se hoje no Museu do Estado da Bahia. Ana também ganhou um álbum com a seguinte dedicatória: Tributo de admiração à caridosa baiana por damas patriotas. E Vítor Meireles pintou o seu retrato em tamanho natural, o qual se encontra exposto na sede da Cruz Vermelha Brasileira. No dia 5 de julho de 1870, Ana chegou à Bahia, indo ocupar um lugar de honra da Câmara Municipal de Salvador.
A República, em 1926, também demonstrou seu reconhecimento dando à primeira escola oficial de enfermagem de alto padrão no Brasil, fundada por Carlos Chagas em 1923, o nome de “Ana Néri”. Por outro lado, em 1938 o presidente Getúlio Vargas assinou o decreto nº 2.956, que instituía o dia 12 de maio como o “Dia do Enfermeiro”, data em que em todos os hospitais e escolas de enfermagem do país devem prestar homenagens especiais à memória de Ana Neri,
Dentre outras manifestações recebidas pela heroína, cabe ressaltar, ainda, que a rua da Matriz, local onde ela nasceu, passou a se chamar rua Ana Néri. E que foi criado na cidade de Salvador, em um dos locais mais visitados pelos turistas, o Pelourinho, o Museu Ana Néri, para divulgar os aspectos mais significativos da vida da ilustre baiana, e resgatar, ao mesmo tempo, a história da enfermagem brasileira, do século XIX até a atualidade.

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