terça-feira, 12 de junho de 2018

PADRE CÍCERO


PADRE CICEROPadre Cícero Romão Batista nasceu em Crato, Ceará (24/03/1844), filho de Joaquim Ro-mão Batista e Joaquina Vicência Romana. Aos sete anos iniciou sua vida estudantil, e aos doze tornou-se discípulo do padre João Marrocos Teles, professor de Latim em sua cidade natal.
Nessa mesma época, conforme afirmou em seu testamento, a leitura de um livro sobre São Francisco Sales o impressionou de tal forma que o levou a fazer o voto de castidade, primeiro passo dado em direção à atividade religiosa que marcaria sua vida e à de toda a região nordestina.
Passados alguns anos, o excelente aproveitamento que demonstrava ter nos estudos influenciou seu pai a matriculá-lo no colégio do padre Inácio de Souza Rolim, em Cajazeiras, Paraíba, estabelecimento famoso pela qualidade de ensino que ministrava aos seus alunos, de onde, porém, se afastou em 1862 para retornar ao Crato, já que a morte inesperada do pai colocava sobre seus ombros a responsabilidade de cuidar da mãe e das irmãs solteiras. Três anos depois, em março de 1865, seu desejo de seguir a carreira eclesiástica fê-lo ingressar no seminário de Fortaleza, sendo ordenado padre em novembro de 1870.
Sua vida sacerdotal se iniciou em Crato no ano seguinte, onde oficiou a primeira missa no altar de Nossa Senhora da Penha, na igreja matriz daquela cidade, atividade religiosa que associou à função de professor no colégio fundado pelo padre José Marrocos, um de seus primeiros mestres. Meses depois (1872) foi transferido para o então povoado de Juazeiro, e lá iniciou um intenso trabalho pastoral que compreendeu pregação, conselhos, visitas domiciliares e moralização de costumes, o que lhe trouxe a simpatia dos membros da comunidade.
O tempo passou, quase vinte anos ficaram para trás, até que em 1889 ocorreu a primeira manifestação dos poderes milagrosos que passaram a lhe ser atribuídos. No dia 1º de março, ao comungar numa missa oficiada pelo padre Cícero, a beata Maria de Araújo, então com 26 anos incompletos, foi incapaz de engolir a hóstia porque esta se transformou em sangue vivo. O fato, comprovado pelo médico Marcos Madureira, chamado para examinar a beata, se repetiu dezenas de vezes durante dois anos, e a definição do doutor foi a de que ele se tratava de algo sobrenatural, para o qual não encontrava explicação científica.
Em virtude disso padre Cícero foi chamado à capital pelo bispo da diocese, dom Joaquim André Vieira, para prestar esclarecimentos sobre o fato, ao mesmo tempo em que uma primeira comissão de inquérito dirigiu-se a Juazeiro com a finalidade de apurar o que realmente tinha acontecido. Esta confirmou a veracidade dos relatos, indo mais além ao concluir que o fenômeno se tratava, realmente, de coisa divina, mas o bispo não acreditou no seu relatório, nem tampouco no médico que dizia a mesma coisa, e por isso nomeou uma segunda comissão liderada pelo monsenhor Antônio Alexandrino de Alencar.
Este se dirigiu ao Crato, mandou buscar a beata, ministrou-lhe a hóstia, e como ela não mais se transformou em sangue, redigiu um relatório afirmando que tudo não passava de um embuste. Seu parecer foi aceito por dom Joaquim André, que de imediato assinou uma portaria estipulando as seguintes sanções ao padre Cícero: a proibição de celebrar missas, ouvir confissões ou pregar na diocese de Juazeiro, da mesma forma como ficava terminantemente proibido de falar sobre o milagre e atender a qualquer romeiro que lhe procurasse.
Padre Cícero viajou então a Roma, onde teve uma audiência com o Papa Leão XII sendo absolvido de suas penas. Porém o Bispo do Ceará, Dom Joaquim Vieira, publicou a sua pastoral nº 4, decidindo que o sacerdote não poderia celebrar, confessar ou fazer sermões, enquanto não viesse de Roma o decreto de reabilitação. Proibido de exercer suas funções eclesiásticas, tentou ajudar o povo de Juazeiro através do ingresso na vida política. Com a transformação do povoado em município, foi nomeado prefeito de Juazeiro pelo governador do Ceará, Nogueira Acioli.
Em 1914, a Assembléia Legislativa do Ceará reuniu-se e, por maioria, reconheceu o Padre Cícero como 1º Vice-Governador do Estado. Ao indicá-lo como o maior benfeitor do município, seus simpatizantes incluem entre suas obras a construção das capelas do Socorro, de São Vicente, de São Miguel e da igreja de Nossa Senhora das Dores; a doação do terreno para a construção do aeroporto local; o incentivo ao artesanato artístico e utilitário como fonte de renda; a introdução do plantio de novas culturas, o socorro à população durante as secas e epidemias, e outras mais.
Com informações simples e acessíveis ele procurava orientar o sertanejo a sobreviver à seca e manter o sertão sempre verde. Muitos desses procedimentos hoje estão sendo postos em prática pelas autoridades ambientais, como, por exemplo:
– “N-ão derrube o mato, nem mesmo um pé de pau”;
– “Não toque fogo nem no roçado, nem na caatinga”;
– “Não cace mais e deixe os bichos viverem”;
– “Não crie o boi nem o bode soltos; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer”;
– “Não plante em serra acima, nem faça roçado em ladeira muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca a sua riqueza”;
– “Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar a água da chuva”; “Represe os riachos de cem em cem metros, ainda que seja com pedra solta”;
– “Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju ou outra árvore qualquer, até que o sertão seja uma mata só”;
– “Aprenda a tirar proveito das plantas da caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema, pois elas podem ajudar você a conviver com a seca”;
– “Se o sertanejo obedecer a esses preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando, e o povo terá sempre o que comer; mas se não obedecer, dentro em pouco o sertão todo vai virar um deserto só”.
Em 1916 ele recebeu do novo bispo da diocese do Crato, Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, permissão para celebrar na Igreja de Nossa Senhora das Dores, após 24 anos de proibição. A cidade passou a receber, então, maior número de romeiros. Alguns comerciantes haviam mandado fabricar medalhas com a sua efígie o que não agradou ao novo bispo.
Por isso, quando o padre solicitou a autorização de Dom Quintino para ser padrinho de uma criança que ia ser batizada, o bispo, desgostoso com a notícia de que estavam vendendo medalhas com o retrato do religioso, negou-lhe a autorização para o apadrinhamento e determinou que a partir daquela data ele não mais deveria oficiar. Ferido, padre Cícero não se revoltou nem reagiu, aceitando com humildade a decisão do seu superior e dedicando-se totalmente ao bem da sua cidade. Morreu, no dia 20 de julho de 1934, às 5h da manhã, aos 90 anos, sendo enterrado no dia 21, na presença de mais de 70 mil pessoas.
Em 22 março de 2001, em eleição promovida pela Rede Globo e Sistema Verdes Mares de Televisão, Padre Cícero foi escolhido “O Cearense do Século”.

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