Descente de uma família paulista que emigrou de São Paulo em busca de ouro, o poeta mineiro nasceu na vila de Ribeirão do Carmo, atual Mariana, MG (05.06.1729). Após cursar o Colégio dos Jesuítas, no Rio de Janeiro, formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, Portugal, revelando-se grande poeta ainda em seus tempos de estudante. Conviveu na Itália com outros poetas e personalidades brilhantes, período em que ingressou na Academia dos Árcades (poetas que cultivam principalmente a poesia relacionada com a vida campestre) e escreveu sonetos e cantatas em italiano.
Regressando ao Brasil, estabeleceu-se como advogado em Vila Rica, atual Ouro Preto, sendo freqüentemente consultado pelos governadores da capitania em razão de seus conhecimentos e sabedoria. Mesmo sendo um liberal que se deixara influenciar pelas opiniões sobre a existência da inspiração sobrenatural, difundidas no século 18 (iluminismo), e pelas teorias econômicas então defendidas pela Inglaterra, foi nomeado segundo-secretário de Estado no governo de Rodrigo José de Menezes, época em que passou a participar, embora de forma modesta por força de sua idade e temperamento, das reuniões realizadas pelos participantes da Inconfidência Mineira, que eram liderados por Tiradentes.
Denunciada a conspiração, foi preso pelas autoridades portuguesas em 29.06.1789 e conduzido à cadeia de Vila Rica, onde em 04.07.1789 o encontraram morto, enforcado.
Esse é o ponto mais crítico da biografia do poeta inconfidente: a suspeita sobre seu suicídio. Há mais de duzentos anos que o assunto suscita debates e há argumentos de peso tanto a favor como contra a tese de que ele tenha ocorrido. Os partidários dessa crença se baseiam no fato de que ele estava profundamente deprimido na véspera da sua morte, o que se depreende do depoimento que deu e que foi registrado no inquérito.
Além disso, seu padre confessor teria confirmando esse estado depressivo a um frade que trouxe o registro à luz. Em contrapartida, os adeptos da tese de que Cláudio tenha sido assassinado, contestam tanto a autenticidade do depoimento apensado nos autos de devassa, quanto a honestidade do registro do frade. E reforçam seu ponto de vista com o próprio laudo pericial que concluiu pelo suicídio.
Por esse documento, o indigitado poeta teria se enforcado usando os cadarços do calção amarrados numa prateleira, contra a qual ele teria apertado o laço, forçando com um braço e um joelho. Muitos acreditam ser impossível alguém conseguir se enforcar em tais circunstâncias.
O engenheiro e historiador Ivo Porto de Menezes, natural de Belo Horizonte, que dirigiu o Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Municipal de Ouro Preto, relata que ao organizar antigos documentos relativos à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, em 1957 ou 1958, encontrou no livro de assentos dos integrantes da Irmandade de São Miguel e Almas, a anotação da admissão de Cláudio Manuel, e à margem a observação de que havia “sufragado com 30 missas” a alma do falecido, e “pago tudo pela fazenda real”.
De igual forma procedera a Irmandade de Santo Antônio, que lançou em seu livro: “falecido em julho de 1789. E feitos os sufrágios”. Relembra que havia à época proibição de missas pelos suicidas.
Também Jarbas Sertório de Carvalho, mineiro de Ponte Nova, publicou ensaio na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, no qual defende com boa documentação a tese do assassinato. Há ainda quem acredite que o próprio governador, Visconde de Barbacena, esteve envolvido na conspiração e Cláudio teria sido eliminado por estar disposto a revelar isso.
Mas o fato é que somente a tese do suicídio pôde se lastrear em documentos, ainda que duvidosos quanto a sua honestidade e veracidade, como bem salientam os adeptos da tese de assassinato.
Os registros da trajetória da vida de Cláudio revelam uma bem sucedida carreira no campo político, literário e profissional. Foi secretário de vários governadores, poeta admirado até em Portugal e advogado dos principais negociantes da capitania no seu tempo. Acumulou ampla fortuna, e sua casa em Vila Rica era uma das melhores vivendas da capital. Sólida e suntuosa construção que ainda lá está a desafiar o tempo.
A memória de Cláudio Manuel da Costa, porém, não teve a mesma sorte. Até hoje paira sobre ele a suspeita de ter sido um miserável covarde que traiu os amigos e se suicidou na prisão. Outros negam até a própria relevância da sua participação na inconfidência mineira, pintando-o como um simples expectador privilegiado, amigo de Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, freqüentadores assíduos dos saraus que ele promovia.
Cláudio tentou, ele próprio, diminuir a relevância da sua participação na conspiração, mas estava apenas tentando reduzir o peso da sua culpa diante dos juizes da devassa. Os clássicos da historiografia da inconfidência mineira são unânimes em valorizar sua participação no movimento. Parece que ele era meio descrente com as chances militares da conspiração, mas apesar disso não deixou de influenciar no lado mais intelectualizado do movimento, especialmente no que diz respeito à construção do edifico jurídico projetado para a república que pretendiam implantar em Minas Gerais, no final do século 18.
De qualquer modo José Pedro Machado Coelho Torres, juiz nomeado para a Devassa de 1789 em Minas Gerais, dele diz o seguinte: “O dr. Cláudio Manoel da Costa era o sujeito em casa de quem se tratou de algumas cousas respeitantes à sublevação, uma das quais foi a respeito da bandeira e algumas determinações do modo de se reger a República: o sócio vigário da vila de S. José é quem declara nas perguntas formalmente”. (Anais da Biblioteca Nacional, 1º vol. pg. 384).
Um dos grandes poetas do Brasil, Cláudio Manoel da Costa integrou a Academia Brasileira dos Renascidos e Arcádia Ultramarina, com o pseudônimo de Glaudeste Satúrnio. Patrono da cadeira número 8 da Academia Brasileira de Letras, o poeta escreveu Munúsculo Métrico, romance histórico, 1751; Epicédio, 1753; Labirinto de Amor, poema, 1753; Números Harmônicos, 1753, e Vila Rica, poema heróico publicado em 1839. A ele também é atribuída a autoria de um comentário ao Tratado da Origem da Riqueza das Nações, de Adam Smith, e de Memórias Sobre a Literatura Antiga e Moderna.
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