Oswaldo Gonçalves Cruz, um dos maiores sanitaristas brasileiros, nasceu no dia 5 de agosto de 1872, em São Luis do Paraitinga, no interior de São Paulo. Filho primogênito do médico Bento Gonçalves Cruz, Oswaldo mudou-se com a família para o Rio de Janeiro aos cinco anos de idade. Na então capital do país, o futuro cientista, que já havia sido alfabetizado pela mãe, teve seu primeiro contato com a educação formal como aluno dos colégios Laure e São Pedro de Alcântara.
Em 1887, com apenas 14 anos de idade, Oswaldo iniciou o curso de Medicina na Faculdade do Rio de Janeiro. Ao contrário do que se possa pensar, ele não era um aluno de destaque: tinha notas medianas e não se interessava pela prática clínica. Mas durante o curso descobriu sua paixão pelo microscópio e pelos microorganismos. A vontade de compreender a vida desses pequenos seres o levou, em 1896, até Paris, onde fez especialização em Microbiologia e estagiou em vários centros de pesquisas importantes, inclusive no Instituto Pasteur, período em que realizou trabalhos sobre toxicologia.
Ciente de que seria impossível viver unicamente da ciência, Oswaldo especializou-se também em Urologia. De volta ao Brasil, trabalhou primeiramente num laboratório de análises, depois na fábrica de tecidos em que seu pai havia atuado, e posteriormente numa policlínica.
A história de Oswaldo Cruz e da saúde pública se encontram em 1899, quando o médico foi convidado pela Diretoria Geral de Saúde Pública (hoje Ministério da Saúde) para formar uma comissão que deveria investigar casos suspeitos de peste bubônica na cidade de Santos. O convite para integrar o grupo do qual participavam cientistas de renome, como Adolfo Lutz e Vital Brasil, era um reconhecimento público da competência de Oswaldo Cruz.
No Instituto Soroterápico, o médico liderou os trabalhos para a produção nacional do soro contra a peste, que era importado da Europa. Foi também nessa instituição que ele descobriu os meios de combate ao carbúnculo que dizimava o gado bovino naquela época.
No ano seguinte, Oswaldo tornou-se diretor da instituição e, em 1903, foi nomeado diretor geral do Serviço Sanitário do Rio de Janeiro, cargo que recebeu junto com a missão de erradicar doenças que atingiam a população carioca: a febre amarela, a peste e a varíola. O sanitarista empregou todos os esforços para debelá-las em três anos, conforme prometera ao governo, e para tanto organizou campanhas visando eliminar esses males através da perseguição às suas causas.
Para a febre amarela, as ações consistiam em detectar os doentes e acabar com os mosquitos Aedes aegypti. Certa ocasião, diante da oposição do povo quanto à aplicação de medidas enérgicas de profilaxia, pediu demissão do cargo, mas Rodrigues Alves, presidente da República, recusou-a e deu-lhe apoio integral na execução de sua obra. Quanto à peste, ele propôs aos cidadãos uma caça aos transmissores, os ratos, oferecendo para cada roedor morto o prêmio de 300 reis. As medidas do governo, apesar de serem alvo de desconfiança por parte da população, foram eficazes e acabaram com as duas doenças.
Porém, foi a luta contra a varíola que marcou sua trajetória e resultou num dos fatos mais marcantes do início do século 20 no Brasil: a Revolta da Vacina. O episódio consistiu na reação dos cariocas a vacinação obrigatória e em massa, que era a ação proposta para eliminar a doença. A medida foi mal vista pela sociedade. Intelectuais acusavam o médico de desrespeitar a liberdade individual, e a população, que desconhecia o medicamento, produzia boatos de que o vacinado poderia ficar com cara de bezerro, ou até morrer.
A crescente insatisfação levou ao movimento de rebeldia, que eclodiu em 10 de outubro de 1904. Durante vários dias, a cidade do Rio de Janeiro foi palco de batalha entre a população e as tropas do governo, que tiveram que contar com a ajuda da Marinha para pôr fim ao conflito. Em decorrência disso, a obrigatoriedade da vacinação foi suspensa e, em 1908, ocorreu um novo surto de varíola. Mas então, a vacinação que antes provocara recusa e tumulto entre a população, foi aceita como medida necessária.
Com a reputação abalada pelo ocorrido, Oswaldo Cruz decidiu dedicar-se inteiramente à pesquisa na área de saúde pública, atuando no Instituto Sorológico Federal que, em 1908, recebeu o seu nome. Às realizações de Oswaldo à frente do Instituto foram internacionalmente reconhecidas. Em 1907 ele foi premiado com a medalha de ouro no 14º Congresso de Higiene e Demografia, na Alemanha, e visitado pelo presidente norte-americano Theodore Roosevelt, a quem apresentou as boas condições sanitárias do Rio de Janeiro.
Nessa época, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré solicitou sua cooperação para o saneamento da zona em que operava, e ele conseguiu que ali o número de doentes baixasse de trezentos para sessenta, por ano.
A fama de seu trabalho lhe restituiu o bom nome perante os brasileiros e lhe garantiu dois cargos que o levaram novamente à vida pública: a posse na Academia Brasileira de Letras, em 1913, e a nomeação para a Prefeitura de Petrópolis, cidade em que passou a morar depois de encerrar, em 1916, suas atividades no Instituto, por motivos de saúde, e aonde veio a falecer em 11 de fevereiro de 1917.
Oswaldo Cruz deixou duas obras escritas: A água como veículo dos micróbios, tese de doutorado, e Relatório sobre a moléstia reinante no porto de Santos;
Fonte: Revista Minas faz Ciência, nº 32.
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