Os tamoios eram os indígenas que habitavam a região hoje pertencente ao Estado do Rio. Na época da invasão francesa, ocorrida ainda na primeira fase do período colonial brasileiro, eles organizaram uma coligação de tribos conhecida como Confederação dos Tamoios, aliando-se aos franceses e oferecendo tenaz resistência aos portugueses.
O nome desses índios vem do tupi “tamuya” que significa “os velhos, os idosos, os anciãos”, e segundo os historiadores, era usado comumente como referência à aliança formada, em 1560, por três experientes caciques tupinambás e mais algumas aldeias de outras etnias (goitacazes, guaianazes e aimorés), visando combater os perós, nome que eles davam aos portugueses e às tribos que os apoiassem.
A aldeia do chefe indígena Cunhambebe (na ilustração, em tela de André Thevet, que acompanhava a expedição de Villegaignon) ficava perto de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Apoiado por todos os caciques tamoios na sua resistência contra a dominação portuguesa, sua fama de homem valente, arrojado e destemido era tão grande, que a seu respeito existe a versão de que guardava na taba onde morava, um ou mais canhões retirados das caravelas saqueadas pelo seu grupo de guerreiros. Cunhambebe era aliado dos franceses, que chefiados pelo almirante Nicolau Durand de Villegaignon haviam invadido o Rio de Janeiro em 1555, pretendendo fundar a França Antártica, uma colônia para os protestantes perseguidos em seu país.
Convertido e batizado pelo padre jesuíta José de Anchieta, Cunhambebe participou das negociações realizadas na praia de Iperoig, hoje Ubatuba, que permitiram o acordo de paz na guerra entre índios e colonos portugueses (Em Resenhas – Brasil -1560 – Confederação dos Tamoios, encontra-se o texto que trata dessa reunião). Diz a tradição que os índios acreditaram nas promessas de paz e convivência pacífica que lhes foram feitas pelos brancos, e por isso guardaram seus arcos, suas flechas e suas bordunas, e retornaram às tabas de origem.
O acordo até hoje é comemorado como acontecimento que garantiu a unidade do Brasil, mas a história não comenta que logo depois disso os indígenas, dispersos e desarmados, foram massacrados pelos colonizadores portugueses interessados no ouro e nas riquezas das terras descobertas. Diz a lenda que Cunhambebe, envergonhado diante da traição de que fora vítima, lançou uma maldição contra os invasores e seus descendentes, dizendo que as terras de Iperoig seriam as terras do fracasso porque nelas nada daria certo, e tudo que lá se começasse, não chegaria ao fim.
Hans Staden, um alemão aprisionado pelos tupinambás no litoral fluminense (entre os quais permaneceu aprisionado durante oito meses), em 1554, ao voltar para casa, escreveu um livro sobre o Novo Mundo. Seu relato em “Viagens e Aventuras no Brasil”, de 1557, confirmam a força dos “anciãos”. Outras narrativas feitas por aventureiros que estiveram em terras brasileiras nessa mesma época, estão em “Singularidades da França Antártica” de André Thevet, publicado em 1557; “História verdadeira de uma viagem curiosa feita por U. Shmidel”, de Ulrich Schmidel, 1567; e “Viagem à terra do Brasil”, de Jean de Léry, 1578, este considerado como um dos mais soberbos levantamentos etnográficos do Brasil
Cunhambebe morreu de varíola ou outra doença transmitida pelos brancos, e com isso a chefia da coalizão passou a Aimberê, que comandava os guerreiros da baia de Guanabara vencidos pelos portugueses quando estes convenceram o cacique temiminó Araribóia, da ilha dos Gatos (atual ilha do Governador, no Rio de Janeiro) a se juntar aos perós em troca das terras onde hoje se acha a cidade de Niterói. Pouco depois a confederação foi enfraquecida pela saída dos guaianazes, da atual Costa verde do Rio de Janeiro, que fizeram um acordo em separado com os jesuítas.
Porém, em 1567, os perós e os temiminós destruíram a França Antártica, apesar da ajuda dada pelos tamuyas aos franceses (por eles chamados de maíres). Os remanescentes franceses e tamoios fugiram para Cabo Frio. De lá os invasores retornaram a Europa, mas os tupinambás continuaram atacando os portugueses.
Até que em 1575, segundo alguns autores, 400 lusitanos e 700 nativos catequizados cercaram o forte Cabo Frio por terra e mar. Os tamoios se renderam e entregaram suas armas, mas os sitiantes quando entraram, massacraram todos eles sem a menor dificuldade, já que se encontravam desarmados. Os goitacazes prosseguiram lutando sozinhos por vários anos, em torno da atual cidade de Campos.
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