Foi em 1338 que a Inglaterra, associada aos flamengos e bretões, iniciou contra a França uma guerra que duraria cem anos. Em 1415, quando os ingleses já dominavam quase todas as províncias marítimas francesas, surgiu no cenário de batalhas a figura de Joana D’Arc, cujas façanhas guerreiras mudaram completamente o rumo dos acontecimentos.
Nascida provavelmente em 6 de janeiro de 1412, em Donremy, pequena localidade fronteiriça, ela era filha de camponeses relativamente abastados, mas apesar disso permaneceu analfabeta. Extremamente devota, Joana tinha pouco mais de cinco anos quando ouviu pela primeira vez o chamado de Deus, o que continuou acontecendo durante os cinco anos seguintes, cerca de duas e três vezes por semana. Entre as vozes que ouvia a menina identificou as de Santa Catarina e Santa Margarida, que lhe ordenaram partir em socorro do delfim da França, futuro Carlos VII.
Uma profecia conhecida na época anunciava que a restauração da grandiosidade francesa seria feita por uma donzela da fronteira da Lorena, e Joana provavelmente devia saber disso. O fato é que a moça se equipou para a guerra e procurou em seguida o palácio real, onde após algumas dificuldades conseguiu chegar à presença de Carlos, a quem afirmou que tinha sido enviada por Deus para salvar a pátria assediada e depois coroar o rei na cidade de Reims. Submetida a muitas provas, nas quais respondeu a todos os interrogatórios com grande habilidade, ela foi então declarada como chefe de guerra, iniciando a partir daí uma campanha militar cujo primeiro resultado foi a reconquista de Orleans, em 29/4/1429.
A seguir, ofensivas fulminantes permitiram a retomada de Patay, onde os ingleses sofreram derrota esmagadora, além de Troyes, Châlons e Reims, invadida pelo exército de Joana D’Arc no dia 16 de julho, e na qual, no dia imediato, processou-se a sagração do soberano francês em presença da donzela, que mostrando seu estandarte de guerra ocupava lugar de destaque na cerimônia.
Com isso chegara ao fim a missão a que Joana D’Arc se propusera, mas ela continuou à frente dos seus soldados. Até que na primavera de 1430, quando, mesmo desaconselhada por vozes interiores, a donzela marchou para socorrer Compiégne, acabou caindo em poder dos inimigos. Em novembro de 1430, Joana d’ Arc entrou pela primeira vez na sala do tribunal tendo contra si a acusação de heresia, apostasia, bruxaria e idolatria. Seu julgamento durou seis meses, e ao final dele sendo considerada culpada, foi condenada à fogueira.
Joana D’Arc morreu na cidade de Ruão em 30 de maio de 1431. Consumada a execução, o corpo carbonizado da heroína francesa permaneceu exposto para que todos pudessem vê-lo, mas em seguida foi novamente atirado à fogueira, a fim de que se transformasse em cinzas. Apesar do trágico desfecho, a carreira militar da jovem e seu martírio fortaleceram e estimularam a França para a resistência aos ingleses, o que acabou redundando na expulsão dos invasores.
Joana d’Arc foi esquecida pela história até ao século 19, quando os franceses a redescobriram. Antes disso, porém, Shakespeare tratou-a como uma bruxa, e Voltaire escreveu um poema satírico, ou pseudo-ensaio histórico, que a ridicularizava, intitulado “La Pucelle d´Orleans” ou “A Donzela de Orleans”. Em 1870, quando a França foi derrotada pela Alemanha – que ocupou a Alsácia e a Lorena – “Jeanne, a pequena pastora de Domrémy, um pouco ingênua, tornou-se a heroína do sentimento nacional”, o que fez com que republicanos e nacionalistas passassem a exaltar “aquela que deu sua vida pela pátria”.
Por ocasião da Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, ‘os postais patrióticos mostravam Joana à frente dos exércitos’, e monumentos seus apareceram como cogumelos por toda a França. O Parlamento francês estabeleceu, então, uma festa nacional em sua honra, no 2º domingo de maio.
Beatificada em 1909, o papa Bento XV a santificou em 9 de maio de 1920, quinhentos anos depois da sua morte, e em 1922 ela se tornou padroeira da França. A Igreja a festeja em 30 de maio, mas os franceses comemoram o seu dia no segundo domingo do mesmo mês. A canonização traduzia o desejo da Santa Sé de estender pontes para a França republicana, laica e nacionalista. Joana d´Arc permanece como testemunha de milagres que pode realizar uma pessoa ainda que animada apenas pela energia de suas convicções, mesmo sendo adolescente, pastora e analfabeta, de modo que seu exemplo guarda um valor universal.
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