Esopo foi um moralista e fabulista grego do século 6 a.C., que teria nascido em alguma cidade da Anatólia, no extremo oeste da Ásia.. Sobre sua vida existem algumas versões incertas e contraditórias, sendo a mais antiga encontrada em Heródoto: segundo este historiador, e também na opinião de Plutarco, Esopo era um escravo gago e corcunda, mas dono de grande inteligência, que ao obter sua liberdade viajou pela Ásia, Egito e Grécia.
Durante essas andanças ele se tornou amigo do rei Creso, da Lídia, que o encarregou de levar oferendas ao templo de Delfos, mas chegando lá, e percebendo a cobiça dos sacerdotes, o fabulista dirigiu sarcasmos aos religiosos, não lhes deu o dinheiro que o rei enviara e se limitou a fazer sacrifícios aos deuses. Enraivecidos, os sacerdotes decidiram vingar-se daquela atitude, e para isso esconderam na bagagem de Éfeso um copo – ou faca – de ouro, acusando-o em seguida de roubo. Por essa razão o ex-escravo foi preso e condenado a ser jogado do alto de uma rocha.
Uma outra versão apresenta Esopo como sendo natural da Trácia e contemporâneo do rei Amásis, do Egito. Escravo libertado por Xanto, seu senhor, ele continuou, entretanto, a freqüentar a casa onde servira, apesar de o seu desejo de adquirir novos conhecimentos levá-lo a constantes viagens por diferentes países. Ao que parece, foi no Oriente que adquiriu o gosto pelas narrativas alegóricas que posteriormente foram propagadas pela Grécia. Segundo esse relato, Esopo, que teria morrido em Delfos, foi considerado como o inventor do apólogo, apesar de a fábula já existir na Grécia e no Oriente desde a mais remota antiguidade. Parece que sob o título Fábulas de Esopo, designaram-se todos os apólogos cuja proveniência exata era ignorada.
Esopo tornou-se famoso pelas suas pequenas histórias de animais, cada uma delas com um sentido e um ensinamento. Seus personagens – apesar de selvagens e irracionais na vida normal – falam, cometem erros, são sábios ou tolos, maus ou bons, exatamente como os homens, porque a intenção do fabulista era mostrar como o ser humano poderia agir. Ele nunca escreveu as narrativas criadas em sua imaginação, apenas as contava para o povo, que as apreciava e por isso se encarregou de repeti-las. Apesar disso, somente duzentos anos após a sua morte é que elas foram transcritas para o papel, e depois reunidas às de vários outros fabulistas que em várias épocas e civilizações também inventaram contos de moralidade popular, mas cuja autoria permaneceu desconhecida.
O filósofo grego Demétrio de Falero (345-283), que ajudou Ptolomeu I a organizar a famosa biblioteca de Alexandria, no Egito, foi quem preparou a primeira coletânea das fábulas de Esopo, que chegaram aos nossos dias através dos escritos do monge bizantino Maximus Planudes, autor de uma biografia sobre Demétrio. Entre as mais de trezentas histórias atribuídas ao fabulista, as mais conhecidas são “A raposa e as uvas”, “O leão e o rato”, “A galinha e a pomba”, “A galinha dos ovos de ouro”, e “A águia e a coruja”
Uma circunstância da vida do fabulista deu origem a locução “as línguas de Esopo”. Diz-se que certo dia o seu senhor – Xanto – o encarregou de buscar no mercado o que de melhor encontrasse para servir como refeição a alguns convidados. Esopo saiu e comprou um punhado de línguas bovinas, que mandou preparar de várias maneiras. Durante a festa, e na medida em que elas iam sendo servidas aos convivas, estes deixavam transparecer cada vez mais o seu desagrado, e em breve alguns deles, aborrecidos, passaram a reclamar. Questionado, Esopo justificou-se:
– Há coisa melhor do que a língua? Ela é o laço da vida, da razão; e por meio dela as cidades são construídas e policiadas. Graças a ela as pessoas não só são instruídas, persuadidas e convencidas nas assembléias, mas também cumprem o primeiro de todos os deveres, que é o de louvar a Deus.
– Está bem – replicou Xanto, que pretendia embaraçá-lo. – Pois amanhã eu quero que você compre o que houver de pior.
No dia seguinte Esopo serviu novamente línguas, apenas asseverando que a língua é a pior coisa que há no mundo:
– A língua é a mãe de todas as questões, a origem de todos os processos, a fonte das discórdias e das guerras. Se por um lado se ela é o órgão da verdade, de outro é também o do erro e, pior ainda, o da calúnia e da infâmia, porque se em dado momento ela louva os deuses, em outro é usada para a blasfêmia e a impiedade.
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