Por conta disso foi expulso da Escola Militar, só retomando seus estudos no ano seguinte, quando foi anistiado. Em 1906, ingressou na Escola de Guerra de Porto Alegre; e em seguida cursou a Escola de Artilharia e Engenharia. Durante a década de 10 foi colaborador freqüente da revista Defesa Nacional, destinada ao meio militar. Em 1922, concluiu o curso da Escola do Estado-Maior.
Durante a década de 20, esteve envolvido por várias vezes na repressão aos levantes tenentistas então deflagrados contra o governo federal, como em 1922, no Rio de Janeiro, e em 1924, em São Paulo. Convidado a participar da Revolução de 1930, preferiu manter-se ao lado das forças legalistas.
Aproximou-se do governo Vargas a partir de 1932, quando teve importante participação no combate ao movimento constitucionalista desencadeado contra o governo federal, em São Paulo. Pouco tempo depois alcançou o generalato e, entre 1933 e 1934, presidiu o Clube Militar. Em 1935, comandava a 1ª Região Militar, sediada na capital federal, quando chefiou a repressão ao levante armado deflagrado na cidade por setores vinculados à Aliança Nacional Libertadora (ANL), frente antiimperialista e antifascista, integrada por comunistas, socialistas e “tenentes” de esquerda.
Em dezembro de 1936, foi nomeado ministro da Guerra. Nesse posto, junto com Vargas e o general Góis Monteiro, cumpriu papel decisivo no fechamento do regime, o que levou à instauração da ditadura do Estado Novo em novembro de 1937. Nesse processo, colaborou ativamente na divulgação de uma suposta ameaça comunista e no afastamento do governador gaúcho Flores da Cunha, último obstáculo à concretização do golpe.
Durante o Estado Novo, Dutra impôs a coesão na conduta política dos militares através do expurgo sistemático dos elementos dissidentes, promovendo, ao mesmo tempo, a modernização e a ampliação do poderio das Forças Armadas, consolidando o papel decisivo exercido pela instituição no jogo político do país. Sua demora em promover o combate ao levante integralista deflagrado em maio de 1938, no qual a residência de Vargas foi atacada pelos rebeldes, gerou suposições, jamais confirmadas, sobre sua conivência com a insurreição.
Também durante sua gestão ocorreu o processo de envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial. A princípio, Dutra e Góis Monteiro constituíam a base principal do setor governista que defendia a aproximação do Brasil às potências do Eixo, enquanto uma outra facção, capitaneada pelo ministro da Fazenda Osvaldo Aranha, defendia a aproximação com os Aliados, mais especificamente, com os Estados Unidos. A opção do governo brasileiro pelo alinhamento com os EUA, definida em 1942, foi aceita com relutância por Dutra.
Mesmo em 1943, época em que o Brasil já havia rompido as relações diplomáticas com os países do Eixo, Dutra ainda deixava transparecer suas inclinações políticas dificultando o funcionamento da Sociedade Amigos da América, entidade estimulada por setores liberais e presidida pelo general Manoel Rabelo. Seus atritos com a facção liberal do regime resultaram, inclusive, no afastamento de Osvaldo Aranha do Ministério da Fazenda, após a interdição de uma solenidade realizada em sua homenagem pela Sociedade. Mas apesar posicionamentos coube a Dutra comandar o processo efetivo de aproximação entre Brasil e Estados Unidos no que dizia respeito às questões militares, tendo sido o responsável pela organização da Força Expedicionária Brasileira (FEB), enviada para combater na Itália.
Em 1945, quando o regime mostrava claros sinais de esgotamento, seu nome foi lançado por setores governistas articulados no Partido Social Democrático (PSD), para concorrer à presidência da República, no pleito previsto para dezembro daquele ano.
A oposição, aglutinada na União Democrática Nacional (UDN), apresentara o nome de um outro militar que gozava de grande prestígio dentro e fora das Forças Armadas, o brigadeiro Eduardo Gomes. Em agosto, Dutra afastou-se do Ministério da Guerra, cumprindo a exigência de desincompatibilização para concorrer no pleito.
Porém, antes que a eleição se realizasse Vargas foi afastado do governo por um golpe militar que contou com a participação decisiva do próprio Dutra, temeroso de que o presidente se aproveitasse do sucesso da campanha queremista para se perpetuar no poder. A presidência foi então ocupada por José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal. Mas foi o próprio Vargas que acabou desempenhando o papel decisivo na vitória de Dutra nas eleições, ao recomendar o voto em seu ex-ministro da Guerra.
Empossado em janeiro de 1946, Dutra aproximou-se dos setores conservadores, incluindo aqueles representados pela UDN, através do chamado Acordo Interpartidário, o que acarretou a marginalização de Vargas e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que acabaram por romper com o presidente. Os comunistas, que haviam obtido resultados eleitorais expressivos nas eleições de 1945 e 1947, foram vítimas de uma ferrenha perseguição por parte do governo, que assim se integrava no contexto internacional da Guerra Fria, e tiveram sua atuação política legal novamente proibida.
O governo Dutra foi marcado, ainda, por uma política econômica conduzida a partir de postulados liberais, pelo rápido esgotamento das reservas cambiais acumuladas durante a guerra e por uma severa política de arrocho salarial. Em 1950, Dutra apoiou o candidato do PSD à sua sucessão, o mineiro Cristiano Machado. O eleito nesse pleito, porém, foi Getúlio Vargas, ficando Machado apenas com a terceira colocação. Em janeiro de 1951, Dutra transmitiu o cargo a Vargas.
Mesmo após sua saída da presidência, manteve grande influência junto à cúpula militar e lideranças civis. Em 1954, deu apoio discreto às articulações que visavam o afastamento de Vargas, voltando a conspirar dez anos depois, dessa vez contra o presidente João Goulart. Com o estabelecimento do regime militar, em 1964, seu nome chegou a ser cogitado para ocupar novamente a presidência. Prestigiado pelos militares, fez parte do diretório nacional da Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação do regime. Morreu no Rio de Janeiro, em 1974.
Fonte: Fundação Getúlio Vargas
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