“Aqui jaz Ésquilo, sob o solo fértil de Gela, hóspede da terra ateniense, a qual amou acima de todas as coisas. A valentia deste filho de Euforion pode ser narrada pelo persa de longos cabelos, que fugiu de Maratona”. Este é o epitáfio de Ésquilo, escrito pelo próprio guerreiro pouco antes de sua morte, em 456 a.C..
Filho de Euforion e de várias gerações de eupátridas (nobres proprietários de terras), ele lutou contra os persas, na Ásia Menor, para defender os interesses gregos ameaçados pelo império de Dario I. Participou da batalha de Maratona (490 a.C.) e, segundo se afirma, da batalha de Salamina, na qual os gregos conseguiram recuperar Mileto, até então sob o domínio da Pérsia.Depois das Guerras Medicas, fez uma proclamação: “Durante muito tempo, sobre o solo da Ásia, não mais se obedecerá ás leis dos persas; não mais se pagará tributo sob a coação imperial; não mais se cairá de joelhos para receber ordens. O grande rei (Dario) não tem mais força”.
Se dependesse de Ésquilo, sua biografia ficaria só nos feitos militares, pois tudo o que escreveu sobre si trata apenas de seu envolvimento nas guerras contra os persas. Mas, para a história do teatro e das artes da antiguidade, ele é o primeiro entre os clássicos da tragédia grega. Costuma-se atribuir-lhe a autoria de noventa peças, sendo conhecidos os títulos de 79, sete das quais sobreviveram integralmente até hoje: As Suplicantes, Prometeu Acorrentado, Os Persas, Os Sete contra Tebas, e a trilogia Oréstia, sobre a família dos Atridas, incluindo Agamenon, As Coéforas e As Eumênidas.
Anos antes do nascimento de Ésquilo (525 a.C.), a tragédia foi reconhecida pelo Estado ateniense. Pisistrato permitiu que Tespis convertesseo ditirambo (canto religioso interpretado por um coral) em drama coral, no qual se introduzia um primeiro ator (protagonista). Durante todo o desenvolvimento do drama anterior a Ésquilo, esse único ator dialogava apenas com o coro, ou com o corifeu, chefe do coro. Para acentuar a dramaticidade das peças, Ésquilo acrescentou um segundo ator (deutoragonista), ampliando a parte dialogada. Reduziu pouco a pouco o papel do coro, na medida em que centralizou o interesse das suas peças nos atores.
Há uma lista enorme de inovações atribuídas a Ésquilo. Os discursos dos mensageiros, por exemplo, tornam-se uma constante a partir dele, apesar da possibilidade de já terem sido utilizados antes com Tespis. Tem também a seu crédito a criação de muitos detalhes cênicos, entre os quais a adoção da túnica de mangas largas e o uso dos coturnos, uma espécie de sandália com sola alta que dava maior estatura aos atores, destacando o herói dos outros figurantes. Horácio, poeta latino (65 a.C. – 8 d.C.), confere a Ésquilo a invenção da máscara, enquanto outros o colocam como o primeiro poeta a escrever uma trilogia. De fato, não se tem notícia de autor algum que, antes, tenha criado três tragédias completas em si, englobadas num todo, representando uma história com fio lógico e consecutivo, da primeira à última cena.
Das obras de Ésquilo, Oréstia é considerada a mais importante. As três tragédias que a compõem, embora cada qual forme uma unidade, interligam-se como se fossem atos diferentes de uma única peça. Trata-se de uma tragédia familiar, na qual Egisto seduz Clitemnestra, mulher de Agamenon, durante a ausência do marido que está lutando em Tróia. Antes de partir, o rei de Micenas havia sacrificado sua filha Ifigênia, para que os deuses protegessem seus exércitos. Sentindo-se injuriada, Clitemnestra decide vingar-se do marido, a quem espera acompanhada pelo amante. A primeira parte, Agamenon, conclui com o assassínio do rei pelo casal adúltero.
Na segunda parte, As Coéforas, aparece Orestes, filho de Agamenon e Clitemnestra, herói da tragédia, que é designado pelo deus Apolo para vingar o assassínio do pai. Incitado pela irmã Electra, mata a mãe e seu amante. Conclui com a fuga de Orestes quase enlouquecido pelas
Fúrias, deusas da vingança que perseguem o matricida. Na terceira parte, As Eumènidas, Orestes é julgado pelos deuses, pois Atena o acusa de matricídio e de quebra da cadeia ancestral. Defendido por Apolo, o herói é finalmente absolvido. A peça tem um final feliz. Absolvido, Orestes sente-se liberto das Fúrias (Erínias), transformadas agora em Eumènidas, espíritos benfazejos. A ordem e a lei voltam a reinar após a superação do conflito que ameaçava o espírito universal.
Fúrias, deusas da vingança que perseguem o matricida. Na terceira parte, As Eumènidas, Orestes é julgado pelos deuses, pois Atena o acusa de matricídio e de quebra da cadeia ancestral. Defendido por Apolo, o herói é finalmente absolvido. A peça tem um final feliz. Absolvido, Orestes sente-se liberto das Fúrias (Erínias), transformadas agora em Eumènidas, espíritos benfazejos. A ordem e a lei voltam a reinar após a superação do conflito que ameaçava o espírito universal.
Em Os Persas, apresenta-se a vitória dos gregos nas Guerras Médicas. Ésquilo mostra a derrota da Pérsia a partir do ponto de vista dos vencidos, dos valentes persas que se deixaram dominar pela hibris (soberba). “A grande culpada foi essa soberba, que obrigou Dario e Xerxes a ambicionarem mais poder do que os limites do homem permitiam”. No final, em lamentações selvagens, o coro adverte sobre a fragilidade da existência humana diante dos deuses, apontando o sofrimento como o caminho que leva o homem ao conhecimento das coisas.
Nem sempre Ésquilo permitiu que seus heróis se submetessem inteiramente aos deuses. Exemplo disso é Prometeu Acorrentado, condenado porque desafiara a cólera de Zeus entregando ao homem um precioso tesouro: o fogo. Por força de sua religião, Ésquilo talvez devesse também condenar o rebelde orgulhoso, mas as suas simpatias ficaram com ele, a quem transformou num símbolo eterno da condição humana.
Ésquilo era muito cuidadoso na escolha dos seus temas. O poeta cômico Aristófanes conta que preferentemente ele escolhia os de significado moral, religioso e político; o direito de asilo, a punição, a soberba, o sacrilégio, a violência e a justiça. Não era difícil incluir religião, política, moral e família numa mesma tragédia, pois no tempo de Ésquilo, elas eram coisas que se confundiam. Para ele, o Estado era uma federação de famílias de origem comum, ligadas ao culto dos mesmos deuses. O homem estava profundamente integrado na ordem divina, que abrangia tanto a família quanto a política. Da mesma forma, o tratamento que dá aos seus temas não reflete a sorte de apenas um indivíduo, mas o destino de toda a coletividade da qual fazia parte.
Ésquilo morreu em 456 a.C., quando estava em Gela, na Sicília. Conta a lenda que sua morte se deu em condições trágicas: uma tartaruga teria sido lançada por uma águia na cabeça calva do poeta.
Fonte: Enciclopédia Abril
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