Heródoto (484-425 a.C.), natural de Halicarnasso (atual Bodrum, Turquia), pertencia a uma família rica e nobre da cidade. Com 23 anos de idade, aproximadamente, foi obrigado a abandonar sua terra natal e exilar-se na ilha de Samos, por ter participado de um golpe de estado frustrado contra a dinastia que a dominava, iniciando nessa época, ao que tudo indica, as viagens que descreveu em livro, e que o conduziram ao Egito, Pérsia, a Cirenaica, mar Negro, Fenícia, Chipre e mais tarde a Grécia.
Das observações que fez durante esse período resultou a obra “Histórias”, provavelmente escrita entre 450 e 430 a.C., e publicada até 424 a.C. Posteriormente ela foi dividida em nove livros, aos quais os últimos editores deram os nomes das musas. Antes disso, porém, crônicas e épicos haviam preservado o conhecimento do passado, mas Heródoto foi o primeiro a abordar não só os acontecimentos antigos, mas também a considerá-los um problema filosófico ou um projeto de pesquisa que poderia ampliar e aprofundar as noções que se tinham sobre o comportamento humano. Sua criação deu-lhe o título de “pai da história” e a palavra que utilizou para o conseguir – história -, cuja significação anterior era simplesmente a de “pesquisa”, adquiriu a conotação atual.
Nos seis primeiros Heródoto relata o surgimento do império persa, desde Ciaxares (624-584 a.C.), passando por Ciro (?-529 a.C.), fundador do império e terminando com a batalha de Maratona (490 a.C.), quando 10.000 gregos, principalmente atenienses, infligiram ao exército persa comandado por Dátis e Artafernes, uma derrota que representou para Dario I o primeiro retrocesso em seu projeto de dominação das terras gregas. Já os três últimos descrevem a tentativa feita por Xerxes I (519 -? a.C.) para vingar dez anos mais tarde a derrota sofrida em Maratona, vencendo todas as batalhas iniciais, mas sendo derrotado em Salamina (480 a.C.), e Platéia (479 a.C.), o que determinou o recuo da fronteira do seu império para a linha costeira da Ásia Menor.
Dessa importante obra literária diz-se que nela Heródoto relatou seus conhecimentos sobre as regiões visitadas, abrangendo os dois séculos que precederam as guerras entre gregos e persas, e descrevendo os principais episódios do conflito. A narrativa começa com Creso, rei da Lídia, termina às vésperas da guerra do Peloponeso, e inclui episódios que se tornaram clássicos, como Leônidas e a batalha das Termópilas, Salamina, Maratona etc. Escrevendo em jônio e no estilo de reportagem, foi ele o primeiro escritor em prosa e historiador do mundo ocidental a fazer uma detalhada descrição do mundo antigo, abordando o império persa, sua organização, seu exército e as diversas etapas de agressão às cidades gregas.
Em Histórias, cada região visitada pelo autor é mostrada em detalhes que englobam assuntos como a religião, a história e as características étnicas de cada povo, tudo comprovado posteriormente pela antropologia. o que contribuiu de forma decisiva para o conhecimento de uma das mais importantes civilizações de todos os tempos, a grega clássica. Por isso ele é chamado de “o pai da história”, denominação que lhe foi dada por Cícero (106-43 a.C.), escritor cuja produção literária é a maior que se possui de todos os escritos latinos.
Por volta de 447 a.C. Heródoto viajou para Atenas, onde além de sua obra histórica ter sido muito apreciada – e ele recebido uma dotação considerável pelo trabalho realizado -, também conheceu diversas personalidades eminentes da época, entre as quais Péricles e Sófocles. Em 444 a.C. acompanhou um grupo de atenienses que partiram para fundar a colônia de Túrias, que ao longo do tempo se transformou em uma cidade próspera e poderosa, até ser pilhada por Aníbal em 204 a.C. Ocupou-se, depois disso, na elaboração e revisão de sua grande produção literária, e parece ter escrito, na mesma época, a história da Assíria.
Seu livro foi traduzido para o latim em 1450, e a primeira versão completa em língua moderna – inglês – foi a de Littlebury, em 1737. Freqüentemente acusado de influenciável, impreciso e plagiário por pensadores antigos e modernos, que sugerem ter Heródoto exagerado na extensão das suas viagens e nas fontes criadas, o “pai da História”, passou a ser encarado com mais respeito na última metade do século, sendo reconhecido atualmente não apenas como pioneiro na história, mas também na etnografia (estudo e descrição dos diversos povos, de suas raças, línguas, formas materiais de atividade, crenças religiosas, costumes, etc.) e antropologia (estudo do homem, considerando-o como unidade bem definida no quadro do reino animal).
Pelo que se sabe, Heródoto morreu em Túrias (em 425 a.C.). Há em português uma tradução brasileira feita por Mário da Gama Kury, pela editora da UnB. Também há tradução portuguesa (Edições 70) de alguns livros das Histórias, feita a partir do original grego.
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