Hipócrates, considerado o “Pai da Medicina”, nasceu na ilha grega de Cós por volta de 460 a.C. Por descendência masculina ele pertencia ao ramo Cós, da família Esculápio (ou Asclepíades), que segundo a tradição se iniciara com Podalira, um sobrevivente da guerra de Tróia que ao voltar para casa perdera–se no caminho e fora conduzido por um pastor ao palácio de Damaithos, rei de Caria.
Como este estava desesperado porque sua filha Syrna havia caído do telhado, se machucara e não estava bem, Podalira ofereceu-se para ajudá-lo utilizando o remédio que considerava ideal para o caso: fazer sangrias nos braços da moça. Admirado e agradecido, o rei deu ao médico sua filha em casamento. Podalira fundou duas cidades, uma com o nome de sua mulher, Syrna, e outra com o nome do pastor que o salvara.
Os filhos de Podalira nasceram em Syrna, que se tornou o berço dos Esculápios. Mas a família dividiu-se em dois ramos: o de Hipócrates preferiu morar na ilha de Cós, e o outro achou melhor instalar-se em Cnida, no continente. Como na época a ciência médica passava de pai para filho, os dois ramos familiares ganharam fama e reputação igual, mas em pouco tempo a competência de Hipócrates, o primeiro a separar a prática medicinal das tradições de religião, mágica, superstições e poderes sobrenaturais, e baseá-la no estudo da Natureza, ofuscou os parentes de Cnida, fazendo com que Cós se tornasse, então, o maior centro médico do mundo.
Hipócrates fundamentou sua prática médica na compreensão do organismo humano, inclusive a personalidade, defendendo a observação pelos sentidos do tato, audição, gosto e olfato, e acreditando que os elementos calor, frio, presença ou ausência de umidade, fossem representados pelos humores ou fluidos corporais (sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra). No estado sadio, esses humores estariam equilibrados, sendo a doença uma conseqüência do rompimento do equilíbrio entre os mesmos.
Confiava no grande poder de recuperação do corpo e acreditava que o repouso, o ar fresco, a luz, a limpeza e uma dieta apropriada, tivessem grande influência sobre o estado de saúde do indivíduo. Em seus estudos ele pôde constatar a relação de muitas epidemias com fatores climáticos, raciais, alimentares e do meio ambiente, tendo deixado muitas descrições clínicas que possibilitam o diagnóstico de doenças como a malária, tuberculose, caxumba e pneumonia.
Hipócrates também se dedicou profundamente aos estudos sobre anatomia humana, deixando anotações descritivas bastante claras que se referiam não só a instrumentos de dissecação, como também, a procedimentos práticos.
Foi um dos primeiros a afirmar que as doenças podiam ser diferenciadas por uma combinação característica de sintomas, salientando igualmente a importância dos indícios individuais. Descreveu inúmeras doenças, e mais que isso, exerceu influência decisiva sobre a evolução da Medicina, dando nova dignidade à profissão de médico. É famoso o juramento de Hipócrates, o qual, adaptado às condições modernas e às regras atuais da prática médica, é repetido no ato da formatura em muitas escolas de Medicina do mundo:
“Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higia e Panacéia, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes”.
“Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal, nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Conservarei imaculada minha vida e minha arte. Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam. Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução, sobretudo, longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados”.
“Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça”.
Hipócrates morreu em Larissa, na Tessália, cerca de 357 a.C.
Nenhum comentário:
Postar um comentário