Ivã Vassilievitch nasceu a 25 de agosto de 1530, filho de Vasili III (1505-1533), o Grande Príncipe de Moscou, com sua segunda mulher, Eliena Glinskaya, e neto de Ivã III (1462-1505), considerado o verdadeiro fundador do Estado russo moderno. Seu pai empenhou-se na construção da monarquia absoluta – com a hegemonia do principado de Moscou -, e na superação do isolamento de seu país em relação ao resto da Europa, e quando morreu Ivã assumiu o trono (com apenas três anos), ficando a regência a cargo de sua mãe (que cinco anos depois foi envenenada).
Ivã passou o resto da infância e juventude sob a tutela dos boiardos (uma espécie de senado da grande nobreza russa, cujos integrantes eram escolhidos entre a mais alta linhagem) que dominavam o governo por influência direta no palácio e através de um conselho, a Duma. No entanto, os nobres dividiam-se em várias facções lutando entre si pelo poder e pelo controle do príncipe, que via nessas disputas constantes um prejuízo para o reino.
Sua oposição à nobreza intensificou-se por influência de Macário, bispo de Moscou e ardoroso defensor da monarquia absoluta por “direito divino”. A 16 de janeiro de 1547, aos dezesseis anos, o príncipe assumiu o poder como Ivan IV, adotando o título de czar, versão russa do caesarlatino. Em fevereiro casou-se com Anastásia Romanova Zakharina Yurieva, com quem teve três filhos: Dimitri (1552-1553), Ivã (1664-1581) e Feodor (1557-1598). Depois da morte de Anastásia, em 1560, casou-se mais seis vezes e, com a última esposa, Maria Feoderova Nagol, teve o quarto filho, Dimitri (1584-1591).
Logo após assumir o poder, Ivã IV empreendeu um programa de reforma da administração russa, formando, em 1549, uma assembléia com a qual iniciou no ano seguinte a reorganização interna do país, codificando as ordens anteriores a seu reinado, regulamentando a vida eclesiástica e mandando redigir o Código de Família, intervenções que afirmavam o poder de Moscou já centralizado nas mãos do czar. Em seguida começou a afastar os boiardos do governo, cercando-se de um conselho privado, o Rada, e. criando, ainda, o embrião de um exército regular que mais tarde seria importante instrumento no processo de centralização do poder.
Desde que subiu ao trono o czar dedicou-se às tarefas de rechaçar os tártaros para além do curso do Volga e encontrar uma saída marítima em direção ao Ocidente. Para alcançar o primeiro objetivo, as tropas russas conquistaram as regiões (Cazã, em 1552, e Astracã, em 1556), para onde afluíam os mercadores do Cáucaso, do Turquestão e da Pérsia, obtendo dessa forma o controle do rio Volga e a saída pelo mar Cáspio. A conquista da região da Sibéria (em 1582), alargou o domínio russo (que um século mais tarde chegaria ao Pacífico). Faltava, porém, o acesso ao Ocidente.
O czar lutou, então, para conseguir uma saída pelo mar Báltico. Em 1558 ele declarou guerra à Livônia (atualmente Estônia e Letônia), conquistando o país em dois anos. Esse conflito provocou a intervenção da Dinamarca, Lituânia e Polônia, e se arrastou até 1582, quando a Rússia foi obrigada a renunciar à Livônia. Em 1584, Ivã IV criou o porto de Arkamgelik, no mar Branco, para estimular o comércio com a Inglaterra. Com a intensificação da atividade comercial, surgiram em Moscou, Pskov e Cazã grandes comerciantes, alguns deles proprietários de cadeias de lojas, reservando-se ao czar os monopólios de bebidas fermentadas, caviar e tabaco.
Com Ivã IV o exército unificou-se. Para sustentar suas tropas conquistadoras o czar aumentou os impostos e tornou obrigatório o serviço militar para todos, inclusive os proprietários de terras (que, porém, poderiam supri-lo pagando uma taxa). A partir de 1554 a concessão de cartas de imunidade de impostos foi suspensa, ao mesmo tempo em que eram revogadas as concedidas anteriormente. Em 1580 foi a vez do clero perder sua imunidade fiscal. Essas medidas adotadas por Ivã IV colocaram a alta nobreza contra ele.
Em 1564, após a traição do Príncipe Kourbski – um dos mais importantes generais russos, que passou para o lado dos poloneses durante a Guerra da Livônia -, Ivã IV declarou que abdicaria. Ao mesmo tempo, conseguiu o apoio dos mercadores, artesãos e camponeses, que exigiram sua permanência no poder. Assim fortalecido, o czar iniciou uma luta feroz contra os nobres, tornando-se o primeiro soberano a conseguir quebrar a força dos boiardos.
A principal reforma de Ivã IV ocorreu em 1565, com a divisão das terras russas em duas partes: a Zemstchina, administrada pelos boiardos, e a Opritchina, sob a autoridade imediata do czar. No centro da Rússia os príncipes tiveram que abandonar suas terras, cuja incorporação à Opritchina efetivou-se dentro de um clima de terror que redundou na expulsão e extermínio dos boiardos (3.470 nobres e altos funcionários russos foram assassinados).
Ao conquistarem Novgorod as tropas russas fizeram desfilar na praça da cidade, durante cinco semanas, milhares de habitantes, que antes de serem mortos eram submetidos a torturas e suplícios refinados. A esse massacre seguiu-se a pilhagem de tudo o que pertencia aos moradores do lugar. Foi essa violenta repressão acontecida em Novgorod que valeu a Ivã IV o apelido de “O Terrível”.
Quando morreu, em 1584, a Rússia encontrava-se incontestavelmente sob uma monarquia absoluta. Esse regime era um pouco diferente, em certos pontos, do absolutismo europeu: o soberano russo possuía direitos mais amplos que os ocidentais, pois não havia leis fundamentais capazes de opor-se a seu poder arbitrário em matéria de sucessão do trono, de direitos individuais e mesmo de corpos do Estado. O czar tinha ainda sob seu controle os poderes legislativo, executivo e judiciário, jurisdições especiais, o critério de aplicação de impostos, o comando do exército e a nomeação de funcionários.
Ivã IV foi sucedido peli filho Feodor I. Com sua morte, em 1598, a Rússia viveu um período de grandes conturbações, que só terminou quando Miguel Romanov assumiu o trono, em 1615.
Fonte: Enciclopédia Mérito
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