Filho de um inspetor de águas e florestas, Jean de La Fontaine nasceu (13/07/1621) em Chateau-Thierry, pequena cidade da região administrativa de Picardia, norte da França.
Tendo completado o curso secundário em Reims, ele pensou, inicialmente, em seguir a carreira eclesiástica, mas desistiu dessa idéia ao descobrir que a atividade religiosa não combinava com o seu temperamento folgazão. Depois disso tentou o curso de Direito, mas dela também se desinteressou ao final de certo tempo. Quando inteirou 26 anos de idade (1647), assumiu o cargo de inspetor que seu pai ocupara até então, tendo este o convencido, na mesma época, a casar-se com Marie Hericart, uma jovem de 16 anos e bastante rica, com a qual teve, em 1653, um filho de nome Charles. A partir daí ele se entregou a uma intensa e agitada vida boêmia, o que acabou provocando, em 1658, a separação definitiva do casal.
Nesse mesmo ano La Fontaine mudou-se para Paris, onde passou a dedicar-se inteiramente à literatura. Mas antes disso ele já começara a escrever poemas, tendo completado seu primeiro trabalho mais extenso em 1654, uma adaptação de O Eunuco (de Terêncio, poeta cômico latino que morreu por volta de 159 a.C.), obra essa que dedicou a Nicolau Fouquet (1615-1680), administrador francês e seu protetor. Quando este perdeu o favor do soberano (1661), La Fontaine tornou-se protegido da duquesa de Bouillon e da duquesa d’Orleans, o que lhe permitiu publicar, em 1664, o primeiro volume dos Contos, baseados, na sua maioria, em Boccaccio e outras histórias antigas, às quais infundiu, porém, um tom pessoal.
A produção literária desse fabulista francês foi marcada pela crítica à sociedade de sua época através da utilização de recursos como a sutiliza, a ironia e a astúcia, expressadas em suas histórias de animais. Até 1671, quando se encontrava instalado no grão-ducado de Luxemburgo, publicou três séries de Contos, o primeiro de seus seis livros de fábulas, e Os Amores de Psiquê e Adonis, uma coleção de novelas românticas, tornando-se com isso um poeta de grande reputação.
Na introdução de sua primeira edição de Fábulas ele diz: “Sirvo-me de animais para instruir os homens. Procuro tornar o vício ridículo por não poder atacá-lo com braço de Hércules. Algumas vezes oponho, através de uma dupla imagem, o vício à virtude, a tolice ao bom senso… Uma moral nua provoca o tédio. O conto faz passar o preceito com ele; nessa espécie de fingimento, é preciso instruir e agradar, pois contar por contar me parece de pouca monta.”
Tendo perdido o dinheiro ganho anteriormente em virtude de vida boêmia que levava, viu-se forçado a retornar a Paris, onde pelo resto da vida dependeu da generosidade de seus protetores para continuar satisfazendo suas necessidades básicas. De 1672 a 1693 manteve contato com a alta sociedade francesa, tornando-se amigo íntimo de personalidades importantes entre os freqüentadores dos corredores palacianos.
Publicou uma nova série de Contos (1674), mais cinco livros de Fábulas (1678), e foi eleito para a Academia Francesa (1683), por ter feito do classicismo francês uma das mais belas expressões literárias da época. Essa nomeação foi suspensa por Louis XIV em virtude do escândalo que seu último livro Contos provocara, mas reconsiderada no ano seguinte. Em regojizo, La Fontaine apresentou aos amigos o primeiro de seus “Discursos a Madame de La Sablière”, obra onde fez uma profunda auto-análise.
Meses depois (1684), o fabulista publicou Ballade, e com a morte da protetora, Madame de la Sablière, em 1693, passou a ser protegido por Monsieur d’Hervart, maître des requêtes do Parlamento de Paris. Já bastante doente, e decidido a resgatar seu interesse pela religião, ele pensou em escrever uma obra sobre a fé, mas não chegou a fazê-lo. Morreu em 13 de abril de 1695, em Paris, deixando para as gerações futuras várias lições sobre a condição humana.
Jean de La Fontaine Inspirou-se nas literaturas clássica e oriental para escrever suas fábulas, pequenas histórias em que os animais representam os seres humanos e suas manias. Ainda que em grande parte baseados nos textos de Esopo, Fedro e Babrio, em lendas francesas ou orientais, os 240 apólogos de sua autoria são verdadeiras obras-primas que exerceram grande influência na cultura francesa, tanto que muitos de seus versos tornaram-se frases correntes no linguajar cotidiano. Uma delas – A Lebre e a Perdiz -, diz o seguinte:
Dos miseráveis nunca zombeis. Quem diz que sempre feliz sereis?
Mais de um exemplo do sábio Esopo, conspira em prova do nosso escopo.
O que em meus versos agora cito, foi noutros tempos por ele escrito.
Tinham num campo, lebre e perdiz, ao que parece, vida feliz.
Uns cães se achegam do lar tranqüilo; vai longe a lebre buscando asilo.
Perde-lhe o rastro toda a matilha, e nem Lindóia lhe dá na trilha.
De quente corpo a emanação, ao faro indica de um fino cão.
Filosofando, nelusco arteiro, conhece a lebre só pelo cheiro.
No encalço aperta, da fugitiva. Não quer que a presa lhe escape viva.
“A caça foi-se” (diz Carabí). Acreditai-me, nunca menti”.
Cansada, a lebre fugiu correndo, ao pé da furna caiu, morrendo.
Diz, por motejo, a companheira: “Pois não campavas de ser ligeira!
Teus pés velozes pra que prestaram, se dos molossos não te livraram?”
Enquanto zomba da desgraçada, dá-lhe a matilha rude assaltada.
Fia das asas o salvamento. Louca esperança! Vão pensamento!
Do açor as garras, misera, esquece! Mal ergue o vôo, nelas perece.
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