O político e estadista Péricles nasceu e morreu em Atenas (490-429 a.C.), tendo sido discípulo do filósofo Anaxágoras e tornando-se, durante sua vida pública, o maior orador ateniense do seu tempo. Ingressando na política em 462 a.C., através do partido democrático, foi o principal auxiliar de Efialtes, estadista e autor de várias leis, mas após o assassinato deste, o substituiu na direção do partido popular. A partir de então, e até a data da sua morte, manteve-se quase sempre à frente do governo ateniense, ocupando, durante a maior parte desse período, o cargo oficial de presidente do conselho de generais, embora, na verdade, fosse mais político que militar.
A atuação desenvolvida por Péricles na área diplomática visava a supremacia ateniense entre os estados gregos, e em conseqüência disso a Liga Delia, por volta de 461 a.C., deixou praticamente de ser uma associação livre de Estados e passou a ser dirigida por Atenas. Mas ao tentar assegurar a sua liderança também na Grécia Central e no mar, firmando, para isso, alianças com Argos e a Tessália, e adquirindo bases navais em Mégara, entrou em conflito com a Liga do Peloponeso e com os persas, o que perdurou de 459 a 449 a.C., quando a paz finalmente foi restabelecida, devolvendo a Péricles o domínio completo da política ateniense.
Mas a luta contra os beócios e os peloponésios, entre 447 e 445 a.C., demonstrou a inviabilidade da formação de um império ateniense no continente, e mais tarde, em 43l a.C., quando Esparta e Atenas entraram em choque e iniciaram a Guerra do Peloponeso, que praticamente envolveu todo o mundo grego, Péricles evitou o combate em campo aberto concentrando a população atrás dos muros da cidade. Por isso a primeira fase do conflito caracterizou-se pela competição entre as forças navais e terrestres: a esquadra ateniense arrasava as povoações costeiras do Peloponeso, enquanto o exército de Esparta invadia a Ática. Mas a grande concentração de pessoas em Atenas provocou em 430 a.C. uma terrível epidemia, provavelmente de malária, que durou três anos, dizimou um quarto das forças do exército, grande parte da população civil, e vitimou o próprio Péricles.
A guerra, porém, continuou sendo travada através dos anos, com vitórias ora de um, ora de outro lado, até que em 404 a.C., diante da capitulação de Atenas após três meses de cerco, e em virtude do esgotamento da sua provisão de alimentos, iniciou-se a hegemonia espartana sobre o mundo grego. Durante o período de domínio de Péricles, Atenas apareceu como o centro cultural e artístico do mundo grego. Ergueram-se na cidade os edifícios do Partenon, os Propileus, o templo de Atena Nique, o Odeão de Péricles, o Templo de Hefesto, ou Teseum, e e outros mais. A arte de Fídias e de outros grandes escultores contribuiu para manter a magnificência da época, enquanto o Teatro e a Filosofia atravessaram também um dos seus períodos áureos.
Os inimigos de Péricles, procurando atingi-lo, atacaram freqüentemente artistas e filósofos que ele protegia, mas o alvo principal desses ataques foi Atavia, por quem Péricles se divorciara de sua mulher e com a qual tivera dois filhos. Apesar das lutas e dificuldades que Atenas teve que atravessar, a posteridade guardou a lembrança do esplendor cultural da cidade, naquela época, que ficou sendo chamada o Século de Péricles, ou a Idade de Péricles.
O historiador Voltaire Schilling, natural de Porto Alegre, ao descrever em “História” a política centralista e imperialista de Péricles, diz que ela “teve seus desdobramento com a aprovação de um conjunto de decretos aprovados pela bulê, a assembléia popular, como o de Clearco, que constrangia as outras cidades-membros da Liga de Delos a aceitarem um sistema único de moedas (dracma), pesos e medidas, usados por Atenas; e o de Clínias, que instituiu a visita de inspetores e funcionários (epíscopoi), indicados pelo bulê ateniense, para verificarem a lisura dos dinheiros enviados para o tesouro de Atenas, e, conforme o caso, obrigar as cidades a aceitarem até uma phurarchía, uma guarnição militar composta por hoplitas atenienses (o hoplita era, na era clássica da Grécia antiga, um soldado de infantaria pesada. Seu nome provém do grande escudo levado para as batalhas: o hóplon).
Comprometiam-se elas, também, em prestar homenagens e dar oferendas às Grandes Panatenéias, a procissão gigantesca realizada todo os anos em Atenas para agradecer as deusas protetoras da cidade, fazendo com que a arrecadação de tributos enriquecesse Atenas em 1.000 ou 1.500 talentos anuais. Até a independência jurídica das cidades-membro foi afetada, com a exigência de que os conflitos surgidos entre elas deveriam ser resolvidos nos tribunais atenienses. Portanto, a tão almejada Eleutéria (liberdade perante o estrangeiro) obtida pelas cidades gregas na luta contra os persas, garantida pelo poder de Atenas, implicou na perda da autonomia (completa liberdade interna para obter recursos e viver segundo suas próprias leis) para a mesma Atenas”.
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